Por Felipe Bianchi, no site do Centro de Estudos Barão de
Itararé:
Um caloroso debate sobre a luta pela democratização da
comunicação inaugurou, nesta sexta-feira (27), em Olinda/PE, o #3BloggerPE –
Encontro de Blogueiros e Ativistas Digitais do Pernambuco. Com direito à
demonstração de solidariedade à Venezuela – recentemente ‘condecorada’ pelos
Estados Unidos com o selo de ‘ameaça’ –, a atividade reuniu blogueiros,
jornalistas, estudantes e ativistas digitais de todo o estado.
A conferência ‘Democratizar é preciso – pela regulação
econômica da mídia’ contou com as presenças de Altamiro Borges, presidente do
Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé; Élcio Guimarães,
secretário de Comunicação da Prefeitura de Olinda; Rafael Buda, que articula o
núcleo pernambucano do Barão de Itararé; e a Cônsul Geral da Venezuela no
Recife, Carmen Nava Reyes, que saudou os presentes e coletou assinaturas pela
revogação do decreto de Barack Obama contra o país latino-americano. A mediação
ficou por conta de Lissandro Nascimento, presidente da Associação dos
Blogueiros do estado do Pernambuco (AblogPE).
Conforme ressaltou Altamiro Borges, a mídia está longe de
ser o quarto poder, que fiscalizaria os três poderes constituídos, mas, sim, um
segundo Estado – “só que não eleito pelo povo”. “A mídia brasileira, hoje, é um
Estado paralelo, controlado por oligarquias”, acrescenta, fazendo referência às
sete famílias que dominam o grosso dos meios de comunicação no país.
“A velha mídia, que ainda está na época do feudalismo, detem
um poder monstruoso, que mexe com a subjetividade humana e o imaginário das
pessoas e que está atrelado a interesses políticos e econômicos”, afirma. “Ela
interfere de forma agressiva na sociedade, pois informa e desinforma, forma e
deforma. É por causa disso que se discute, no mundo todo, como estabelecer
regras para que esse poder não se torne um perigo para as democracias”.
Ele lembra os exemplos da Inglaterra e dos Estados Unidos,
que desde a década de 1920 possuem mecanismos de regulação da comunicação, para
desconstruir o mantra tão repetido pelos barões da imprensa brasileira de que
‘regular é censura’. “A mídia colonizada adora paparicar os EUA, mas não fala
que lá existe o Federal Communications Comission (FCC – espécie de Conselho de
Comunicação). Na Inglaterra, existe o Ofcom. Há muito tempo se debate, isso
pois a comunicação, como qualquer atividade econômica, tende ao monopólio e
precisa de regras”, argumenta. Com humor, Miro questiona: “A Rainha Elizabeth
II também é chavista e bolivariana?”.
Ele evoca a própria Constituição Federal, citando pontos
relevantes à democratização da comunicação já previstos na carta magna
brasileira e jamais regulamentados. “Se fosse levada a sério, aprimoraríamos e
muito a nossa democracia, já que a Constituição prevê, entre outras coisas, a
proibição do monopólio e do oligopólio, a complementaridade entre os sistemas
privado, público e comunitário de comunicação e o fomento da produção regional
e independente”, diz.
“Já tivemos 19 tentativas de regular a comunicação no Brasil
– todas interceptadas. Até os militares e Fernando Henrique Cardoso tiveram
projetos na área. Nenhum avançou”, recorda. “Temos liberdade de monopólio, não
liberdade de expressão ou de imprensa”, sentencia o blogueiro.
O que fazer?
Crítico à inércia dos governos Lula e Dilma em relação ao
tema, Borges avalia que a ideia de um “pacto de não-agressão” com a mídia
falhou, já que ambos os presidentes “apanharam e seguem apanhando
diuturnamente”. Em sua opinião, o cenário parece estar mudando após o papel
extremamente partidarizado cumprido pelos grandes meios de comunicação nas
eleições de 2014. “Dilma finalmente falou em regulação econômica da mídia, o
que é uma sinalização importantíssima".
Em relação à conjuntura complexa instalada no país, o
jornalista acredita que as manifestações de ódio nunca foram tão explícitas em
nossa sociedade e que isso é resultado direto da atuação da mídia. “Ela botou o
ovo da serpente”, diz. “O papel dos movimentos e ativistas digitais é muito
simples, já que Dilma dá sinalizações de enfrentamento ao império midiático:
aumentar a pressão”.
Uma ferramenta mencionada por Miro é o Projeto de Lei da
Mídia Democrática, o ‘PLIP’, de Iniciativa Popular (saiba mais aqui). Outra, “é
fortalecer rádios e TVs comunitárias, veículos sindicais e, sobretudo, o
ativismo digital, incluindo os blogs, para que se multipliquem, qualifiquem e
se defendam dos constantes ataques e perseguições”.
Pernambuco: perspectivas e mobilização
Fundada em 2013 nos moldes da Empresa Brasil de Comunicação
(EBC), a Empresa Pernambuco de Comunicação é fruto da articulação entre
sociedade civil e movimentos que debatem e discutem a comunicação no estado.
Segundo Rafael Buda, trata-se de uma experiência inovadora, que fortalece a
comunicação pública no estado. “Claro que precisamos de recursos, investimento
e desenvolvimento, mas é um passo enorme para a região", afirma.
Além disso, ele salienta que a AblogPE já conta com mais de
400 blogueiros. “São diversas iniciativas que nos propiciam uma experiência
rica no campo das mídias alternativas. Há uma vasta produção colaborativa e
independente se desenrolando no estado, em um processo que reconfigura as
disputas midiáticas em nossa sociedade. Com um passo de cada vez, vamos criando
musculatura”.
Buda aproveitou o encontro e fez um chamado à criação do
núcleo do Barão de Itararé em Pernambuco. “A ideia é congregar quem esteja
interessado nas pautas da entidade, pela luta da democratização da comunicação,
para atuarmos em nosso estado".
Élcio Guimarães, Secretário de Comunicação de Olinda,
exaltou a realização do #3BloggerPE: “Estamos neste evento porque entendemos
que é fundamental estimularmos a diversidade informativa em nosso país”. De
acordo com ele, não existe exercício da cidadania sem o direito à informação e
à comunicação, assim como não existe ponto e contraponto na mídia brasileira.
“Por isso, discutir a importância da liberdade de expressão, no momento pelo
qual o país passa, dá a esse encontro um significado muito especial. São 480
anos de Olinda, uma cidade com um forte passado político e cultural.
Respeitamos todas as opiniões e exaltamos a importância da blogosfera e do
ativismo digital nas lutas do cotidiano”.
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