Se o “Faz a Diferença” tivesse 50 anos quem a Globo teria homenageado?

O prêmio “Faz a Diferença”, do jornal O Globo, está em sua 12ª edição e nesta quarta-feira (18) homenageou como “personalidade do ano” o ínclito juiz Sérgio Moro. Mas imaginemos que o prêmio, ao invés de estar na 12ª edição, estivesse na 50ª edição. Quem teria sido homenageado pelo jornal em 1965?
Levando-se em conta que O Globo foi um entusiástico apoiador da ditadura militar instalada em nosso país e que, como pagamento, recebeu dos generais diversos favores que possibilitaram a construção do atual poder do Grupo Globo, fizemos um pequeno exercício de imaginação para supor quem seriam os primeiros homenageados pela Globo caso o prêmio tivesse sua edição número um em 1965. Queremos que a Globo encare esta iniciativa como uma primeira e singela homenagem do Notas Vermelhas pelos 50 anos da TV Globo, fundada em 26 de abril de 1965. Outras homenagens virão. Nossas e do movimento social que já está preparando diversas ações para não deixar passar em branco esta data funesta para a democracia, para os trabalhadores e para a cultura nacional. ONotas Vermelhas está aberto às sugestões dos internautas para os homenageados dos anos posteriores.
1º PRÊMIO FAZ A DIFERENÇA 1965
Personalidade do ano: General Castelo Branco, primeiro ditador a ostentar o título de presidente depois do Golpe Militar de 1964.
Categoria Brasil: Maria Paula Caetano da Silva, fundadora da União Cívica Feminina, promotora da Marcha da Família com Deus pela Liberdade, que onze dias antes do Golpe, pediu a deposição de João Goulart por conta da ameaça comunista e da corrupção.O jornal O Globo faria uma matéria sobre a entrega do prêmio, mais ou menos assim:
1º PRÊMIO FAZ A DIFERENÇA 1965
Personalidade do ano: General Castelo Branco, primeiro ditador a ostentar o título de presidente depois do Golpe Militar de 1964.
Categoria Brasil: Maria Paula Caetano da Silva, fundadora da União Cívica Feminina, promotora da Marcha da Família com Deus pela Liberdade, que onze dias antes do Golpe, pediu a deposição de João Goulart por conta da ameaça comunista e da corrupção.O jornal O Globo faria uma matéria sobre a entrega do prêmio, mais ou menos assim:
O tom dos discursos foi de agradecimento ao principal homenageado, presidente Castelo Branco, e à senhora Maria Paula por terem ajudado, com a marcha e a revolução de 1964, a salvar a democracia. Várias personalidades fizeram uso da palavra denunciando o estado de coisas antes da revolução, para a qual a marcha com Deus pela Família foi tão importante, por mostrar que era o povo que exigia a intervenção dos militares para derrotar os comunistas.
RC fala sobre qual era a situação antes da revolução: “uma máfia tomou de assalto o Estado e transformou a coisa pública em ‘cosa nostra’. Fingir que a solução para o problema é ‘mais democracia’, ou ‘mais participação popular’ (...) é um atentado à inteligência dos brasileiros” (1).
Na mesma linha AJ acusava o deposto governo Jango de estar tomado de comunistas, pois havia “demonstrações de bolchevismo arcaico nos arredores do governo” (2).
RR defendeu o fechamento dos partidos: “O partido de militantes é um partido de corrosão de caráter. Você não tem mais, por exemplo, juiz ou jornalista; tem um militante que responde ao seu dirigente partidário (...)” (3).
Já ZV repudiou a “ridícula hipótese da ação da CIA” em apoio à revolução e exaltou a Marcha Pela Família, que respaldou o movimento militar, ressaltando que “mais importante do que a quantidade, (o melhor) foi o bom comportamento da maioria dos participantes” (4).
RD também prestou sua reverência à marcha, dizendo que a manifestação da União Cívica Feminina e de outras organizações, não foi “encarnada pelo falso vermelho, e (sim) marcada pelo verde-amarelo. O verde-esperança e o ouro sem mácula que pintam o coração de milhares de brasileiros” (5).
Para RA, agora que a Revolução militar triunfou está na hora de a “imprensa decidir e passar a defender os valores que são da democracia, da economia de mercado e do individualismo, e que não se vai dar trela para quem quer a solapar” (6).
Em seu discurso, o homenageado, o grande estadista presidente Castelo Branco, justificou todas as esperanças depositadas no movimento por ele liderado. Relembrou o presidente, sob constantes aplausos da seleta plateia de empresários, jornalistas e convidados, que em seu primeiro ano mandou 400 pms invadirem a Universidade de Brasília (reduto de comunistas), cassou os direitos políticos do ex-presidente Juscelino Kubitschek, criou o SNI, implantou a lei de greve que na prática impede as greves, prorrogou o próprio mandato, e o que ele pessoalmente considera o mais relevante, extinguiu o Comando Geral dos Trabalhadores (CGT), as Ligas Camponesas, a UNE e a UBEs. Neste instante, a plateia presente ao 1º Prêmio Faz a Diferença levantou-se para aplaudir de pé o general. Notava-se que os olhos de RC, AJ, ZV, RD e RA estavam marejados d’água, pela contagiante emoção do momento. O único incidente constrangedor aconteceu quando um jornalista que, depois verificou-se, conseguiu entrar sem ser convidado, abordou o general com uma absurda pergunta sobre rumores de que o regime estava torturando e matando opositores. O general respondeu que isso “era uma calúnia”. O Globo se desculpa com o presidente e denuncia que o jornalista trabalha em um “jornal sujo”, súcia de militantes comunistas. Castelo Branco respondeu que em breve tal jornal será fechado. A nação respira aliviada.
RC fala sobre qual era a situação antes da revolução: “uma máfia tomou de assalto o Estado e transformou a coisa pública em ‘cosa nostra’. Fingir que a solução para o problema é ‘mais democracia’, ou ‘mais participação popular’ (...) é um atentado à inteligência dos brasileiros” (1).
Na mesma linha AJ acusava o deposto governo Jango de estar tomado de comunistas, pois havia “demonstrações de bolchevismo arcaico nos arredores do governo” (2).
RR defendeu o fechamento dos partidos: “O partido de militantes é um partido de corrosão de caráter. Você não tem mais, por exemplo, juiz ou jornalista; tem um militante que responde ao seu dirigente partidário (...)” (3).
Já ZV repudiou a “ridícula hipótese da ação da CIA” em apoio à revolução e exaltou a Marcha Pela Família, que respaldou o movimento militar, ressaltando que “mais importante do que a quantidade, (o melhor) foi o bom comportamento da maioria dos participantes” (4).
RD também prestou sua reverência à marcha, dizendo que a manifestação da União Cívica Feminina e de outras organizações, não foi “encarnada pelo falso vermelho, e (sim) marcada pelo verde-amarelo. O verde-esperança e o ouro sem mácula que pintam o coração de milhares de brasileiros” (5).
Para RA, agora que a Revolução militar triunfou está na hora de a “imprensa decidir e passar a defender os valores que são da democracia, da economia de mercado e do individualismo, e que não se vai dar trela para quem quer a solapar” (6).
Em seu discurso, o homenageado, o grande estadista presidente Castelo Branco, justificou todas as esperanças depositadas no movimento por ele liderado. Relembrou o presidente, sob constantes aplausos da seleta plateia de empresários, jornalistas e convidados, que em seu primeiro ano mandou 400 pms invadirem a Universidade de Brasília (reduto de comunistas), cassou os direitos políticos do ex-presidente Juscelino Kubitschek, criou o SNI, implantou a lei de greve que na prática impede as greves, prorrogou o próprio mandato, e o que ele pessoalmente considera o mais relevante, extinguiu o Comando Geral dos Trabalhadores (CGT), as Ligas Camponesas, a UNE e a UBEs. Neste instante, a plateia presente ao 1º Prêmio Faz a Diferença levantou-se para aplaudir de pé o general. Notava-se que os olhos de RC, AJ, ZV, RD e RA estavam marejados d’água, pela contagiante emoção do momento. O único incidente constrangedor aconteceu quando um jornalista que, depois verificou-se, conseguiu entrar sem ser convidado, abordou o general com uma absurda pergunta sobre rumores de que o regime estava torturando e matando opositores. O general respondeu que isso “era uma calúnia”. O Globo se desculpa com o presidente e denuncia que o jornalista trabalha em um “jornal sujo”, súcia de militantes comunistas. Castelo Branco respondeu que em breve tal jornal será fechado. A nação respira aliviada.
Os textos dos fictícios depoimentos foram trechos verdadeiros extraídos de artigos dos seguintes articulistas:
- Rodrigo Constantino (24/2/2015).
- Arnaldo Jabor (19/4/2011).
- Roberto Romano (2/3/2010).
- Zuenir Ventura (18/3/2015).
- Roberto Damatta (18/3/2015).
- Reinaldo Azevedo (2/3/2010).
Aliás...

Aliás... (2)
Depois de tantas citações o Notas Vermelhas encerra com mais uma, só que desta vez extraído de um texto de Guilherme Boulos de julho de 2014: “Impressiona o baixo nível intelectual dos representantes da direita no debate público nacional. Não elaboram, não buscam teoria nem referências. Não fazem qualquer esforço para interpretar seriamente a realidade. Apenas atiram chavões, destilando preconceitos de senso comum e ódio de classe”.
Colabore com o Notas Vermelhas: envie sua sugestão de nota ou tema para o email wevergton@vermelho.org.br
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