É incrível como, no Brasil, basta rico soltar um peido que o
país para.
Autor:
Eduardo Guimarães
Na noite da última terça-feira, um bando de moradores de
bairros “nobres” de algumas capitais combinou pela internet de fazer um
“panelaço” durante o programa partidário do PT, garantido ao partido e aos seus
simpatizantes, militantes e eleitores pela Carta Magna. Esse protesto,
impossível de quantificar, foi parar no Jornal Nacional.
Segundo o insuspeito Estadão, em São Paulo as panelas soaram
em “bairros nobres, como Higienópolis, Jardins, Perdizes, Bela Vista, Tatuapé,
Vila Romana, Ipiranga, Morumbi, Pinheiros, Praça da Árvore, Vila Mariana,
Pompéia e Itaim Bibi.
Confira, aqui, a lista de bairros da capital paulista,
segundo a igualmente insuspeita revista Veja. São centenas. Eu não contei. Mas
olhe o link, depois, e diga se precisa…
Por aí dá para se ter uma ideia de quão poucos cidadãos –
que mal sabem onde fica a cozinha de seus imensos apartamentos – fizeram essa
manifestação de egoísmo contra um partido cuja obra social marcou tanto este
país que o mesmo partido já elegeu QUATRO presidentes da República em
sequência.
No Rio, os “panelaços” também se reduziram a bairros
“nobres” da Zona Sul, como Copacabana, Leme, Lagoa, Ipanema e Botafogo. Já em
bairros populares da Zona Norte, como o Grajaú, algum desavisado que aderiu às
manifestações da elite ouviu de volta gritos em favor de Lula – sempre segundo
o Estadão.
Lula não se elegeu em 2002, reelegeu-se em 2006, elegeu a
sucessora em 2010 e esta reelegeu-se em 2014 à toa. Sim, claro que Dilma
Rousseff perdeu popularidade, mas esse fenômeno decorre do medo do terrorismo
econômico – que conseguiu prejudicar a economia – e, tão logo a economia entre
nos eixos, as coisas irão mudar.
A menos que a sabotagem continue e alcance seu objetivo,
claro. Mas sabotar a economia é um jogo que a elite pode jogar por um tempo,
mas que não irá jogar mais quando a água começar a lhe bater na bunda.
O mesmo aconteceu em outras capitais, segundo o Estadão. Em
Florianópolis e Porto Alegre o jornal também relata que o “panelaço” ficou
mesmo lá nos bairros de rico.
Por que rico protesta contra o PT? Não é por medo do
terrorismo econômico. Eles sabem que não estão perdendo nada. O problema dessa
gente é aturar pobre em aeroporto, shoppings, universidades e até, ousadia das
ousadias, em restaurantes e casas noturnas da moda.
Precisa ser cego e surdo para dizer que não sabe quanto as
pessoas mais pobres melhoraram de vida desde 2003. As lojas estão cheias de
pobres comprando celulares, televisões de última geração; o desemprego, mesmo
tendo subido um pouco, ainda é um dos mais baixos da história; a quantidade de
universitários praticamente dobrou nos últimos 12 anos…
Mas boa parte dessas pessoas está com medo. A inabilidade do
governo ao promover o ajuste fiscal soou mal e conferiu verossimilhança a uma
cantilena sobre desastre econômico que vinha sendo martelada havia anos, mas
todos os analistas mais importantes – incluindo aí FMI, Banco Mundial e
agências de classificação de risco – preveem melhora a partir do ano que vem.
Então por que os ricos batem panela? Por que atacam um
ex-presidente que, segundo o Datafolha, não só melhorou a vida da imensa
maioria como também é considerado por essa maioria como o melhor presidente da
história?
É oportunismo, caro leitor. O PSDB, freguês do PT há quatro
eleições presidenciais seguidas, quer obter lucro eleitoral enquanto pode, por
isso estimula um grupelho de endinheirados de bairros “nobres” a servir de
massa de manobra. Gente preconceituosa, elitista, que acha que se tirar os
benefícios do pobre elegendo um governante pró ricos, vai sair ganhando.
Não vai. Este país está à beira de uma convulsão social há
muito tempo. Só ainda não ocorreu de o morro descer para o asfalto para cobrar
a nossa descomunal dívida social graças a alguém que essa elite cretina execra.
Ele mesmo, Lula.
Se não fosse a distensão social promovida pelos governos do
PT a partir de 2003, essa gente que bate panela para tirar direitos e
oportunidades de pobre talvez nem estivesse aqui para contar a história, pois
se – ou quando – o morro descer, vai cobrar a dívida social à bala.
Essa história de rico bater panela quando pobre melhora de
vida, vem de longe. Faz algum tempo, a Folha de São Paulo publicou reportagem
muito interessante que mostra que essa forma de protestar foi criada no Chile
no estertor do governo Salvador Allende, pouco antes de Pinochet dar o golpe.
O resultado daquilo todo mundo conhece.
Rico escolheu um jeito esdrúxulo de se manifestar
politicamente. O ato de bater panelas sugere protesto contra a fome, que foi
justamente o que os governos do PT combateram. E que tanto desagradou aos
paneleiros.
Quando rico bate panela para defender seus interesses
políticos, pobre ou remediado deve abrir o olho. Rico não se manifesta no
interesse dos de baixo. Essa classe social tão barulhenta não quer ver mais
pobres em aeroportos ou universidades, quer ver menos. Tem ojeriza ao povo. Não entre no jogo de uma gente que tanto mal
já fez ao Brasil.
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