A frase do título é antiga e a situação que vivemos não é
nova. Paira no ar uma estranha sensação de insegurança em que algo pode
acontecer a qualquer momento. Multiplicam-se os episódios de violência por toda
parte, greve na PM da Bahia, protestos, manifestações, ocupações, acidentes em
penca nas estradas durante o feriadão, ônibus queimados como lenha no Rio e em
São Paulo, vazamento de gás na Marginal do Tietê às duas da madrugada,
provocando um infernal congestionamento durante toda a manhã na maior cidade do
país, obras da Copa que não andam, gerando só notícias negativas em todos os
noticiários da grande imprensa, com destaque para os casos de corrupção a
granel e ameaças de aumento da inflação.
Não há americanos nem militares à vista, mas o clima geral
me faz lembrar os acontecimentos que antecederam o golpe cívico-militar de
1964, descritos em detalhes no livro que estou lendo sobre aquele período. Em
"1964 - O Golpe", o jornalista e testemunha ocular Flávio Tavares
mostra como se criou o chamado "caldo de cultura" para que
"marchas da família" pedissem a derrubada do presidente João Goulart,
pedido prontamente atendido pelos militares, que preparavam a conspiração desde
a renúncia de Jânio Quadros, em 1961, com a participação do governo dos Estados
Unidos em plena Guerra Fria.
Acabou a ditadura, acabou a Guerra Fria, os militares
voltaram para os quartéis, não há mais a "ameaça comunista" e os
americanos agora têm outras preocupações, mas setores poderosos da nossa
sociedade, entre eles a velha elite paulistana, os donos do dinheiro grande que
vivem da especulação e o alto baronato da mídia, não se conformam até hoje com
a chegada do PT ao poder central e simplesmente não admitem a reeleição de
Dilma Rousseff, que daria o quarto mandato consecutivo ao partido.
Erros do PT e da presidente à parte, que não foram poucos, o
fato é que há uma evidente orquestração para desconstruir a imagem de Dilma e
do partido, na medida em que os dois principais candidatos de oposição não
conseguem desempacar nas pesquisas.
Antes que algum leitor mais afoito tire conclusões
apressadas, nem de longe imagino possível que alguém esteja preparando um golpe
contra o governo, até por que as condições do Brasil e do mundo são
completamente diferentes de 50 anos atrás, como disse o próprio Flávio Tavares
no dia do lançamento do livro, na semana passada. Apenas constato as
coincidências do tom do noticiário daquela época e o de agora, para criar um
clima de medo e instabilidade. O objetivo é apenas desgastar a presidente até
as eleições, para impedir uma nova vitória do PT, como até aqui apontam todas
as pesquisas.
Por isso, jogam tudo no descontrole da inflação e no
fracasso da Copa no Brasil, anunciando greves e manifestações, para depois
colocar a culpa na falta de capacidade administrativa do governo, abrindo
caminho para os salvadores da pátria que prometem mudar "tudo o que está
aí", mais ou menos como aconteceu em 1964. Os mesmos grupos de comunicação
(com a honrosa exceção da falecida Última Hora, do meu amigo Samuel Wainer),
que conspiraram contra Jango, estão aí até hoje, mais unidos do que nunca,
disparando manchetes dos seus canhões de papel. Eles não esquecem, não desistem
e não aprendem.
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