Autor: Eduardo Guimarães
A última sexta-feira foi permeada por especulações e até
pânico da classe política por conta do conteúdo dos depoimentos que o
ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás Paulo Roberto da Costa – preso em
março pela Polícia Federal no âmbito da Operação Lava Jato – vem dando após
acordo de “delação premiada” que fez com o Ministério Público e a Justiça.
Costa propôs acordo de “delação premiada” que pode lhe valer
a quase absolvição dos crimes cometidos. Por esse acordo, tem que denunciar
envolvidos em um suposto esquema de corrupção que haveria na Petrobrás. Tem que
denunciar, sobretudo, políticos envolvidos.
O vazamento do que Costa está afirmando em sua “delação
premiada” é uma irresponsabilidade da mídia, com destaque para o papel da Veja
– sempre ela – no que, aliás, é uma ilegalidade.
Para os que acham que contra o PT vale-tudo, porém, convém
refletir sobre o denunciante.
Quando Costa foi preso, em março, a Polícia Federal
encontrou com em sua residência 180 mil dólares e 720 mil reais – tudo em
espécie. Além disso, o ex-executivo da Petrobrás ganhou um caro automóvel Land
Rover do doleiro Alberto Yousseff, também preso nessa operação da PF e
condenado no caso Banestado.
Costa teme acabar como Marcos Valério, que pode terminar
seus dias na cadeia. O acordo de delação premiada pode salvá-lo desse destino;
sua pena seria praticamente extinta. Porém, delatando supostos comparsas ou não
esse indivíduo é um criminoso e tudo que disser no âmbito do acordo que fez com
as autoridades é suspeito até prova em contrário.
O que Costa está dizendo terá que ser tudo muito bem checado
porque alguém como ele pode mentir para prejudicar quem ele julga que não o
apoiou ou para preservar quem acha que vale a pena, por esta ou aquela razão.
Ou seja: enquanto as “delações” do sujeito não forem verificadas, tudo que está
dizendo é suspeito.
O processo de verificação dessas informações deve levar
meses e terminará muito depois das eleições em segundo turno. Neste momento,
portanto, os meios de comunicação que estão divulgando nomes e partidos dos
acusados por Costa estão sendo irresponsáveis e agindo com claro objetivo
eleitoral.
Como sempre, coube à Veja, de forma criminosa e eleitoreira,
divulgar o conteúdo não verificado das denúncias do ex-diretor da Petrobrás. E
para saber o que Veja pretende o leitor nem precisa se submeter à pena de ler
aquele lixo de publicação. Na porta da Veja há uma lixeira que chamam de blog
do Reinaldo Azevedo que já delata a intenção da revista.
Por contraditório que pareça, as denúncias de Veja são
sempre muito “transparentes” quanto a suas intenções, ainda que esse não seja o
objetivo da revista. Nesse caso em particular, a “transparência” é gritante. Um
outro trecho do post de Azevedo sobre a denúncia da revista que o emprega,
deixa tudo ainda mais claro.
“(…) VEJA teve acesso a parte do depoimento de Paulo Roberto
e traz reportagens exclusivas na edição desta semana, com a lista dos nomes
citados por Paulo Roberto. Entre eles, estão cabeças coroadas da política
brasileira, como o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, que morreu numa
acidente aéreo no dia 13 de agosto (…) Uma coisa é certa: as revelações de
Paulo Roberto atingem em cheio as duas candidatas que lideram a disputa pela
Presidência da República: Dilma, por razões óbvias, e Marina, por razões menos
óbvias, mas ainda assim evidentes. Ela é a atual candidata do PSB à
Presidência. Confirmadas as acusações de Paulo Roberto, é de se supor que o
esquema ajudou a financiar as ambições políticas de Campos, de que ela se
tornou a herdeira (…)”
Precisa dizer mais? É óbvio que o vazamento de supostas
declarações de Costa às autoridades visa matar dois coelhos com uma cajadada
só.
Não se tem garantia de não haver tucanos ou demos envolvidos
nas “denúncias” de Costa. O vazamento das informações pode ser seletivo ou,
pior, Costa pode estar mentindo, inventando acusações para ter o que oferecer
às autoridades em troca de sua liberdade.
Essa é a última cartada que a mídia tucana tem para tentar
reverter o que lhe constitui um verdadeiro desastre político, ou seja, a
eleição presidencial ficar restrita entre duas candidatas que, por razões
distintas, não lhe interessa.
Não, Marina não interessa à mídia. Aliás, a tucanérrima
imprensa paulista tem produzido crescentes colunas, artigos e editoriais anti
Marina. O Estadão já divulgou editorial atacando a “fadinha da floresta”,
Reinaldo Azevedo e congêneres vêm batendo pesado nela, dizendo-a “até pior” do
que Dilma. Neste sábado, a Folha, em editorial, também atacou a candidata do
PSB.
As razões da tucanérrima imprensa paulista para temer Marina
explicam-se pela charge do blogueiro, no alto da página. Ainda que o banco Itaú
tenha escrito o programa de governo de Marina, ela, assim como o PSOL e o PSTU,
esteve por trás dos protestos tresloucados de 2013 e deste ano. No fim, os
sócios “de esquerda” desse consórcio ficaram a ver navios e Marina foi quem
lucrou.
Seja como for, as relações pretéritas de Marina com a
esquerda e suas sistemáticas idas e vindas sobre vários assuntos estão metendo
medo na direita midiática, apesar do aval do Itaú e de um economista
cabeça-de-planilha que assessora a candidata do PSB.
Por que Veja cuidou de atingir Dilma e Marina? Porque se
focasse só em Dilma a beneficiária seria Marina. Atacando a ambas, a mídia
acredita que o beneficiário natural será Aécio. Pode até não ser suficiente
para levá-lo de volta ao segundo lugar, mas a ideia é vitaminar o tucano para
que o PSDB não eleja só meia dúzia de deputados. É simples assim.
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