Como beneficiária do fortalecimento do mercado interno,
emissora dos Marinho deveria apoiar política estabelecida entre centrais
sindicais e governo
por Helena Sthephanowitz
Em editorial no domingo (11), o jornal O Globo defendeu o
fim do acordo entre as centrais sindicais e o governo federal para aumentos
reais do salário mínimo – como se o ciclo de recuperação do poder de compra já
tivesse alcançado seu fim, embora todos saibam que o caminho seja longo para se
chegar lá.
A argumentação usada foi o impacto do aumento do salário
mínimo no gasto público, sobretudo dos custos da previdência social, além de,
segundo o jornalão, contribuir para indexar a inflação, o que é controverso.
Afinal, por que o jornalão não pede o fim dos reajustes de tarifas de serviços
públicos que foram privatizados no passado, como a telefonia?
Se a preocupação é com o gasto público, há uma sugestão
melhor a seguir. A União terá uma despesa estimada de R$ 839 milhões em 2014,
pela veiculação do horário eleitoral gratuito na TV (gratuito para os
partidos). A maior fatia deste bolo é da Rede Globo de Televisão.
A família Marinho, dona da emissora – e que segundo a
revista Forbes acumula fortuna superior a R$ 50 bilhões – deveria saber que o
efeito sobre a economia de uma nação quando um muito rico fica ainda mais rico
é menor do que muitos pobres aumentarem sua renda.
Fácil entender. Quem já é muito rico não irá almoçar duas
vezes, nem vestir duas camisas ao mesmo tempo. Os milhões de brasileiros que
eram muito pobres no Brasil – e nem tinham condições de fazer ao menos três
refeições por dia, e passaram a fazê-lo – movimentam muita mais a atividade
econômica, fazendo o mercado interno crescer.
O mesmo acontece com a política de aumento real do salário
mínimo. São milhões de brasileiros com mais acesso a alimentos, roupas,
material de higiene e limpeza, material de construção, móveis, telefones e
eletrodomésticos para a casa.
E esse aumento do consumo das classes C, D e E é responsável
pelo próprio aumento do faturamento das Organizações Globo. Mesmo com a TV
perdendo mais 22% de audiência, o faturamento saltou de 3,9 bilhões em 2012
para R$ 12,6 bilhões em 2011. Se não por virtude, pelo menos por esperteza
deveriam ser os primeiros a apoiar as políticas de geração de renda para os
mais pobres, pois é por aí que cresce o mercado interno, onde a Rede Globo
atua.
Voltando ao horário eleitoral, não existe mais motivo para
os cofres públicos fazerem esse ressarcimento milionário para empresas que são
concessões públicas e altamente lucrativas. O lucro bruto das Organizações
Globo em 2012 foi R$ 5,7 bilhões e o lucro líquido, R$ 2,9 bilhões. As
concessões dos canais de TV nunca foram onerosas no Brasil, ou seja, os donos
não tiveram que disputar as frequências de radiofusão que exploram em leilão,
como acontece com as frequências de telefonia celular.
Se ganharam esta outorga de "presente", é bastante
razoável dar uma contrapartida para a sociedade, tal como veiculando a campanha
eleitoral na TV sem ônus para os cofres públicos. Essa desoneração só seria
justificável pontualmente, em caso de empresas enfrentarem momentos de
dificuldades financeiras, caso justifique preservar empregos e diversidade
cultural e informativa – o que nem de longe é o caso da empresa dos Marinho.
Se o bom senso recomenda essa mudança na lei que rege o
pagamento pelo horário eleitoral, há um sério entrave para isto ser aprovado no
Congresso Nacional, uma vez que grande parte dos parlamentares são donos de TV,
muitos inclusive afiliados da Globo. Podemos dizer que são a "bancada da
Globo". Estão na estranha situação de serem os únicos que ganham para
fazer campanha. Como candidatos usufruem do horário eleitoral gratuito. Como
empresários recebem pela veiculação deste horário. Vai ser difícil legislarem
contra o próprio bolso.
A chance de o cidadão que recebe ou tem alguém na família
recebendo o salário mínimo "dar o troco" à proposta indecente do
editorial do jornalão é nas urnas, dando um não à "bancada da Globo",
para que leis acabando com regalias de barões da mídia e coronéis eletrônicos
possam ser aprovadas.
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