O Conversa Afiada reproduz entrevista de Fernando Morais ao
Blog de José Dirceu, publicada no Blog do Miro:
Fernando Morais e o erro do STF
Do blog de José Dirceu:
Acompanhem a entrevista concedida ao blog pelo escritor
Fernando Morais, que condena a superexposição na forma como as prisões e
deslocamentos dos presos foram conduzidos. Sobre o julgamento, Morais é
taxativo: “Estamos diante de um tremendo erro judiciário”.
Fernando, qual sua análise do julgamento?
Sempre fui muito pessimista em relação ao desfecho desse
processo. De todas as pessoas que estavam próximas do Zé Dirceu, do Genoino, e
de outros, eu sempre fui dos mais céticos, não acreditava que isso terminaria
de outra maneira. O desenrolar do processo indicava isso.
Agora, o que mais me surpreendeu nisso tudo é essa
superexposição a que estão submetidos os presos. Da forma como conduzem as
prisões, os deslocamentos, parece haver a nítida intenção de expô-los à
execração pública. Da forma como conduzem essas ações nada mais é do impor-lhes
uma pena adicional a que eles não estavam condenados.
No auge da perseguição que sofreu de Joseph Stalin na União
Soviética, Trotsky disse que “a pior das agressões a uma pessoa, a um cidadão,
é expor-lhe a humilhações, porque elas desarmam o indivíduo e o agridem no
essencial de sua dignidade”.
E mesmo com a saúde frágil do Genoino…
Sem falar no Genoino, de quem não quero, não posso e não
consigo falar, ainda… Em qualquer parte do mundo um cardiopata como ele tem
direito a tratamento, assistência médica completa, a uma internação hospitalar,
a uma alimentação condizente com o seu estado. E eu li uma entrevista de uma
das filhas dele dizendo que ele está comendo sanduíches, porque nem deixam a
família levar-lhe comida.
Zé Dirceu e os demais desse processo são vítimas de um
aberrante, um tremendo erro judiciário. É sempre arriscado fazer avaliações
políticas no calor dos acontecimentos, embora esse julgamento, desde o início
do processo, seja eminentemente político. Mas, na hora que baixar a poeira,
quando os ânimos serenarem, o Brasil descobrirá que nós estamos diante de um
tremendo erro judiciário.
Você atuou no documentário do Raimundo Pereira “AP470 – o
julgamento medieval”.
Sim, eu ajudei o jornalista Raimundo Pereira na pesquisa e
na elaboração do documentário “AP 470 – o julgamento medieval” (clique aqui e
confira o vídeo). Ali, com a obsessão do Raimundo pelo detalhe, pela minúcia,
pela precisão, o erro judiciário fica absolutamente claro. Ele prova e comprova
a exaustão que o dinheiro público dessa história, os R$ 74 milhões da Visanet,
que constituem o maior montante que, dizem, foi usado no mensalão, na verdade
foram empregados no pagamento de publicidade e patrocínios normais do cartão
que se chamava Visa e hoje é Cielo.
No caso, a maior parte foi em pagamento de publicidade e de
patrocínio às meninas do vôlei, ao tenista Guga… E boa parte desse dinheiro foi
para premiar gerentes do Banco do Brasil, em bônus e prêmios porque como
qualquer outro, o Banco do Brasil estabelecia cotas de venda de cartões para
seus gerentes e os bonificava, os premiava quando eles as atingiam.
A disparidade das penas também é outro dado que chama
atenção. Por exemplo, Ramon Hollerbach, ex-sócio do Marcos Valério, foi
condenado a 29 anos, 7 meses e 20 dias de prisão. O goleiro Bruno, do Flamengo,
que mandou matar a namorada, esquartejá-la e distribuir seus restos aos
cachorros, foi condenado a 22 anos de prisão. Isso dá bem a medida do que é a
justiça no Brasil.
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