Vitória política de mestre. Econômica, poderia ser uns
centímetros a mais
Saiu no Tijolaço:
Libra: vitória política completa. Econômica, um pouco menos
que o possível
Politicamente, a vitória obtida pelo Brasil no leilão não
poderia ter sido maior.
A presença minoritária da Shell no consórcio da Petrobras
jogou por terra todo o blá-blá-blá de que as regras eram inviáveis, que as
empresas comerciais temiam a ingerência do governo, que a partilha era um
modelo fadado ao fracasso.
A outra empresa privada, a Total, é muito ligada ao governo
francês, que tem participação acionária e já se esperava que pudesse entrar no
consórcio por razões estratégicas de abastecimento. Mas não a Shell.
Deixou de queixo caído todos os “mercadistas” que não
entenderam que as americanas e inglesas caíram fora por conta da espionagem e a
“dupla cidadania” da Shell – também holandesa – a deixou menos exposta ao
escândalo.
Nem a Miriam Leitão tem o que falar sobre isso, agora.
Do ponto de vista do resultado econômico do leilão, todos
viram que o representante do consóricio esperou até os últimos segundos para
entregar aquele envelope.
Claro, porque havia outro, com um lance maior, para o caso de haver outros na disputa.
Se não há, vai a proposta mínima, até porque a Petrobras não
tem como forçar seu aumento se não há licitantes a vencer.
Poderíamos ter alcançado os 80% de participação estatal, mas
acabamos ficando, como mostrou o post anterior, em 75,73%.
Duas razões nos impediram,
A primeira, o alto bônus de assinatura, que criou
dificuldades de desembolso imediato para a Petrobras. E isso, com todo apoio
que este blog deu ao leilão, jamais deixou de ser objeto de crítica, sobretuso
porque derivou das necessidades imediatas de caixa do Governo para alcançar a
meta de superávit primário, aquele do maldito tripé que a direita e, agora, Marina
Silva, endeusam.
A segunda, a pressão política.
Não a das poucas dezenas de manifestantes ali fora do leilão que, tirando meia-dúzia de
provocadores black blocs – são gente nacionalista.
A pressão vem de outros black blocs, os mascarados do
mercado, que vêm vandalizando as ações da Petrobras faz tempo, sob a música de
desastre que a mídia incessantemente toca para a empresa com mais reservas
novas a explorar neste momento no mundo.
Nada isso, entretanto, diminui meu otimismo com a exploração
de Libra. Até porque, fora da parcela de lucro embolsada pela União, pela
Petrobras e pelas outras empresas do consórcio, existe uma parcela imensa, de
algo perto de US$ 300 bilhões, que vai ser apropriada pelo país na forma de
salários, compras de insumos e de encomendas com o máximo possível de conteúdo
nacional, como é tradição da Petrobras, e que, por isso, vai irrigar nossa
economia com impostos e salários.
Nem falo, também, no horizonte de cooperação que ela abre
com a China, que lentamente vai assumindo o seu papel de parceiro estratégico
do nosso país.
O Brasil está de parabéns. Provamos que é possível juntar a
defesa dos interesses nacionais, o controle de nossas matérias primas
estratégicas, a eficiência tecnológica e operacional com a necessária captação
de recursos para o desenvolvimento de nossa indústria petroleira.
O petróleo teve três fases neste país.
A primeira, a de acreditar que ele existia e encontrá-lo.
A segunda, a de sermos capazes tecnologicamente de
extraí-lo, nas difíceis condições onde ele surgiu.
A terceira, agora, a de sermos capazes de mobilizar, sem
perder a soberania sobre ele, os recursos necessários a realizar essa imensa
riqueza potencial.
Demos um passo gigantesco e seria tolice deixar de
reconhecê-lo por acharmos que se poderia ir alguns centímetros além.
E, depois dos retrocessos que a década neoliberal nos
obrigou, estamos mais longe do que qualquer um de nós poderia pensar naqueles
anos amargos.
Esta caminhada jamais foi fácil, jamais foi simples.
Mas não há de parar nunca.
Por: Fernando Brito
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