A soma dos votos em Dilma e Aécio leva a 105,5 milhões;
logo, o que está dividido são os votos, não o país
Entre as incontáveis confusões propaladas a respeito da
eleição presidencial, já se tornou lugar-comum a afirmação de que o Brasil
dividiu-se ao meio. Afirmação que vem de antes da votação, induzida pelas
pesquisas, e dada como definitiva e comprovada pela proximidade dos 51,64% de
votos em Dilma e 48,36% em Aécio, ou 54,5 milhões para ela e 51 milhões para
ele. Mas o tal país dividido em dois não existe. Ao menos no Brasil.
A soma dos votos em Dilma e Aécio leva a 105,5 milhões de
eleitores, equivalentes à metade da população, também em número redondo, de 200
milhões. Logo, o que está dividido ao meio, ou quase, são os votos, não o país.
No qual os 51 milhões de Aécio correspondem a 1/4 da população. O mesmo se
dando com Dilma. E, portanto, nenhum deles dividindo o país em dois. Cada um é
apenas metade da metade dos brasileiros. Além dos totais de eleitores que se
aproximam, sobra outro tanto na população do Brasil.
Mas a ideia do país dividido ao meio, rachado, metade contra
metade, é necessária. Como diz o velho slogan, a luta continua --tão consagrado
quanto seu companheiro de derrotas o povo unido jamais será vencido . Fora Lula
, Fora PT , Fora Dilma foram levados à urna por um símbolo físico, o símbolo
que foi possível arranjar, nas circunstâncias ingratas. Não sucumbem, porém, no
desastre do seu representante ocasional. São uma ideia de força. E, mal a
contagem concluíra, já um dublê de blogueiro e colunista político lançava,
altissonante e global, o brado da beligerância: O país está dividido e a culpa
é do PT . Beligerância ferida, sim, mas não de morte. Apenas no cotovelo.
Há que considerar ainda, na divisão do país, a quantidade
imensa de eleitores que não se manifestaram por um nem por outro candidato. Os
ausentes na votação foram 30,13 milhões. Os que anularam o voto, 5,21 milhões.
Somados também os que deixaram o voto em branco, totalizam-se 37,27 milhões de
eleitores. Ou 27,44% do eleitorado. Excluídos os possíveis ausentes por morte,
não é imaginável que esse povaréu, quase um quinto da população, seja
desprovido de toda preferência com sentido político. A propaganda de divisão
meio a meio os elimina do cômputo, mas existem e são comprovantes, também, do
país multifacetado --como sempre.
As referências de Dilma ao diálogo aproximativo com a oposição
e, de outra parte, o espírito da propaganda de país dividido são conflitantes.
E não por um instante de sensibilidades contrárias de vitoriosos e derrotados.
As divergências são de fundo, na percepção das necessidades e na prospecção de
futuros do Brasil. A meta dos derrotados na urna continua a mesma. Os meios de
buscá-la, também, se todos os recém-usados continuarem possíveis. E se não
vierem a contar com outros, não menos conhecidos.
União, nem em Minas, onde foi feito o julgamento de Aécio,
derrotado duas vezes por seus ex-governados. União, só a de Marina, do nome
Eduardo Campos, da viúva Campos, de Aécio e do PSB para o vexame presunçoso de
perder para Dilma por 70% a 30%, o 7 x 1 em versão eleitoral.
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