Por Eduardo Guimarães – Blog da Cidadania
Apesar de todas as melhoras que o Brasil experimentou ao
longo de mais de uma década sendo governado pelo PT, há muita gente que se
recusa a reconhecê-las. Tudo que ocorreu de bom no país nesse período é
creditado ao governo federal do PSDB (1995 a 2002), enquanto que tudo de ruim
que ocorreu a partir de 2003 é debitado só ao PT.
Este post tem como ponto central uma questão política, mas,
antes de discorrer sobre ela, vale a pena dar um exemplo de como política e
economia andam muito mais juntas do que se pensa. E, de quebra, explicar uma
questão sobre a economia que muitos não entenderam.
Na edição de terça-feira (25/3) do Jornal da Globo, o comentarista
de economia Carlos Alberto Sardemberg deu um bom exemplo dessa retórica
maniqueísta e manipuladora da mídia. Ele falava sobre a ausência de turbulência
no mercado financeiro após o rebaixamento da nota do Brasil pela agência
americana de classificação de risco Standard & Poor’s.
Veja trecho da locução desse comentarista:
—–
“(…) Em economia, você leva tempo para construir as coisas e
leva tempo, também, para estragar. Vejam, por exemplo: o Brasil entrou num novo
regime monetário, num novo regime de estabilidade, a partir de 94 com a
revolução do real e a sequência de reformas econômicas. Só em 2008, portanto 14
anos depois da introdução da nova moeda, é que o Brasil ganhou o grau de
investimento (…)”
—–
Não houve turbulência no mercado financeiro com o
rebaixamento da nota do Brasil por apenas uma das três principais agências de
classificação de risco (Standard & Poor’s, Moody’s e Fitch Rating) que
elevaram a nota brasileira a partir de 2008 para a “zona de risco” conhecida
como grau de investimento – que atesta que o país que detém tal nota não
oferece risco de calote – porque esse rebaixamento está sendo visto mais como
político do que como produto de maiores problemas na economia do país.
Os analistas de mercado entenderam o rebaixamento da nota
brasileira como “um aviso” de setores do mercado financeiro internacional para
a presidente Dilma Rousseff. Que aviso é esse? É para que o governo volte a
produzir um superávit primário em torno de 3% do PIB.
Superávit primário, vale explicar, é o que o Brasil corta de
seu orçamento com Saúde, Educação etc. e reserva para pagamento de suas dívidas
internacionais.
Enfim, como o governo anunciou recentemente que em vez dos
3,1% do PIB exigidos pelo mercado irá cortar “apenas” 1,9%, a Standard &
Poor’s decidiu dar esse “aviso” de que se o Brasil não se submeter aos ditames
do mercado poderá perder o grau de investimento.
Mas para que serve o tal grau de investimento? Por mais que
muitos digam que as agências de classificação de risco não servem para nada
porque estão desacreditadas pelos muitos erros que já cometeram, o aval delas
serve para baratear os juros que o Brasil ou que empresários brasileiros pagam
em empréstimos contraídos no exterior.
Contudo, a exigência de que um país que tem quase 400
bilhões de dólares de reservas economize mais algumas dezenas de milhões de
reais para atingir o percentual de superávit primário exigido pelos mercados,
chega a ser ridícula.
Por isso não houve turbulência nos mercados, ainda que
Sardemberg tenha dado uma explicação marota de que o rebaixamento brasileiro já
estaria “precificado”, ou seja, que o Brasil já estaria pagando mais juros por
economizar menos para pagar suas dívidas.
Tudo besteira. Na mesma semana do rebaixamento pela S&P
o Brasil fez captações no exterior com os menores spreads (taxas de risco) de
sua história.
Mas voltemos à questão política, porém ainda nos mantendo no
comentário de Sardemberg no Jornal da Globo. Sua tese sobre o grau de
investimento atingido em 2008 ser produto do plano real é uma piada. Ele
simplesmente pulou a história brasileira entre 1998 e 2002, quando o Brasil
literalmente quebrou.
Omitiu que a barbeiragem de Fernando Henrique Cardoso na
economia provocou em 1999 uma fuga de capitais que praticamente reduziu pela
metade o valor do real e deixou o país sem um centavo de reservas cambiais.
Sardemberg omitiu, por exemplo, que o risco-Brasil, hoje em
torno de 200 pontos, com FHC chegou a 2436 pontos.
Ou seja, ao dizer que o grau de investimento concedido pelas
agências de classificação de risco é produto do governo FHC, o comentarista da
Globo contou uma das maiores piadas sobre economia da história recente do
jornalismo econômico.
Menos insensato teria sido Sarndemberg dizer que as vitórias
conseguidas pelo governo Lula na economia ao longo da década passada foram
postas em risco por sua sucessora. Contudo, ainda assim estaria distorcendo os
fatos.
Não houve nenhum grande problema na economia brasileira, o
que houve foi uma decisão do governo Dilma de reduzir o percentual que o
governo economiza para pagamento de seus compromissos internacionais. E ela
tomou tal decisão simplesmente porque estamos com os bolsos cheios de dólares,
mais do que suficientes para pagar toda a nossa dívida externa e ainda nos
deixar com um belo saldo.
Mas o mercado, ah, o mercado… Sempre quer mais e mais e
mais.
Seja como for, se a mídia, parte da sociedade civil e do
espectro político se recusam a reconhecer os avanços do Brasil sob o PT, ao
menos têm que reconhecer que nenhum outro partido é mais confiável no poder do
que o PT.
Sim, é isso mesmo que você leu. Só o PT é confiável, quando
ocupa o poder, porque só esse partido é fiscalizado pela mídia e, em caso de se
envolver em algum escândalo, só esse partido é investigado de verdade pelo
Legislativo, pelo Ministério Público e pelo Judiciário.
E, em caso de condenação judicial, só sendo petista ou
aliado do PT para ser punido.
Neste momento mesmo podemos ver isso acontecendo. Em São
Paulo, por exemplo, os governos do PSDB, entre 1998 e 2012, deixaram ocorrer
uma imensa roubalheira no Metrô e na CPTM. As somas envolvidas nesse escândalo
superam em muito as envolvidas no caso Petrobrás/Pasadena. Porém, o PSDB
paulista consegue impedir qualquer CPI contra si.
No Judiciário, acabamos de ver o ex-presidente do PSDB e
ex-governador de Minas Gerais Eduardo Azeredo saindo impune do escândalo
conhecido como mensalão tucano, pois o mesmo STF que julgou petistas sem foro
privilegiado no julgamento do mensalão do PT acaba de se declarar incompetente
para julgar Azeredo, que renunciou para que seu processo voltasse à primeira
instância.
Voltemos ao caso Petrobrás: compare, leitor, as acusações
que a mídia tem feito à presidente Dilma Rousseff pelo negócio fechado com a
refinaria norte-americana. Alguém viu a mídia acusar diretamente Geraldo
Alckmin, José Serra e Mário Covas por terem assinado os contratos com Alstom,
Siemens etc?
Claro que não. O máximo que a mídia fez foi citar que as
negociatas envolvendo compra e reforma de trens e construção de estações do
metrô paulistano ocorreram sob os governos desses tucanos.
Dilma, por conta de um negócio sobre o qual as provas de
irregularidade ainda são inconclusivas, tem sido chamada pela mídia, no mínimo,
de “incompetente”. E o mesmo PSDB que abafa CPIs em São Paulo posa de indignado
no plano federal, exigindo CPI. E conseguindo, inclusive.
Ora, por que votar em um partido como o PSDB – ou similares
-, que consegue abafar qualquer investigação contra si e que, mesmo sendo
flagrado, escapa pela tangente?
Vejam que a mídia noticiou fartamente que 12 executivos das
empresas metidas nos carteis paulistas tiveram pedido de prisão decretado, mas
não disse um A sobre os políticos que negociaram com esses executivos compras
ou reformas de trens e construção de estações do Metrô.
E os casos de racionamento envolvendo a esfera estadual paulista
e a esfera federal? Quantas acusações Dilma e Lula sofreram por um suposto
racionamento de energia que nunca ocorreu e que ninguém garante que irá
ocorrer? Enquanto isso, o racionamento real de água que já ocorre em São Paulo
praticamente não rendeu acusação ou crítica alguma a Alckmin na mídia.
Eis uma das razões pelas quais o signatário desta página
pretende continuar votando no PT. Com esse partido no Poder, a certeza de
fiscalização e de punição, em caso de comprovação de irregularidades, é líquida
e certa. Já com o PSDB, pode fazer o que quiser que sempre acaba ficando
impune, o que o estimula a cometer erros e atos de improbidade.
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