Autor: Miguel do Rosário
Parece que a Copa está dando um resultado inesperado. Está
nos fazendo conhecer a nós mesmos pelos olhos do mundo. E dando oportunidade ao
mundo para nos conhecer com os próprios olhos.
Quando a Copa terminar, alguma coisa estará bem diferente na
relação entre o Brasil e o mundo, entre o mundo e a imprensa brasileira, entre
nós e a mídia.
E qualquer coisa que mude isso, que chacoalhe a quase
ditadura midiática que vivemos, será bem vindo.
*
Sobre o artigo do Financial Times que diz que o Brasil já
ganhou a Copa
Por Paulo Nogueira, no Diario do Centro do Mundo.
Um artigo do Financial Times circula nestes dias pela
internet. O título é: “O Brasil já ganhou a Copa”.
Ao contrário de textos do FT críticos à política econômica
do governo, este não é objeto de exaustiva repercussão na mídia e seus
comentaristas.
Regra número 1: a mídia repercute apenas notícias negativas,
numa seleção minuciosa que não admite exceções.
O artigo do FT sublinhava o que já é de amplo conhecimento:
a Copa foi um triunfo.
A extraordinária surpresa se deveu menos aos fatos, em si, e
mais à campanha feroz movida pela imprensa.
Num dos momentos apoteóticos dessa campanha, Jabor disse que
o Brasil mostraria sua incompetência em organizar um evento de tal magnitude.
Mesmo jornalistas de outra natureza que não a de Jabor se
deixaram contaminar pelo sentimento apocalíptico. Poucas semanas antes da
estreia do Brasil, depois de visitar o Itaquerão num jogo do Corinthians, Juca
Kfouri previu, na ESPN, o caos.
O FT falou naquilo que todos sabem: os brasileiros são um
povo encantador. O francês rosna para você. O inglês ignora você. O brasileiro
sorri e dá um tapa nas suas costas.
Para os jornalistas estrangeiros, e os turistas, cobrir a
Copa nas cidades com praias foi uma experiência única. “A Copa tem que ser
sempre no Brasil” foi uma frase várias vezes repetida.
Também para os jogadores estrangeiros o Brasil foi, em
geral, uma festa. Viralizou um vídeo em que futebolistas alemães torciam num
hotel, ao lado de brasileiros, na disputa de pênaltis entre Brasil e Chile.
O ganho em termos de imagem para o Brasil é inestimável. A
“publicidade” gratuita que a mídia internacional deu ao país com seus textos e
vídeos não tem preço.
Não é que o Brasil tenha passado por uma metamorfose súbita
na Copa. É que a mídia, já faz um bom tempo, retrata um país que não existe.
É a Banânia, uma terra da qual devemos todos nos
envergonhar. Segundo a mídia, somos corruptos, somos infames, somos linchadores,
somos violentos, somos canalhas, somos ignorantes.
Falta alguma coisa? Ah, sim: somos feios.
O Brasil monstruoso da mídia não é, evidentemente, uma obra
do acaso. O objetivo é convencer os incautos de que, com outra administração,
viraremos um paraíso, mais ou menos como o Brasil que a Globo mostrava na
ditadura militar.
Ou, tirados os exageros, como o Brasil sob a ótica dos
jornalistas, turistas e jogadores estrangeiros que vieram para a Copa.
O país tem desafios monumentais para se tornar uma sociedade
avançada, é certo. Os extremos de opulência e miséria ainda são intoleráveis, a
despeito da redução da desigualdade verificada nos últimos anos.
Um “choque de igualdade” tem que percorrer o país.
Mas não somos a Banânia da mídia.
Melhor: a Banânia está representada apenas numa área. Na
própria imprensa. A mídia brasileira é, em si, a Banânia que, ardilosamente,
ela finge que o Brasil é.
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