Por Altamiro Borges
Uma notinha no site da revista “Época” agitou as redes
sociais nestes dias. Segundo relato do jornalista Murilo Ramos, “o
ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa recebeu R$ 60 mil por
uma palestra de uma hora que proferiu em 13 de abril na cidade de Itajaí, Santa
Catarina, cujo tema foi Ética e a administração. Quem arcou com as despesas –
incluindo passagens, segurança e hospedagem – foi a Câmara de Vereadores do
município, que delegou a contratação de Barbosa a terceiros. Para aceitar o
convite, Barbosa impôs condições em contrato. Entre elas sigilo do valor
cobrado pela palestra e a liberdade de deixar de responder a perguntas
consideradas ‘inadequadas’. ‘O patrimonialismo faz parte do nosso DNA’,
discursou Barbosa”.
De imediato, os internautas questionaram o valor da palestra
e os gastos excessivos da Câmara dos Vereadores. O jornalista Paulo Nogueira,
do imperdível blog “Diário do Centro do Mundo”, ironizou: “Que pecado o cidadão
de Itajaí cometeu para ter que pagar 60 mil reais por uma hora de Joaquim Barbosa?”.
O seu texto rapidamente bombou nas redes sociais. Vale conferir:
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E então temos o seguinte: o cidadão de Itajaí foi obrigado a
pagar 60 mil reais por uma palestra de uma hora de Joaquim Barbosa.
Este é o Batman, o campeão da ética, “o garoto pobre que
mudou o Brasil”, segundo a Veja, naquela que foi uma das mais idiotas chamadas
de capa já produzidas por uma revista em toda a história em qualquer lugar do
mundo.
Mil reais por minuto. Este, ficamos sabendo, é o preço de
Barbosa. Vazou de alguma forma, porque segundo o contrato o valor era sigiloso.
Seria um assalto ao contribuinte de Itajaí de qualquer
forma. Mesmo que a palestra fosse em praça pública, aberta a todos os
interessados, há outras maneiras mais inteligentes de gastar 60 mil reais em 60
minutos, você há de convir.
Mas este é Joaquim Barbosa, o paladino que não hesitou em
queimar 90 mil reais de dinheiro público numa reforma dos banheiros do
apartamento funcional que utilizou por tão pouco tempo.
Repito: mas este é Joaquim Barbosa, o incorruptível que
inventou uma empresa para sonegar impostos na compra de um apartamento em
Miami.
Quando você prega moralidade e na sombra faz coisas
impublicáveis, isso quer dizer que você é um demagogo.
Pois é exatamente este o título que deveria estar hoje no
cartão de visitas de JB, ou nas propagandas de suas palestras: demagogo.
No STF, ele foi um péssimo exemplo para a sociedade.
Deslumbrado com as lantejoulas cínicas da mídia, ele presidiu o julgamento mais
iníquo do Brasil.
Joaquim Barbosa levou às culminâncias o conceito de justiça
partidária, em que você julga alguém não pelo que fez ou deixou de fazer, mas
pelo partido a que pertence.
Enquanto teve poder, foi mesquinho, intolerante – repulsivo.
Não surpreende que seja admirado exatamente por pessoas com aquelas
características, e abominado por progressistas de toda ordem.
Saiu do STF porque, com a chegada de novos ministros, ficou
em minoria. Não teve sequer a coragem de defender suas ideias conservadoras e
pró-1% em ambiente não controlado.
Estava na cara que ia fazer palestras.
A direita se defende e se protege: arruma palestras
milionárias para aqueles que vão fazer pregações contra qualquer coisa parecida
com a esquerda, e sobretudo contra Lula e o PT.
Mau exemplo no STF, Joaquim Barbosa continua a ser mau
exemplo fora dele.
Entre palestras, arrumou tempo para fazer uma bajulação
abjeta à Globo por seus 50 anos.
A emissora que foi a voz da ditadura se converteu, nas
palavras de JB, na empresa generosa à qual os brasileiros devemos, pausa para
gargalhada, a integração.
A emissora que é um símbolo da hegemonia branca, e que
advoga ferozmente contra políticas de afirmação, foi colocada num patamar de
referência em seu universo na inclusão de negros.
Joaquim Barbosa foi uma calamidade para o Brasil no STF, e
longe dele, arrecadando moedas em palestras, continua a projetar sombras nada
inspiradoras.
É, como Moro hoje, o falso herói, condição fatal de todos
aqueles que a plutocracia, para perpetuar sua predação, tenta transformar em
ídolo popular.
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Diante da repercussão negativa na internet, o próprio site
da revista Época – que pertence à famiglia Marinho, dona da citada Rede Globo –
apressou-se em tentar limpar a barra do midiático ex-presidente do STF. Numa
nota intitulada “Barbosa diz que não sabia que o dinheiro era da Câmara”,
Murilo Ramos registrou sem maiores questionamentos: “Barbosa disse que a sua
empresa foi contratada por uma agência que organiza palestras e desconhecia sua
relação com apoiadores privados e particulares. Para a imagem da Câmara de
Vereadores, a contratação de Barbosa foi um ótimo negócio”. Para quem afirmou –
em tom demagógico – que “o patrimonialismo faz parte do nosso DNA”, Joaquim
Barbosa devia era devolver a grana dos munícipes de Itajaí. Será que ele topa?
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