"Se eu tivesse ido a um psiquiatra há alguns anos,
provavelmente não teria feito o que fiz", declarou Armin Meiwes, o alemão
que ficou conhecido como "O canibal de Rotenburg".
Em 2001, Meiwes era até então um inofensivo técnico de
computação de 42 anos. Descobriu um site na internet para pessoas que se
ofereciam como alimento, o que abriu as portas do inferno para sua loucura.
Combinou um encontro e, atendendo ao pedido da vítima, a matou e comeu o corpo
ao longo de dias. Foi pego pela polícia quando buscou no site uma nova vítima
para abastecer a geladeira e foi denunciado.
Essa história de horror me veio à lembrança quando vi
relatos de participantes da tal "marcha da família com Deus pela
liberdade", tentando repetir a campanha pró-golpe de 64.
Se aquela marcha de 50 anos atrás ainda tinha um contexto de
guerra fria, praticada até pelo Vaticano na época, na qual se engajavam governadores
e cardeais, a marcha do último sábado sequer teve estes ingredientes. Por isso
foram tão poucas pessoas, num grotesco delírio sobre a realidade política do
país, e ódio a inimigos imaginários.
A própria oposição quis distância deste ato, sabendo que a
desaprovação popular é quase unânime. A exceção foi o deputado Jair Bolsonaro
(PP-RJ), no Rio, que deu o ar de sua graça e deve ter levado sua claque.
Nunca me preocupei com esta marcha pela falta de ideias, de
propostas consistentes e sobretudo por ser altamente impopular, refutadas até
por conservadores lúcidos. Mas é preocupante casos isolados de ódio, como
agressões físicas e ameaças de espancamento a pessoas do povo que estavam
passando por ali e que não se enquadrassem no perfil fascista da marcha.
Os 500 ou 1000 participantes que foram em São Paulo, os
cerca de 300 no Rio (em outras cidades o número foi insignificante) deveriam ir
a um psiquiatra urgente, antes que ganhem notoriedade da pior forma possível,
como aconteceu com o canibal de Rotenburg.
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