Por Marcelo Hailer, na revista Fórum:
O PSB (Partido Socialista Brasileiro) deve oficializar o
nome de Marina Silva como candidata à presidência da República nesta
quarta-feira (20). Porém, seu nome já é fato e os setores mais conservadores da
sociedade brasileira, que pregam o discurso do voto anti-PT, vitaminam a
candidatura da ex-verde pois, como mostra o Datafolha de hoje, é a única com
força de levar o embate eleitoral para o segundo turno. Porém, Silva é mais
incógnita do que certezas.
A candidata dos insatisfeitos?
Além de ter o seu nome ligado às questões ambientais, outro
discurso que se articula em torno da figura de Marina Silva é o de que ela
seria a representação dos “insatisfeitos”, neste caso, dos milhões que foram às
ruas do Brasil exigir melhorias nos serviços públicos brasileiros. Se tratarmos
a candidata no que diz respeito a um Estado mais presente, esta tese está
certa, porém, muitos outros temas estiveram presentes, tais como
desmilitarização da polícia, descriminalização e regulamentação do aborto,
legalização e regulamentação da venda e consumo da maconha, democratização dos
meios de comunicação, transporte público de qualidade com acesso gratuito,
criminalização da homofobia e, por fim, a efetivação do Estado Laico.
E não devemos esquecer que, antes da Marina Silva pessoa,
existe uma legenda chamada PSB que fez uma série de alianças ao redor do Brasil
que inviabiliza a possibilidade de qualquer debate citado acima. Pouco antes de
sua morte, Eduardo Campos aventou a pauta da tarifa zero nacional aos
estudantes, será que este ponto vai continuar na pauta? Em relação a temas como
aborto e drogas, Marina não precisa se preocupar, pois tanto Dilma Rousseff
(PT) quanto Aécio Neves (PSDB) já deram declarações de que não vão alterar a
atual legislação.
Mas se até aqui os principais candidatos à presidência da
República, com algumas diferentes nuances em política externa, pareciam fazer o
mesmo discurso, com a entrada de Marina Silva no embate eleitoral as questões
sociais e principalmente ligadas ao Estado Laico e sexualidade podem voltar à
tona, até mesmo para revelar o campo em que se encontra a candidata do PSB, que
em termos religiosos é tão praticante e conservadora quanto o Pastor Everaldo
(PSC).
A Bíblia ou a Constituição?
Portanto, Dilma e Aécio devem questionar Marina Silva: vai
legislar baseada nos valores do livro “sagrado” ou segundo a Constituição? Se
projetos de lei que visem à regulamentação do casamento igualitário chegarem à
sua mesa, caso seja eleita, o que vai contar: os valores religiosos em torno da
relação entre iguais ou o que prega a Constituição, de que todos são iguais
perante a lei? Vale lembrar que a relação de Marina Silva não é nada amistosa
com o movimento LGBT, visto que em maio de 2013 ela saiu em defesa do deputado
Federal Marco Feliciano (PSC-SP), que à época defendia a “cura gay” e presidia
a Comissão de Direitos Humanos (CDH) e declarou que o parlamentar era
“perseguido por ser evangélico”. Marina Silva é a favor da “cura gay”?
Ainda nas questões LGBT, Marina Silva já declarou inúmeras
vezes que o casamento é “um ato sagrado entre um homem e uma mulher”.
Presidenta da República, ela sancionaria um PL que derrubasse a norma do
Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que permite as uniões civis igualitárias
sem necessidade de união estável? Ou seja, nesta seara, Silva é puro
obscurantismo… E vejam, até o candidato tucano é mais progressista e já
declarou que o casamento igualitário é um tema inserido na sociedade e que é a
favor, e o governo Rousseff implantou uma série de políticas públicas a partir
da Coordenação Nacional LGBT.
Por fim, temos como questão o Estado Laico. Até este
momento, as candidaturas do PT e do PSDB vinham flertando com os alguns setores
evangélicos que agora, na falta de um, terão dois candidatos que possam
representá-los. Posto assim, parte dos votos religiosos têm tudo para se
dividir entre Marina Silva e Pastor Everaldo. Eis a grande chance de Dilma
Rousseff e Aécio Neves se pautarem na questão do Estado Laico e darem um passo
à frente neste tema, principal empecilho ideológico na figura de Marina Silva.
Como se vê, nem de longe Marina Silva representa uma
terceira via ou a “voz dos insatisfeitos”, muito pelo contrário, a candidata do
PSB transita fortemente no espectro político da direita religiosa. Porém, a
imprensa tradicional faz questão de alimentar o voto despolitizado e retratar a
candidata como um “gás novo” na disputa presidencial, sem se dar conta de que,
numa eventual vitória de Silva em seu discurso de posse, ao lado da
Constituição teremos outro livro deitado. Resta saber com qual cartilha um
eventual governo Marina Silva será pautado: a Bíblia ou a Constituição.
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