Autor: Miguel do Rosário
O escândalo do HSBC ou Swissleaks revela a hipocrisia
abissal da nossa imprensa corporativa.
O caso traz o nome de milhares de indivíduos, muitos
super-ricos, que escondiam fortunas no exterior, evitando o pagamento de
impostos em seus países.
Para a nossa mídia, escândalos só tem importância se puderem
ser usados como arma política para detonar o PT e o governo.
O Brasil é um dos países com maior número de pessoas
envolvidas na evasão fiscal e lavagem de
dinheiro proporcionadas pelo HSBC, e até agora, à diferença de diversos outros
países, onde o caso domina a agenda jornalística, nossos jornais vem abafando o
caso.
O único grande órgão de imprensa a manter a guarda dos
nomes dos brasileiros envolvidos é o
UOL, que já declarou que irá divulgar apenas se “houver interesse público”.
Em outras palavras, os nomes apenas serão divulgados se
puderem ser usados para jogar lenha em algum escândalo da imprensa e
incorporados a alguma narrativa midiática.
É o que fez Fernando Rodrigues, que divulgou apenas os nomes
envolvidos no escândalo do HSBC que também constam no inquérito da operação Lava
a Jato.
Com extraordinária submissão, Rodrigues garante que outros
nomes não irão vazar, apesar de informar que, no caso do Brasil, “são 6.606
contas bancárias (que atendem a 8.667 clientes) e um valor
movimentado/depositado (em 2006 e/ou 2007) de cerca de US$ 7 bilhões – o
equivalente a cerca de R$ 20 bilhões, um montante próximo ao que o governo da
presidente Dilma Rousseff precisa economizar em 2015 para fazer o ajuste fiscal
do país.”
20 bilhões de reais!
Rodrigues admite que, na lista, há “empresários, banqueiros,
artistas, esportistas, intelectuais”.
Onde estão esses nomes? Por que não revelá-los?
O caso poderia gerar a um debate sobre o crime que mais
retira recursos da economia brasileira: a sonegação e a evasão fiscal.
Mas esses assuntos são evitados por nossa imprensa com um
fervor religioso.
Recentemente, a organização Tax Justice divulgou duas
notícias envolvendo o Brasil que foram completamente abafadas por nossa grande
imprensa.
Primeiro, foi o ranking internacional dos países que mais
detêm fortunas em paraísos fiscais. O Brasil está em quarto lugar, com nossos
super-ricos guardando no exterior, ilegalmente, mais de R$ 1 trilhão.
Em seguida, a mesma ONG divulgou outro estudo, posicionando
o Brasil em segundo lugar no ranking dos países com maior taxa de evasão fiscal
do mundo, só perdendo para a Rússia. Sendo que, em valor total, o Brasil sonega
280 bilhões de dólares por ano, contra 211 bilhões da Rússia.
Em valor, o Brasil só perde para os EUA.
A evasão fiscal dos EUA foi estimada em 337 bilhões de
dólares, mas isso corresponde a somente 2,3% do PIB de lá.
A nossa evasão fiscal corresponde a 13,4% do PIB!
O engraçado é que a mídia poderia, facilmente, usar essa
informação para bater no governo, exigindo maior controle sobre o vazamento de
nossas divisas.
Por que não o fez?
Porque essa é uma crítica que a mídia não quer fazer ao
governo.
O Globo prefere (como volta a fazer hoje), naturalmente,
defender o ajuste fiscal do Levy, que ao lado de corrigir algumas distorções,
dá umas mordidas desnecessárias em direitos dos trabalhadores.
Imagina se o Globo vai defender que a busca do saneamento
das contas públicas se dê pelo aumento de rigor sobre a evasão fiscal?
A nossa mídia prestou um silêncio obediente em relação ao
escândalo de sonegação da Globo.
Foi um fenômeno incrível, mas que serviu maravilhosamente
para iluminar a hipocrisia da nossa mídia.
O abafamento do escândalo revelou a existência de um cartel
poderoso, encabeçado pela Globo, que exerce um controle absoluto sobre milhares
de outras empresas de mídia.
Ninguém fala mal um do outro.
A nossa mídia é uma espécie de Estado Islâmico. Jornalista
que foge à regra, tem sua cabeça cortada em frente às câmeras. Empresa afiliada
ao cartel que divulga escândalo incômodo, perde contratos de publicidade.
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