Imagine o Jornal Nacional passar alguns dias tendo de ler
direito de reposta após direito de resposta. Seria a desmoralização da
qualidade do jornalismo dos veículos de imprensa que tiveram má conduta
por Helena Sthephanowitz
Ataques da oposição e da mídia à Petrobras, injustamente,
deveriam receber resposta adequada do governo
Quando a esmola é demais, o santo desconfia, já dizia minha
avó. No caso da Petrobras, a esmola demais é o quase silêncio do governo
federal durante semanas diante de ataques à imagem da empresa, usando a compra
da refinaria de Pasadena e outros casos que "não pegaram".
Só duas coisas poderiam explicar essa conduta. A primeira
seria a tranquilidade do conhecimento do terreno onde pisa. A oposição estaria
escolhendo lutar em um terreno favorável à gestão da empresa e ao próprio
governo. Seria mais ou menos como atrair tropas para emboscadas, no caso de
guerras.
A oposição avança sobre a Petrobras, mas a empresa vive um
ano particularmente bom, quebrando recordes após recordes de produção. Até
mesmo um relatório final de uma auditoria interna de 45 dias sobre todo o
processo de compra da Refinaria de Pasadena pode se revelar favorável às decisões
tomadas pela empresa.
Neste caso a oposição avança muito agora, mas estaria
avançando em uma areia movediça, que a levaria a afundar nos próximos meses.
Justamente no período eleitoral mais quente, as denúncias de irregularidades
estariam esvaziadas, pelo menos em parte, seja pela improcedência, seja pela
punição de eventuais responsáveis, e a empresa estará apresentando resultados
robustos dos investimentos, o que desmentirá as críticas à gestão. O que
restará à oposição dizer? Que aumentará a gasolina em obediência à mão
invisível do mercado internacional?
A segunda explicação seria aplicar uma espécie de corretivo
exemplar ao mau jornalismo, que não espera apurar informações e já faz seus
"testes de hipóteses", pré-condenando negócios e pessoas com base em
boatos. Esse corretivo viria através do departamento jurídico da empresa
exigindo direito de resposta à altura dos ataques recebidos.
Imagine o Jornal Nacional da TV Globo passar alguns dias
tendo que ler direito de reposta após direito de resposta. Imagine as revistas
terem de ceder toda semana páginas e mais páginas para a publicação de
desmentidos de reportagens erradas de edições passadas. Imagine o mesmo com os
jornais. Seria a própria desmoralização da qualidade do jornalismo dos veículos
de imprensa que tiveram má conduta.
Pois a Petrobras está com esta chance histórica nas mãos. De
onde veio a lorota repetida centenas de vezes de que a refinaria de Pasadena
custou apenas US$ 42,5 milhões um ano antes da Petrobras entrar no negócio?
Hoje se sabe com certeza que custou pelo menos US$ 360 milhões, comprovados em
balanços oficiais.
Todas as reportagens que espalharam a informação falsa, sem
qualquer apuração séria, são motivo de sobra e irrefutável para exigir direito
de resposta. Se a mentira foi repetida dez vezes no mesmo telejornal, a
Petrobras deve exigir dez direitos de resposta. Se usaram infográficos para
mentir de forma mais didática, o direito de resposta deve usar infográfico
também para desmentir.
No último dia 17 a empresa Astromarítima Navegação ganhou um
direito de resposta de 50 segundos no Jornal Nacional. O telejornal havia feito
matéria antes, no dia 14, induzindo o telespectador a entender que o ex-diretor
da Petrobras, Paulo Roberto da Costa, cobraria comissão da empresa por
contratos com a Petrobras. No dia 17, o apresentador Heraldo Pereira teve que
ler o desmentido: "A empresa Astromarítima procurou o Jornal Nacional para
mostrar o contrato de busca por novos investidores – que nada tem a ver com os
contratos que a empresa tem com a Petrobras".
A Astromarítima, segundo o noticiário, tem contratos de
fretamento de embarcações no valor de quase meio bilhão de reais. É uma empresa
de grande porte que atua desde a década de 80, tendo a Petrobras como um de
seus principais clientes. A própria TV Globo deve ter sentido o cheiro do preço
que um processo por danos poderia acarretar se não provasse as ilações
veiculadas.
Pois a Petrobras tem uma marca e uma imagem de muito mais
valor do que a Astromarítima, e nada justifica que não exerça seu direito de
resposta. É provável que a própria TV Globo e outros veículos de imprensa
ofereçam alguns segundos à Petrobras para o desmentido de informações
comprovadamente falsas, sem disputa judicial. Mas isso não seria suficiente
para reparar os danos.
A Petrobras deve exigir direito de resposta proporcional aos
danos causados à sua marca e à sua imagem. Se os veículos de imprensa não
concederem amigavelmente, deve exigir na Justiça. Se isso ocorrer, como
processos judiciais às vezes demoram anos, a Petrobras bem que poderia fazer um
jornalzinho para distribuir nos postos do tipo "verdades e mentiras",
mostrando reportagens falsas publicadas por aí e os fatos reais que as
desmentem. Inclusive explicar que o jornal está sendo distribuído porque as
TVs, jornais e revistas não deram direito de resposta. É claro que versões para
internet adequadas às redes sociais também devem ser produzidas.
Em 2009, quando a empresa foi atacada pela oposição, rebateu
com o Blog Fatos e Dados. Desta vez, só tardiamente este blog passou a rebater
informações que atingem a empresa e, mesmo assim, de forma mais tímida. Dessa
vez, para fazer do limão a limonada, só direitos de resposta exemplares
resolvem.
A Petrobras está com uma chance histórica nas mãos de
combater o mau jornalismo que a atingiu. Vai perder?
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