terça-feira, 17 de novembro de 2015

Levandowski dá tiro de misericórdia no golpe numa sexta-feira 13

Mais uma vez se confirmam as previsões do jurista Dalmo de Abreu Dallari, quem deu a honra a esta página de fazer aqui a sua primeira previsão de que o golpe naufragaria no Supremo Tribunal Federal – em que pese tudo que aconteceu no julgamento do mensalão.

Mais adiante, o jurista, em entrevista ao programa de Web TV Contraponto, voltou a afirmar a este blogueiro que o golpe não passaria no STF. Lembrado do comportamento daquela Corte durante o julgamento do mensalão, o jurista ponderou que o atual STF difere muito daquele que condenou petistas sem provas, via invenção do “domínio do fato”.


Em 26 de agosto deste ano, naquela entrevista ao Blog, Dallari já deixava ver o que ocorreria se a Câmara insistisse em promover a farsa de mudar o rito constitucional para processos de impeachment de forma a afastar Dilma Rousseff por maioria precária daquela Casa Legislativa.

À época, o jurista chamou as pretensões de cassar Dilma de “fantasia política”.

Confira, abaixo, a pergunta e a resposta do jurista:

Blog da Cidadania — Alguns analistas já estão dizendo que a derrubada da presidente da República e a posse daquele que ela derrotou são favas contadas. O senhor concorda com isso ou acredita que o jogo não terminou e, apesar dessa decisão, é possível reverter o quadro no decorrer da ação?

Dalmo Dallari – Eu acho que não há o mínimo risco [de derrubada do governo] porque não tem consistência jurídica. Antes de mais nada, essa decisão [do TSE] foi só para reabertura [do processo], não é decisão do Tribunal condenando, reconhecendo falhas, erros, ilegalidades. É só reabertura da discussão. Isso tudo vai muito longe e a presidente Dilma tem o direito de ser ouvida, inclusive de exigir a verificação de documentos, a busca de provas e, eventualmente, até oitiva de testemunhas. Derrubada da presidente pelo TSE é apenas uma fantasia política. Do ponto de vista jurídico está muito distante a possibilidade de que, a partir daí [da decisão do TSE de reabrir o processo], se afaste a presidente Dilma Rousseff.

Eis, portanto, que o golpe falece em uma sexta-feira 13. Nesse dia, durante palestra em uma faculdade de Direito da capital paulista, o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Ricardo Lewandowski, deu a mais contundente declaração contra as tentativas de interrupção do mandato da presidente Dilma Rousseff.

Lewandowski disse que o País precisa ter maturidade para aceitar o resultado das eleições passadas. “Com toda a franqueza, devemos esperar mais um ano para as eleições municipais. Ganhe quem ganhe as eleições de 2016, nós teremos uma nova distribuição de poder. Temos de ter a paciência de aguentar mais três anos sem nenhum golpe institucional”, afirmou o presidente do STF.

Para Ricardo Lewandowski, a crise vivenciada atualmente no país tem mais fundo político do que econômico. “Estes três anos [após o ‘golpe institucional’] poderiam cobrar o preço de uma volta ao passado tenebroso de trinta anos. Devemos ir devagar com o andor, no sentido de que as instituições estão reagindo bem e não se deixando contaminar por esta cortina de fumaça que está sendo lançada nos olhos de muitos brasileiros”, afirmou.

Uau!

Sabe quem disse isso? O presidente de um dos três Poderes da República, o Judiciário. Agora, pois, dois terços dos Poderes constituídos estão contra o golpe. E, de quebra, Lewandowski ainda citou a conspiração golpista em curso ao acusar que uma “cortida de fumaça” está sendo “lançada nos olhos de muitos brasileiros”.

Não é pouco devido ao poder quase discricionário que tem o presidente do STF. Qual seja, a Pauta. Lewandowski põe e tira de pauta o que quiser, quando quiser. Dirão que o poder do presidente da Corte não é absoluto, não pode impedir que matérias entrem em votação. É verdade, mas aquele colegiado já demonstrou, recentemente, que não deixará que estuprem a Constituição com fins político-partidários-eleitorais.

A grande sorte deste país é que o momento político mais dramático desde a sua redemocratização se abateu sobre nós no momento em que um Poder tão determinante quanto o STF está sendo presidido por alguém da estatura moral e intelectual de um Ricardo Lewandowski, de quem passei a privar de uma relação mais próxima lá em 2012, quando publiquei o post mais lido desta página desde sua criação.

Em 11 de agosto, esta página publicou um desagravo ao ministro que recebeu 5.084 comentários. Alunos, ex-alunos, parentes, amigos, artistas deixaram mensagens de desagravo após a campanha difamatória que ele sofreu por ter se recusado a condenar réus do mensalão sem provas.

Diante disso, o ministro, mui gentilmente, convidou este blogueiro a ir ao STF entregar-lhe as manifestações dos leitores desta página em defesa de um homem íntegro, corajoso, que não teve medo de seguir a sua consciência apesar da campanha de desmoralização que a mídia e grupos políticos dispararam contra ele.

Há muito tempo este Blog vem dizendo que os devaneios golpistas estão fadados ao fracasso por conta do temor de ruptura institucional que moldou a Constituição de 1988. Confundem a facilidade que o Congresso teve para cassar Collor nos estertores de 1992.

O caso do ex-queridinho de Globo, Folha, Veja e Estadão foi muito diferente. Houve vários rastreios de dinheiro do esquema PC Farias nas contas pessoais do ex “caçador de marajás” que a mídia construiu no primeiro dos 26 anos durante os quais mantém uma guerra de aniquilação contra o PT e, sobretudo, contra Lula, quem a vem derrotando há quase 13 anos ininterruptos.

Não se sabe o que poderá ocorrer em 2018. A direita nunca teve chance melhor de voltar ao poder desde que Lula venceu sua primeira eleição presidencial. Pode ser que o quadro político continue como o de hoje durante os próximos três anos e um tucano – ou Marina Silva – vença.

Esse é o pior quadro para o PSDB. Mesmo que Lula não saia candidato ou seja um candidato sem força suficiente para enfrentar tudo que se armou contra ele mesmo e contra a PT – e também tudo o que o partido fez consigo mesmo -, uma coisa é certa: o PSDB fica mais longe do Poder sem uma perspectiva de impeachment.

Marina Silva seria a adversária mais à esquerda e, na ausência de opções, a esquerda – inclusive a petista – votará nela em peso para impedir a volta dos tucanos, que todos sabem o que significaria para o país.

Não que eu ache Marina uma boa opção ou uma opção de esquerda – se acham que Lula endireitou, esperem para ver o que aconteceu com Marina se ela chegar ao poder.

Mas é claro que ela não representa a volta da ultradireita que se envolveu nessa orgia política com o ex-partido da “social democracia” brasileira, o PSDB.

Enfim, só posso concordar com o amigo Ricardo Lewandowski, quem diagnosticou bem um dado alentador que deve nos fazer refletir muito: as instituições brasileiras estão resistindo bem ao famigerado golpismo que marcou a história política deste país.


Alvíssaras!

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