Autor: Fernando Brito
Marina Silva é uma mulher com inegáveis méritos.
Saiu das profundezas da pobreza para o primeiro plano da
vida nacional e não faria isso se não tivesse qualidades, persistência e
capacidades.
Ninguém, não ser a
elite que a bajula agora, jamais a desqualificou por isso.
A mesma elite que desqualifica Lula – “o molusco”, como o
chamam – por ser um operário que chegou a Presidente e a líder nacional.
Não a vejo, e tenho certeza de que todos reagiríamos, ser
criticada por ter sido pobre ou empregada doméstica.
Eu, pelo menos, que devo o que sou a um pintor de paredes,
seria o primeiro a fazê-lo.
O que se critica, ao contrário, é seu trânsito para os
salões desta elite que se acostumou a chamar o povo com um estalar de dedos.
E que a fazem desfilar, como um exotismo bem-comportado, que
não contesta o sistema que massacra milhões de antigas marinas, sob seus
candelabros.
Ninguém a perseguiu, D. Marina.
O PT, partido pelo qual construiu sua carreira, deu-lhe
cargos: o de vereadora, o de deputada estadual, o de senadora e o de Ministra.
Não foi ele quem a expulsou de nenhum deles, foi a senhora
que se afastou deles.
Saiu de seu partido, e filiou-se a outro para ser candidata
imediatamente, não para ser uma militante. Tanto que saiu do PT poucos dias
antes do prazo limite para registrar candidaturas.
Do PV também não foi expulsa, saiu para ter um partido só seu, depois de
não ter conseguido que este fosse assim.
O que a senhora fez hoje, no Ceará, é deprimente.
Dizer que “oferece a outra face”, como Cristo, apenas porque
foi criticada politicamente, é de uma hipocrisia sem tamanho.
Dizer que chorou ao ser criticada por Lula, a quem a senhora
abandonou depois de seis anos em que ele a manteve como ministra é deprimente.
A senhora se considera legítima para criticar, contestar,
acusar, ofender.
Mas não aceita que lhe tratem senão como uma figura
angelical.
A “fadinha”.
E, quando lhe criticam idéias e atitude, se transmuda.
É a “tadinha”.
O “coitadismo de marketing” , D. Marina, é uma abjeção,
porque é hipócrita, é falso e é perverso, porque se trata de um estelionato
contra os bons sentimentos coletivos, de
uma fraude à compaixão de nossos semelhantes.
Podemos e devemos chorar. De dor, de tristeza, por
solidariedade.
Jamais por sermos criticados na política.
Porque o povo brasileiro não quer chorar, nem se ajoelhar,
nem suplicar.
Essa nação não é “tadinha”, nem precisa de um “tadinho”.
Precisa de líderes, de gente altiva, que levanta a cabeça
como o Brasil secularmente genuflexo precisa levantar.
O povo brasileiro, que precisa se por de pé, não precisa de
alguém que não sabe sequer defender nem a si mesma.
Precisa de quem possa defendê-lo e não de quem, lubrificado
pelas lágrimas de crocodilo, ajude
fazê-lo ser engolido, outra vez, pelas elites.
Que, no fundo, D. Marina, também a desprezam. Mas a usam
Papel ao qual, com inegável prazer, a senhora se entrega.
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