Por Mauricio Dias, na revista CartaCapital:
Excetuada uma vitória do pastor Everaldo Pereira, por
qualquer razão natural ou sobrenatural, não há até agora e, talvez nem haja até
o dia da eleição, novidade maior do que o refluxo de eleitores apontado nas
pesquisas eleitorais recentes. A soma dos porcentuais de votos brancos e nulos,
de rejeição e daqueles que não quiseram ou não souberam responder, está próxima
dos 40%. É um porcentual inédito e expressa, aproximadamente, quase 50 milhões
de um total de 140 milhões de eleitores brasileiros.
Há dados conjunturais diversos dando vida a esse problema.
Alguns são antigos e outros, mais modernos, como é o caso da demonização dos
políticos. Dos gregos de ontem aos brasileiros de hoje, os eleitores, na
essência da escolha, pouco mudaram. A urna eletrônica não modifica razões
pessoais do cidadão na hora de votar.
Essa demonização não vem de longe. Foi acentuada,
radicalizada pela mídia conservadora, após a vitória do metalúrgico Lula, em
2002. O ataque aos políticos, resumidamente, tem sido sempre, até agora, uma
tentativa de desestabilizar a base governista. É preciso dizer com franqueza,
porém, que os políticos contribuem para tanto.
O descrédito facilitou a ingerência de uma questão chamada
judicialização da política, que, por sinal, perturba o processo democrático ao
longo do mundo. Por aqui, ela tem favorecido a eleição de procuradores e, mais
recentemente, soprou para os lados do ministro Joaquim Barbosa, presidente do
Supremo Tribunal Federal. Ele ficou feliz. Mas não se arriscou à prova real da
popularidade obtida após o julgamento da Ação 470, mais conhecida como
“mensalão”.
A pesquisa VoxPopuli divulgada por CartaCapital, na edição
anterior a esta, buscou provocar o eleitor a falar do sentimento dele, a
satisfação e a insatisfação, com o Brasil. Os satisfeitos somaram 54% e os
insatisfeitos, 46%. A diferença não é grande.
Em 2013, após as manifestações populares entre junho e
julho, o Ibope mediu o Índice de Confiança Social (ICS) da população nas
principais instituições de poder.
A queda na confiança é ampla e atinge os bombeiros e parte
das instituições tradicionalmente mais confiáveis (tabela).
Em pesquisa mais recente, os números do Ibope consolidam
esse momento adverso a partir de sondagem sobre a intenção de votos para a
Presidência.
Dos 37% que recusaram todos os candidatos, 72% não têm nem
um pouco ou quase nenhum interesse na próxima eleição de 2014. Um dos pontos
mais curiosos, indicativo do desencanto do eleitor, pode ser tirado dos que
responderam “ruim e péssimo” na avaliação de Dilma: 62% não votariam em ninguém
se a eleição fosse hoje.
É uma sinalização objetiva que ajuda a explicar por que
Aécio Neves e Eduardo Campos não herdam os eleitores que, até agora, tiraram o
apoio à reeleição de Dilma.
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