Por Luis Nassif, em seu blog:
Existe um jornalismo fast-food que se limita a seguir todo
movimento de manada, a apresentar visões extraordinariamente simplistas da
realidade ou a exercitar a opinião (leiga) sobre assuntos da maior
profundidade.
Em todos esses casos, valem-se do expediente da
"autoridade" - no caso, a possibilidade de sua opinião, por mais
primária que seja, saia publicada em jornais de alta circulação ou em jornais
de TV.
Esse movimento teve início no pós-redemocratização e está
estreitamente ligado ao florescimento dos âncoras de rádio de TV e seus bordões
de fácil alcance - tipo "isto é uma vergonha".
Sempre valeu para rádio e TV, mas não tinha espaço entre
formadores de opinião - categoria na qual se enquadravam os jornais, antes da
deblacle dos últimos anos.
Um dos mais fáceis recursos de marketing consiste em juntar
um conjunto de temas negativos para concluir que tudo está negativo - ou o
inverso.
Por exemplo, junto a tortura a quatro réus acusados de um
crime aqui, com um ato de vandalismo ali, algumas tragédias sanitárias acolá e
passo ao leitor a percepção de que aqueles fragmentos de realidade se
constituem no todo.
Ora, países, estados, cidades, grandes empresas, são
organizações complexas, das quais se pode extrair centenas de exemplos
positivos e negativos.
Poderia falar do evento da SBPC em Recife, da euforia dos
jovens com a redescoberta da política, da ascensão da nova música brasileira,
dos resultados da indústria naval, do trabalho excepcional de ONGs e OSCIPs em
parceria com o setor público, da universidade do MST, da recuperação pontual
das bolsas e dizer que o país é uma maravilha.
O tal país terminal ou pujante não é o país real: é aquele
que existe na cobertura da mídia, na cabeça do jornalista, no cérebro de quem
não consegue enxergar além do retrato em branco e preto do momento.
É o marketing da notícia, uma opção que os jornais
escolheram para se tornarem irrelevantes junto à opinião pública que conta.
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