Por Miguel do Rosário, no blog O Cafezinho:
Uma matéria da Reuters, assinada por Jeb Blount, com base em
opiniões de especialistas em petróleo de Nova York, Chicago e São Paulo,
corrobora nossa argumentação, de que a compra da refinaria de Pasadena foi um
ótimo negócio.
Diz o repórter: "A refinaria de Pasadena pode ter sido
o melhor negócio com refinaria que a empresa já fez em três décadas".
Logo em seguida, o repórter explica que, na verdade, a
Petrobrás não pagou um preço excessivo.
A matéria não é “chapa branca”. É feita por um repórter
americano ou inglês com gana de falar mal da Petrobrás. Só que, após
entrevistar especialistas em pelo menos três praças comerciais importantes, ele
conclui que a Petrobrás pode ter mil outros problemas, mas não é Pasadena.
O foco da matéria é falar mal da refinaria Abreu Lima, que a
Petrobrás está construindo em Pernambuco, comparando seus custos com a de
outras refinarias no mundo. Só que o repórter mesmo admite que é difícil
comparar refinarias. Uma coisa é construir uma refinaria numa área já dotada de
logística e infra-estrutura. Outra é montar uma no meio do nada.
O repórter observa, além disso, que investigações sobre
Abreu Lima podem trazer mais prejuízos a Eduardo Campos, candidato de oposição,
do que a Dilma Rousseff.
Blount também observa que o preço de US$ 1,2 bilhão pago por
Pasadena superestima o valor da refinaria porque inclui quase US$ 600 milhões
em ativos não ligados à refinaria, como estoques, custos bancários e o braço
comercial da Astra.
O preço pago pela Petrobrás pela refinaria em si, segundo a
matéria, com base na avaliação de uma firma de Chicago, a Good and Margolin,
foi US$ 486 milhões.
Entretanto, mesmo considerando os US$ 1,2 bilhão, trata-se
de um valor que Pasadena poderá pagar em apenas cinco anos de operação, estima
o jornalista, em virtude do fantástico momento vivido pelas refinarias
norte-americanas, principalmente as situadas no Texas.
O novo boom de produção de petróleo de xisto nos EUA reduziu
os custos da matéria-prima, e ao mesmo tempo o preço dos derivados está alto,
por causa da recuperação econômica do país, de maneira que as margens de lucro
das refinarias nunca foram tão altas.
Espero que os deputados e senadores que cometem o equívoco
de não ler o Cafezinho, ou se lêem, de não acreditarem no que escrevo, apesar
de trazer sempre a fonte, ao menos leiam a Reuters.
*****
Trechos da matéria
ANÁLISE-Brasil investiga Pasadena, mas Refinaria do Nordeste
é problema maior
sexta-feira, 11 de abril de 2014 13:52 BRT Imprimir [-]
Texto [+]
Por Jeb Blount, Reuters Brasil
SÃO PAULO, 11 Abr (Reuters) – A compra de uma refinaria nos
Estados Unidos pela Petrobras por 1,2 bilhão de dólares virou tema de campanha
eleitoral, com a oposição afirmando que a estatal pagou 20 vezes mais que o
valor justo pela unidade no Texas e que Dilma Rousseff errou ao aprovar o
negócio quando era presidente do Conselho da empresa em 2006.
A investigação, porém, está provavelmente mirando na
refinaria errada: mesmo que a Petrobras tenha pago caro, a refinaria de
Pasadena, com capacidade para processar 100 mil barris por dia, pode ter sido o
melhor negócio em refino que a petroleira já fez em pelo menos três décadas.
(…) A Petrobras não quis comentar sobre Pasadena, pois está
conduzindo sua própria investigação, mas José Sergio Gabrielli, que era
presidente da Petrobras na época da aquisição, disse nesta semana que a compra
de Pasadena foi “um grande investimento”.
(…) Para efeito de comparação, a saudita Aramco e a francesa
Total construíram em Jubail (Arábia Saudita) uma refinaria para 400 mil barris
diários por 10 bilhões de dólares, ou 25 mil dólares por barril –menos de um
terço do custo da Rnest (refinaria do Nordeste, a Abreu Lima).
A chinesa Sinopec planeja concluir no ano que vem em
Guangdong uma refinaria para 200 mil barris diários ao preço de 9 bilhões de
dólares (45 mil dólares por barril), quase metade do custo da refinaria no
Nordeste.
Em Port Arthur (Texas), a Aramco e a anglo-holandesa Royal
Dutch Shell gastaram 10 bilhões de dólares por uma refinaria para 350 mil
barris/dia, o que também equivale a um terço do valor em Pernambuco.
Em nível mundial, refinarias novas para o processamento de
petróleo pesado estão custando “no máximo” 38 a 45 mil dólares por barril,
segundo um consultor de refino dos EUA que trabalhou em refinarias da América
do Norte, Oriente Médio, América Latina e Ásia.
(…) As refinarias na costa norte-americana do Golfo do
México, onde fica Pasadena, geralmente lucram cerca de 10 dólares por barril
refinado, segundo Margolin, da Cowan and Company, e Alen Good, analista de
ações de empresas de petróleo e refino na Morningstar, em Chicago.
(…) Com base no desembolso de 1,2 bilhão de dólares, a
Petrobras provavelmente conseguiria reaver o investimento de Pasadena em cinco
anos, segundo Good.
Isso pode se dever mais à sorte do que a um investimento
inteligente. Quando a compra foi aprovada, em 2006, a Petrobras estava
procurando formas de refinar seu petróleo nos EUA, pois havia a expectativa de
que esse país passaria a comprar mais petróleo bruto do Brasil.
Desde então, o boom do petróleo de xisto nos EUA aumentou a
demanda pelo refino de petróleo, tornando mais valiosas as refinarias na costa
do Golfo.
A cifra de 1,2 bilhão de dólares também pode representar um
valor superestimado em relação ao verdadeiro custo de Pasadena, já que o total
incluía 595 milhões de dólares em outros itens, como uma parte do estoque de
petróleo da empresa Astra já presente na unidade, além de multas e taxas
legais. Good e Margolin disseram que esses custos deveriam ser excluídos da
avaliação da refinaria.
Quando isso é feito, chega-se ao valor de 486 milhões de
dólares pela refinaria propriamente dita, ou 4.860 dólares por barril –valor
que pode ser recuperado em um ano de operação a plena capacidade. Ainda para
efeito de comparação, 18 vezes menos que a Rnest.
“Faz pouco sentido se comover com Pasadena quando você
considera o que a Petrobras está pagando mais pela capacidade de refino no
Brasil”, disse Good. “Com esses preços, faz mais sentido para a Petrobras
comprar refinarias nos EUA do que construí-las no Brasil.”
Gabrielli também questionou a cifra de 1,2 bilhão de
dólares, alegando que na verdade a refinaria texana custou menos de 500 milhões
de dólares.
GASOLINA POLÍTICA
Pedro Galdi, analista-chefe da SLW Corretora, de São Paulo,
disse que os investigadores deveriam se voltar muito mais para a Rnest do que
para Pasadena.
“Todas as refinarias da Petrobras são, de alguma forma, fora
da norma, e tenho poucas dúvidas de que, se uma CPI for realmente instalada,
isso vai aparecer muito claramente”, disse ele. “Houve uma séria má gestão.”
A refinaria Rnest surgiu de um acordo entre os
ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Hugo Chávez, da Venezuela.
A ideia inicial era que a unidade recebesse 60 por cento do
petróleo do Brasil e 40 por cento da Venezuela, numa demonstração de amizade
internacional e como forma de impulsionar a indústria regional.
Mas para lidar com petróleo venezuelano, que é mais pesado e
com poluentes tóxicos do que o produto brasileiro, a Petrobras precisava de
duas linhas de refino separadas, e por isso foi preciso acrescentar instalações
adicionais.
Funcionários do governo já alertaram aos críticos de
Pasadena que uma investigação mais ampla poderá respingar sobre eles próprios.
Pernambuco, afinal, é um Estado que já foi governado por Eduardo Campos,
ex-aliado e hoje rival eleitoral de Dilma. (…)Por Miguel do Rosário, no blog O
Cafezinho:
Uma matéria da Reuters, assinada por Jeb Blount, com base em
opiniões de especialistas em petróleo de Nova York, Chicago e São Paulo,
corrobora nossa argumentação, de que a compra da refinaria de Pasadena foi um
ótimo negócio.
Diz o repórter: "A refinaria de Pasadena pode ter sido
o melhor negócio com refinaria que a empresa já fez em três décadas".
Logo em seguida, o repórter explica que, na verdade, a
Petrobrás não pagou um preço excessivo.
A matéria não é “chapa branca”. É feita por um repórter
americano ou inglês com gana de falar mal da Petrobrás. Só que, após
entrevistar especialistas em pelo menos três praças comerciais importantes, ele
conclui que a Petrobrás pode ter mil outros problemas, mas não é Pasadena.
O foco da matéria é falar mal da refinaria Abreu Lima, que a
Petrobrás está construindo em Pernambuco, comparando seus custos com a de
outras refinarias no mundo. Só que o repórter mesmo admite que é difícil
comparar refinarias. Uma coisa é construir uma refinaria numa área já dotada de
logística e infra-estrutura. Outra é montar uma no meio do nada.
O repórter observa, além disso, que investigações sobre
Abreu Lima podem trazer mais prejuízos a Eduardo Campos, candidato de oposição,
do que a Dilma Rousseff.
Blount também observa que o preço de US$ 1,2 bilhão pago por
Pasadena superestima o valor da refinaria porque inclui quase US$ 600 milhões
em ativos não ligados à refinaria, como estoques, custos bancários e o braço
comercial da Astra.
O preço pago pela Petrobrás pela refinaria em si, segundo a
matéria, com base na avaliação de uma firma de Chicago, a Good and Margolin,
foi US$ 486 milhões.
Entretanto, mesmo considerando os US$ 1,2 bilhão, trata-se
de um valor que Pasadena poderá pagar em apenas cinco anos de operação, estima
o jornalista, em virtude do fantástico momento vivido pelas refinarias
norte-americanas, principalmente as situadas no Texas.
O novo boom de produção de petróleo de xisto nos EUA reduziu
os custos da matéria-prima, e ao mesmo tempo o preço dos derivados está alto, por
causa da recuperação econômica do país, de maneira que as margens de lucro das
refinarias nunca foram tão altas.
Espero que os deputados e senadores que cometem o equívoco
de não ler o Cafezinho, ou se lêem, de não acreditarem no que escrevo, apesar
de trazer sempre a fonte, ao menos leiam a Reuters.
*****
Trechos da matéria
ANÁLISE-Brasil investiga Pasadena, mas Refinaria do Nordeste
é problema maior
sexta-feira, 11 de abril de 2014 13:52 BRT Imprimir [-]
Texto [+]
Por Jeb Blount, Reuters Brasil
SÃO PAULO, 11 Abr (Reuters) – A compra de uma refinaria nos
Estados Unidos pela Petrobras por 1,2 bilhão de dólares virou tema de campanha
eleitoral, com a oposição afirmando que a estatal pagou 20 vezes mais que o
valor justo pela unidade no Texas e que Dilma Rousseff errou ao aprovar o
negócio quando era presidente do Conselho da empresa em 2006.
A investigação, porém, está provavelmente mirando na
refinaria errada: mesmo que a Petrobras tenha pago caro, a refinaria de
Pasadena, com capacidade para processar 100 mil barris por dia, pode ter sido o
melhor negócio em refino que a petroleira já fez em pelo menos três décadas.
(…) A Petrobras não quis comentar sobre Pasadena, pois está
conduzindo sua própria investigação, mas José Sergio Gabrielli, que era presidente
da Petrobras na época da aquisição, disse nesta semana que a compra de Pasadena
foi “um grande investimento”.
(…) Para efeito de comparação, a saudita Aramco e a francesa
Total construíram em Jubail (Arábia Saudita) uma refinaria para 400 mil barris
diários por 10 bilhões de dólares, ou 25 mil dólares por barril –menos de um
terço do custo da Rnest (refinaria do Nordeste, a Abreu Lima).
A chinesa Sinopec planeja concluir no ano que vem em
Guangdong uma refinaria para 200 mil barris diários ao preço de 9 bilhões de
dólares (45 mil dólares por barril), quase metade do custo da refinaria no
Nordeste.
Em Port Arthur (Texas), a Aramco e a anglo-holandesa Royal
Dutch Shell gastaram 10 bilhões de dólares por uma refinaria para 350 mil
barris/dia, o que também equivale a um terço do valor em Pernambuco.
Em nível mundial, refinarias novas para o processamento de
petróleo pesado estão custando “no máximo” 38 a 45 mil dólares por barril,
segundo um consultor de refino dos EUA que trabalhou em refinarias da América
do Norte, Oriente Médio, América Latina e Ásia.
(…) As refinarias na costa norte-americana do Golfo do
México, onde fica Pasadena, geralmente lucram cerca de 10 dólares por barril
refinado, segundo Margolin, da Cowan and Company, e Alen Good, analista de
ações de empresas de petróleo e refino na Morningstar, em Chicago.
(…) Com base no desembolso de 1,2 bilhão de dólares, a
Petrobras provavelmente conseguiria reaver o investimento de Pasadena em cinco
anos, segundo Good.
Isso pode se dever mais à sorte do que a um investimento
inteligente. Quando a compra foi aprovada, em 2006, a Petrobras estava
procurando formas de refinar seu petróleo nos EUA, pois havia a expectativa de
que esse país passaria a comprar mais petróleo bruto do Brasil.
Desde então, o boom do petróleo de xisto nos EUA aumentou a
demanda pelo refino de petróleo, tornando mais valiosas as refinarias na costa
do Golfo.
A cifra de 1,2 bilhão de dólares também pode representar um
valor superestimado em relação ao verdadeiro custo de Pasadena, já que o total
incluía 595 milhões de dólares em outros itens, como uma parte do estoque de
petróleo da empresa Astra já presente na unidade, além de multas e taxas
legais. Good e Margolin disseram que esses custos deveriam ser excluídos da avaliação
da refinaria.
Quando isso é feito, chega-se ao valor de 486 milhões de
dólares pela refinaria propriamente dita, ou 4.860 dólares por barril –valor
que pode ser recuperado em um ano de operação a plena capacidade. Ainda para
efeito de comparação, 18 vezes menos que a Rnest.
“Faz pouco sentido se comover com Pasadena quando você
considera o que a Petrobras está pagando mais pela capacidade de refino no
Brasil”, disse Good. “Com esses preços, faz mais sentido para a Petrobras
comprar refinarias nos EUA do que construí-las no Brasil.”
Gabrielli também questionou a cifra de 1,2 bilhão de
dólares, alegando que na verdade a refinaria texana custou menos de 500 milhões
de dólares.
GASOLINA POLÍTICA
Pedro Galdi, analista-chefe da SLW Corretora, de São Paulo,
disse que os investigadores deveriam se voltar muito mais para a Rnest do que
para Pasadena.
“Todas as refinarias da Petrobras são, de alguma forma, fora
da norma, e tenho poucas dúvidas de que, se uma CPI for realmente instalada,
isso vai aparecer muito claramente”, disse ele. “Houve uma séria má gestão.”
A refinaria Rnest surgiu de um acordo entre os
ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Hugo Chávez, da Venezuela.
A ideia inicial era que a unidade recebesse 60 por cento do
petróleo do Brasil e 40 por cento da Venezuela, numa demonstração de amizade
internacional e como forma de impulsionar a indústria regional.
Mas para lidar com petróleo venezuelano, que é mais pesado e
com poluentes tóxicos do que o produto brasileiro, a Petrobras precisava de
duas linhas de refino separadas, e por isso foi preciso acrescentar instalações
adicionais.
Funcionários do governo já alertaram aos críticos de
Pasadena que uma investigação mais ampla poderá respingar sobre eles próprios.
Pernambuco, afinal, é um Estado que já foi governado por Eduardo Campos,
ex-aliado e hoje rival eleitoral de Dilma. (…)
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