Saída de Barbosa debilita oposição midiática em ano
eleitoral
Por Eduardo Guimarães, no Blog da Cidadania:
São variadas e sobremaneira importantes as implicações
políticas resultantes da recém-anunciada renúncia do presidente do Supremo
Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, aos 11 anos que lhe restam de mandato como
ministro daquela Corte. E, mais do que isso, aos seis meses que lhe restam como
seu presidente.
Em primeiro lugar, a mídia, o PSDB, o DEM, o PPS, o PSB e o
PSOL perdem uma verdadeira fábrica de factoides políticos contra o PT; por
outro lado, o PT e o governo Dilma se livram daquele que proveu seus adversários
com a manutenção do mensalão nas manchetes e que liderou a bancada
oposicionista na Suprema Corte de Justiça.
Em segundo lugar, cai a principal barreira à investigação de
fatos nebulosos envolvendo a Ação Penal 470, como no caso do inquérito 2474,
que, durante anos, Barbosa manteve em segredo de Justiça.
Apelidado de “gavetão”, o inquérito 2474 correu
paralelamente ao inquérito 2245, que deu origem à ação penal do mensalão.
Barbosa manteve engavetados os 100 volumes do 2474, que contém documentos que
poderiam ter inocentado parte dos réus do mensalão. Vários investigados pelo
2474 pediram acesso ao inquérito para elaborarem suas defesas, mas Barbosa
sempre negou, contrariando normas do próprio STF.
Em terceiro lugar, os políticos condenados pelo julgamento
do mensalão – com destaque para José Dirceu e José Genoíno, os alvos 1 e 2 de
Barbosa e seus aliados políticos de oposição ao governo Dilma – deixam de ter
um carcereiro que, desde o fim do ano passado, dedica-se a torturá-los,
buscando, de todas as formas, endurecer suas penas, negando-lhes direitos e
provendo a mídia com elementos para fustigá-los dentro da prisão.
Com a saída de Barbosa, deve se tornar inócua a resolução
514 – de autoria do presidente do STF –, que, pela primeira vez na história,
delegou àquela Corte a execução penal de condenados pela Justiça. Com isso,
Dirceu, Genoíno e Delúbio Soares devem conseguir direitos que lhes estavam
sendo negados, como o de trabalharem fora da prisão, em consonância com o
regime semiaberto.
Em quarto lugar, o STF passa a ter um presidente que deixará
de ser um estafeta de partidos políticos e que deixará de usar o principal
poder desse cargo – o poder de estabelecer a pauta da Corte – para favorecer
aliados e prejudicar desafetos; Ricardo Lewandowski assumirá já cargo que só
deveria assumir em novembro.
Em quinto lugar, a presidente Dilma Rousseff poderá –
espera-se – nomear mais um ministro do STF que dissentirá do grupo político,
antes majoritário, que permitiu à Corte transformar-se em marionete da mídia e
da oposição. Com essa nomeação, Gilmar Mendes, Luiz Fux, Marco Aurélio Mello e
Celso de Mello – o núcleo duro do tucanato no STF – ficarão em débil minoria.
Em sexto lugar, com um STF tão diferente, torna-se bastante
provável que o julgamento do mensalão possa ser revisto no que diz respeito ao
núcleo político inventado por Barbosa para que pudesse se converter no primeiro
pop star do Judiciário em mais de um século de vida republicana.
As chances de uma revisão criminal para os réus do núcleo
político aumentaram muito.
Visando exclusivamente seus interesses políticos, Barbosa
deixou a oposição e a mídia com a brocha na mão em pleno ano eleitoral.
Impérios de mídia, partidos de centro-direita e de extrema-esquerda deixaram de
ter uma verdadeira arma eleitoral que, ao longo da campanha eleitoral, iria
prover-lhes seguidos factoides para serem usados na propaganda política.
Para concluir esta análise, pode-se dizer que as eleições
deste ano serão bem diferentes do que poderiam ser se a Presidência do STF
continuasse nas mãos de um ególatra que se dispôs ao papel de capanga de
partidos políticos e de impérios de mídia.
Pode-se dizer, portanto, que Barbosa traiu àqueles que o
ajudaram a construir a imagem que certamente usará na previsível carreira
política que abraçará. Não parece demais dizer que traiu seus aliados
políticos. É o que dá apostar alto em aventureiros, pois traição é a principal
característica desse tipo de gente.
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