por : Paulo Nogueira
Lula em ação
“Antigamente jornalista perguntava pra gente responder.
Agora jornalista responde pra gente perguntar.”
Não sei se esta tirada é originalmente de Lula. Mas, seja
como for, é muito boa.
Lula provavelmente estava se referindo, especificamente, a
Noblat. Na sabatina de Dilma no Globo, Noblat mandou Dilma falar menos para que
ele e companheiros pudessem falar mais.
Dilma se saiu bem. “Quem é o sabatinado?”, perguntou, rindo.
Você pode gostar ou não de Lula, mas uma coisa é
indiscutível: seu senso de humor.
Isso ajuda a aliviar ambientes tensos como o vivido hoje na
política brasileira.
Nos últimos dias, Lula tem oferecido várias oportunidades
aos brasileiros de rir, a despeito de preferências partidárias.
Ele observou que numa entrevista Aécio falou numerosas vezes
de “previsibilidade”, uma palavra largamente usada nos ambientes corporativos.
Aécio estava dizendo que o PT não oferece ao mercado uma
economia “previsível”, sem surpresas.
“Se ele fosse tão bom assim em previsibilidadse, por que não
previu que sua candidatura ia afundar?”, respondeu Lula.
Mesmo Aécio deve ter rido com a resposta espirituosa.
Marina – é claro – tem estado no centro das piadas de Lula.
Ele tornou motivo de risos a promessa de Marina de que governaria com os
“melhores”.
Os “melhores”, na tradução irreverente de Lula, viraram “os
meió, os meió”. Ele aproveitou para dizer que de tanto procurar os “meio”
Marina pode acabar terceirizando seu governo.
Nem a si mesmo ele poupa. Ao falar em avanços na educação em
seus dias presidenciais, ele disse que “um semianarfa” criou mais universidades
que todos os doutores que o antecederam.
Só alguém muito seguro de si, e com muito humor, poderia se
autodefinir como um “semianarfa” num país em que o diploma é tão endeusado.
Lula tem outra característica que deveria ser imitada por
mais gente, à direita ou à esquerda: procura não deixar divergências políticas
envenenarem relações pessoais.
Por isso ele toma cuidado com as palavras. Ao contrário de
muitos militantes petistas, jamais chamou Eduardo Campos ou Marina de
“traíras”, por exemplo.
Essa atitude conciliadora pode, sob uma certa ótica mais
rigorosa, ser vista como uma espinha mais dobrável que a desejável.
Num exemplo de como isso pode ser controverso, Lula não
apenas compareceu ao enterro de Roberto Marinho, que tanto fez para
prejudicá-lo, como proferiu um elogio a ele à beira do caixão e decretou luto
oficial de três dias.
Essa campanha tem sido pautada por agressões pessoais.
Marina disse que tem sido tratada como “exterminadora do futuro”, mas parece
ter esquecido que afirmou que o PT colocou “ladrões para assaltar a Petrobras”.
A culpa pela alta tensão da disputa pela presidência jamais
poderá ser atribuída a Lula.
Ao contrário, com sua irreverência loquaz, ele desanuvia o
cenário.
Muito se falado legado social de Lula, e esta é uma verdade
incontestável.
Os brasileiros ganhariam também se prestassem atenção em
outro legado subestimado: o humor na política.
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Paulo Nogueira
Sobre o Autor
O jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial
do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.
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