Por Altamiro Borges
O apresentador Faustão, da TV Globo, disputará com o
ex-jogador Ronaldo, que também está na Globo, o título de “fenômeno” do
oportunismo de 2014. Neste domingo (22), durante o seu programa na emissora,
ele mudou radicalmente de opinião e elogiou a Copa no Brasil. Na maior
caradura, ele disse que “surpreendentemente” o evento está dando certo e que os
problemas ocorridos até agora são de responsabilidade da Fifa. "O que está
dando problema é tudo culpa da Fifa. E eles não assumem e colocam a culpa no governo
brasileiro. Veja agora o problema da alimentação em Recife, isso é problema da
Fifa. A Fifa que assuma as suas responsabilidades”, afirmou no “Domingão do
Faustão”.
A crítica à Fifa é justíssima, mas não deve ter agradado a
famiglia Marinho – que sempre manteve sinistras ligações com a máfia que se
perpetua no comando desta entidade mundial do futebol. Estas relações são
antigas, desde a época do corrupto João Havelange. Não é para menos que a TV
Globo evita repercutir as recentes denúncias da mídia internacional sobre o
esquema de corrupção montado pela Fifa para sediar a Copa no Catar em 2022 ou
sobre os aumentos secretos dos salários de seus dirigentes. A Fifa fatura cerca
de 4 bilhões de dólares com este evento; já a famiglia Marinho mantém-se no topo
da lista de bilionários da Forbes, entre outros motivos, por ter a
exclusividade na transmissão dos jogos.
Faustão acertou na crítica à Fifa, mas deixou de fazer a sua
autocrítica. Até a semana passada, o apresentador global, que recebe uma
fortuna da emissora e dos anunciantes, era um dos mais hidrófobos nos ataques à
organização da Copa no Brasil. Ele animou muita gente que padece do complexo de
vira-lata contra o Brasil e que prega à visão neoliberal de negação do Estado.
No “Domingão” que antecedeu a abertura dos jogos, ele esbravejou: “Esse é o
país que quer fazer Copa do Mundo com 17 [12] cidades, mas que não faz nem com
cinco... Já que vai começar dentro dessa bagunça toda, desses estádios caros,
vamos tentar fazer o melhor possível, até porque a minha avó já dizia 'roupa
suja se lava em casa'”.
Na sequência, ele explicitou que seu programa virou um
palanque eleitoral da oposição. “Não dá para mostrar para o mundo inteiro que
somos o país da corrupção e da incompetência. Muita gente já sabe... O Brasil
dentro de campo é uma coisa. O Brasil fora é outro. O povo já percebeu. O
Brasil precisa ganhar a Copa da educação, da saúde, contra o preconceito. A
nossa Copa do Mundo é em outubro, época das eleições”. Ainda na semana passada,
ao entrevistar a cantora Cláudia Leite, quase falou um palavrão na emissora, ao
esculhambar a solenidade de abertura do torneio no estádio do Itaquerão. Para
ele, a “festa merreca” foi uma “m... mercadoria”.
Agora, “supreendentemente”, ele muda de opinião e elogia a
organização da Copa. O que houve? Sem dúvida, ele foi contagiado por Ronaldo, o
“fenômeno” do oportunismo. A TV Globo trabalha com pesquisas diárias para
conhecer o humor de seus telespectadores. Não há ainda nada de oficial, mas nos
bastidores circula a informação de que o povo não se deixou abater pelo
pessimismo da mídia tucana e está entusiasmado com a Copa. A coluna Painel, da
Folha, chegou a noticiar neste final de semana que o apoio popular é de mais de
60% da sociedade. Esperto, Faustão resolveu recuar nas suas bravatas
eleitoreiras; ele só não fez autocrítica. Por falta de oportunidade não faltam
oportunistas neste mundo!
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