Da Rede Brasil Atual:
A bola foi cruzada na área pelo blogue Rio Report, do
britânico EuroSport. Ainda nem acabou a primeira rodada, mas a Copa 2014 está
muito divertida. Melhor do que as quatro ou seis anteriores. Como a gente tem
curtido a onda, tornamo-nos adeptos de primeira hora da tese. Ainda sob risco
de dar azar (alô, Irã e Nigéria), a reflexão está solicitada.
Como pretensão pouca é bobagem, o Futepoca lista, a seguir,
dez motivos pelos quais a Copa do Mundo 2014 pode avançar pela meia cancha para
se desenhar como a melhor de todos os tempos. O que está listado a seguir diz
respeito ao que se passa dentro das quatro linhas. Para além delas, o
lançamento é direto ao metafísico e ao transcendental, àquela fatia do futebol
pertinente à alçada do imponderável.
1 – Quantidade de belos gols
Mais do que apenas um detalhe, como diria o filósofo
Parreira, o gol é a essência desse negócio chamado futebol. E se for bonito,
tanto melhor. O de Oscar, na estreia da seleção brasileira; o de Van Persie e
Robben, da Holanda; o de Lionel Messi contra a Bósnia... Todo dia tem gol digno
de menção na lista dos mais belos. E nem passamos a primeira rodada.
2 – Quantidade de gols (belos ou não)
Claro que nem sempre vai ser possível marcar tentos bonitos.
Remetendo a Dadá Maravilha, feio é não fazer gol. Por ora, na Copa 2014 é
assim: até jogo ruim termina com três gols. Falando de outro jeito: 2x1 é o
novo 0x0. Tirando a partida entre México e Camarões, encerrada em 1 a 0 (e dois
tentos lícitos anulados irregularmente pela arbitragem), mesmo jogos
tecnicamente inferiores, como Costa do Marfim 2x1 Japão e Suíça 2x1 Equador, a
rede foi balançada. Nos 14 jogos, foram 4, média de 3,14 por partida, maior
média desde 1958.
3 – Copa de vários "times da casa"
Tudo bem que tem brasileiro a rodo nos estádios. Mas a Copa
não é só do Brasil, é também do Chile, da Colômbia, da Argentina, do Equador.
Longe de ser o primeiro Mundial em território sul-americano, a invasão dos
vizinhos está se dando de um jeito que não se viu em 1978, 1962, 1950 nem em
1930, com hinos sendo cantados de forma fervorosa, à capela, e com os cânticos
de torcida ecoando nos estádios. É o "South American Way"!
4 – Maior diversidade na cobertura esportiva
Esta vai pros coleguinhas: em vez de investir em passagens
para e no exterior e em hospedagens, a cobertura da Copa nas emissoras aposta
em capital humano. Em gente. É que, com 12 cidades-sede, deslocamentos de 3 mil
quilômetros de um dia para o outro seria pouco viável. Multiplicam-se equipes,
incluindo regionalidades. Tem veterano no futebol debutando em Copa.
5 – Nem toda surpresa é zebra
Um favorito que perde, como o Uruguai para Costa Rica, é uma
surpresa e uma zebra. Um favorito que goleia outro favorito é uma surpresa, mas
não é zebra. Se era divertido ver tropeços de fortes contra fracos em mundiais
anteriores, ver grandes se dobrando diante de grandes é muito mais legal.
Sucesso de uma fórmula que escalou cabeças de chave pelo ranking Fifa em vez da
tradição. E porque Holanda, diante da Espanha, e Alemanha, ante Portugal, foram
impiedosos.
6 – Viradas e reviravoltas nos jogos
O jargão do futebol prega, cheio de malícia, que "de
virada é mais gostoso", se faz presente no Mundial. Em cinco das catorze
partidas, quem saiu na frente no marcador terminou atrás. O índice de 35% é bem
maior que a média das 772 partidas das 19 edições anteriores, que contam 97
viradas (12% do total). Nas dez primeiras partidas da Copa de 2010, não houve
nenhuma.
7 – Quase ausência de empates
Um certo treinador brasileiro imortalizou, na campanha brasileira
à Copa de 1994, que "o empate é um bom resultado". Dita em um
contexto específico (um jogo fora de casa) a máxima devidamente isolada
traduziu o espírito de uma era. Na Copa de 2014, passados 14 jogos, só uma
igualdade foi registrada. Até existem empates emocionantes, divertidos, mas o
cenário indica que, para recair em outro bordão, o medo de perder está menor do
que a vontade ganhar. Melhor para o futebol.
8 – É um novo futebol
Se fosse filme de apocalípse, a cena seria de placas
tectônicas em movimento. É uma tese polêmica, mas o futebol, como nós o
conhecíamos, acabou e precisava mesmo ser reinventado. Quando a Espanha foi
primeira a entrar no clube das campeãs fora de casa desde o Brasil em 1958,
tocando a bola cansativa e ininterruptamente; quando o Brasil vai a uma Copa só
com um craque; quando Inglaterra, Holanda e Itália têm mais não europeus do que
nunca; quando a Colômbia marca forte e a Suíça sai pro jogo; quando vigor física
e disciplina tática vão achando novas sínteses; quando até a carcomida Fifa
aceita inovações como spray para demarcar barreira no gramado e câmera da linha
do gol.... São todos sinais de que alguma coisa mudou. E mudou para melhor.
9 – Da alta definição à realidade aumentada
A qualidade da transmissão e a diversidade de fontes de
informação são um atrativo a mais. Da "erupção" ante o gol brasileiro
do The New York Times às tabelas interativas, das estatísticas em tempo real
aos aplicativos de transmissão ao vivo... É a Copa da realidade aumentada e da
alta definição de imagem. Todos os detalhes imagináveis podem ser contados. Boa
parte deles estão sendo.
10 – Quem quer ganhar a Copa no país do futebol?
Por último o clichê que se confirma, a farra brasileira. Os
mineiros invadindo o treino da argentina, a procissão de holandeses em
Salvador, os caras da seleção alemã cantando na rua, o menino ganhando a camisa
do Neymar e outra com a do David Luiz na Granja Comary... Afinal, aprendemos
que somos donos dessa bola. E onde mais um policial sambaria na boquinha da
garrafa? Quando o futebol precisou se reorganizar no Pós-Guerra, veio ao
Brasil. Ou, citando Jorge Mautner, ou o mundo se brasilificava ou viraria
nazista.
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