Por Conceição Oliveira, no blog Maria Frô:
Vivemos em um país onde Sheherazades podem em canal de
concessão pública expor livremente seus preconceitos, incitar a violência
contra a juventude negra, contra populações vulneráveis, rasgando o código de
ética jornalística, o ECA e a Constituição Brasileira. Mas se um jornalista
sério expõe as entranhas do maior império da comunicação do país, ele pode ser
processado.
É o que está acontecendo pela segunda vez com Marco Aurélio
Mello, jornalista premiado, com décadas de carreira na televisão brasileira.
O blogueiro DoLaDoDeLá, Marco Aurelio Mello, ao deixar de
blogar, deixa de ser uma voz dissonante num país onde menos de uma dezena de
famílias decidem o que devemos saber, como devemos saber, quando devemos saber
e se devemos saber.
Hoje pela manhã ele manda-me o mail desesperador que
reproduzo abaixo. A situação kafkaniana que se encontra nos faz pensar o quão
distante estamos da liberdade de expressão e da democratização das comunicações
no Brasil.
Já que o Congresso omisso e acovardado não regulamenta os
artigos constitucionais relacionados à comunicação (ao contrário, há partido
que quer acabar com a única vitória popular relativa à comunicação na
Constituição de 1988 que é a classificação indicativa, como o PTB que entrou
com uma ação de inconstitucionalidade contra esse direito de proteger nossas
crianças de programas inadequados), já que os governos (em todas as instâncias)
igualmente covardes alimentam com gorda publicidade este monopólio midiático,
que a blogosfera brasileira e seus leitores sejam solidários ao Marco e não
permitam que mais uma vez os barões da velha mídia calem mais uma voz.
Contribuam, divulguem, compartilhem.
*****
Cara Maria Frô,
Faço um apelo por sua preciosa ajuda.
beijos,
Marco.
***
Parece até que eu estava adivinhando.
Mal encerrei as atividades no blog na semana passada, e
acabo de receber, na última terça-feira, mais uma ação judicial de Ali Kamel
pedindo nova indenização.
Curiosamente, a ação vem logo após um momento de consagração
profissional. No fim do ano passado recebi, ao lado do jornalista Gustavo
Costa, um dos mais importantes prêmios de jornalismo do país, o Prêmio
Petrobras.
Escolhemos um assunto árido, pouco retratado na grande
imprensa: os refugiados.
Não tenho culpa de ter escolhido ser jornalista, enquanto
Ali preferiu trilhar a carreira de chefe.
Cada um tem o talento que Deus deu.
No entanto, fico chateado, porque em março faz sete anos que
sai da TV Globo e até hoje tenho que responder por insinuações caluniosas que
não fazem parte da minha personalidade, nem do meu caráter. Aliás, todos que já
trabalharam diretamente comigo podem atestar o quanto priorizo a relação, em
detrimento muitas vezes de exigências descabidas impostas por chefes.
Na verdade, o que parece, ao me processar de novo, é que Ali
quer me sufocar financeiramente. Na primeira ação que moveu contra mim, cuja
sentença em primeira instância foi dada em março do ano passado, fui condenado
a pagar R$ 15 mil reais de indenização. Apesar de ter gente cantando vitória
antes da hora, recorremos e é fato que esta ação só pode ser considerada ganha
depois que o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro apreciar a apelação. E mais:
enquanto houver recurso, recorreremos.
Na nova ação (processo número 0285512-08.2013.8.19.0001, da
47ª Vara Cível do Rio de Janeiro), ele agora se diz atingido por um desabafo
que escrevi em julho do ano passado
(http://maureliomello.blogspot.com.br/2013/07/um-desabafo.html). Dentre outras
peripécias, ele afirma que nos seis anos que fui subordinado a ele nunca
critiquei o jornalismo da Globo. Mentira. Todas as críticas que fiz, e não
foram poucas, fiz internamente. Diz, também, que o acusei, basicamente, de ser
um mau profissional, por ter desqualificado o modo de fazer jornalismo da
emissora. Reafirmo e provarei isto na ação judicial.
Só há um problema: desta vez, não tenho como me defender.
Vivo do meu salário da TV Record e, ao contrário do que Ali insinua na ação,
não misturo as coisas. Por isso, não acho justo pedir a eles que me defendam.
Por isso, a única coisa que me resta fazer é um apelo aos
frequentadores do blog e aos seguidores do Facebook e do Twitter. Quem sabe se
contribuindo com uma quantia qualquer, mesmo que sejam poucos reais, não
consigo juntar o bastante pagar as despesas. Como você bem sabe, Ali,
movimentar os martelos dos tribunais custa caro, muito caro. Só para me
defender de você na primeira ação já gastei o equivalente a um automóvel zero
quilômetro. E o “taxímetro” continua correndo.
Espero que, desta vez, já que é mais do mesmo, não tenha
custos tão altos.
Para os que quiserem me ajudar, aí vão os dados:
MARCO AURELIO C DE MELLO
BRADESCO
agência: 1363-3
conta corrente 0120558-7
CPF 07529840800
Faço uma última observação. Os valores apurados serão gastos
exclusivamente com as custas dos processos em curso, todos os dados serão
apresentados e, se necessário, auditados. Também faço questão de recolher todos
os impostos devidos, sem sonegação, porque acredito que só assim construiremos
um país melhor, mais justo e menos desigual.
Prefiro ser respeitado, a ser temido e espero que você
encontre paz no seu coração, Ali Kamel.
Honestamente, me esqueça, porque ao contrário do que alude, não
perco meu precioso tempo procurando atacá-lo obsessivamente, como quer fazer
crer a seus subalternos, amigos, parentes e, agora, à Justiça.
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