O golpe jurídico-político volta a centrar sua mira contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Nesta sexta-feira (20), a Polícia Federal deflagrou operação em que quatro pessoas que, segundo o órgão, teria ligação com o ex-presidente foram alvo.
Instituto Lula
Lula concedeu entrevista a três veículos internacionais, entre ele a TeleSur
Desde o começo da semana, o Jornal Nacional, da Rede Globo, voltou a divulgar com “exclusividade” trechos vazados de documentos sigilosos da Procuradoria-Geral da União que, supostamente, utiliza a delação do ex-senador Delcídio do Amaral como base de acusações requentadas contra o ex-presidente.
Lula, por sua vez, voltou a conceder entrevistas denunciando o golpe e as manobras de ilações da direita para destruir 13 anos de avanços e conquistas. Ele concedeu entrevistas a três veículos internacionais: a espanhola TVE, a russa RT e a venezuelana TeleSur.
Num dos depoimentos, ele relatou o sentimento que teve ao ver a presidenta Dilma Rousseff ser afastada do seu legítimo mandato, após decisão do Senado, dia 12 de maio, quando presidenta deixou o Palácio do Planalto.
"Não me senti confortável, estava muito triste. Não era apenas uma presidenta que estava deixando a Presidência de forma abrupta. Era um projeto de sonho, de inclusão social, que mostrou para o mundo que fica muito fácil você resolver os problemas do povo pobre quando você deixa de tratá-los como estatística ou problema social e trata como gente, como ser humano que tem direitos e deveres. Os pobres mal experimentaram conquistas sociais e já estão querendo tirar essas conquistas sociais dos pobres. Foi o dia da indignação pra mim", declarou Lula.
Seletividade
Na operação deflagrada pela PF, que cumpriu mandados de busca e apreensão e condução coercitiva em Santos e São Paulo, está o empresário Taiguara Rodrigues dos Santos, filho do irmão da ex-mulher de Lula, que foi levado para depor. Mas as manchetes dos jornais estampavam: “sobrinho de Lula” ou “parente de Lula”.
De acordo com a PF, o objetivo é apurar suposto tráfico de influência. Taiguara é dono da Exergia, uma empresa sediada em Santos que foi contratada pela Odebrecht para atuar em um empreendimento da construtora em Angola. Vale lembrar que a empreiteira atua em Angola há mais de 30 anos, portanto, bem mais que os 13 anos de governo Lula e Dilma.
Mas as medidas cumpridas hoje têm como meta esclarecer quais razões para a Odebrecht ter celebrado contratos, entre 2012 e 2015, com uma empresa de construção civil de pequeno porte para serviços nas obras de reforma do complexo hidrelétrico de Cambambe.
Na linha de mostrar que o governo do gabinete do sem voto veio para trazer “a governabilidade”, os jornais deram amplo destaque para a operação e para o vazamento ilegal da Rede Globo, mantendo o ataque contra a imagem dos ex-presidente.
Vazamento exclusivo
Sobre o vazamento, por meio do Instituto Lula, o ex-presidente rechaçou a nova fase de factoides. “É inaceitável o fato de os telejornais da Rede Globo, terem, em suas edições, dado intensa publicidade a mais um criminoso vazamento de peça anexada a procedimento que tramita sob segredo de justiça no Supremo Tribunal Federal”, afirma.
Segundo ele, a denúncia acusa Lula com base em supostos diálogos que teria mantido com o senador cassado Delcidio do Amaral, então líder do governo. "Mas nenhuma prova do conteúdo dessas conversas foi apresentada. Não há gravação, não há testemunha, mas apenas trechos da delação premiada de um réu confesso - o ex-senador - em troca da liberdade e do abrandamento de sua pena corporal e, ainda, de uma redução substancial na obrigação de restituir valores em favor da Petrobras e da União”, enfatiza.
Para o ex-presidente, o vazamento tem o claro “objetivo de propiciar o espetáculo midiático, afronta as garantias constitucionais, especialmente a presunção de inocência e o devido processo legal”. E finaliza: “A tentativa de desconstrução de sua imagem e reputação, mediante a utilização indevida da persecução penal, é reprovável e deverá ser recusada pela Justiça”.
O Instituto denuncia ainda que, na noite da quarta-feira (18), o Jornal Nacional fez o contato por uma resposta apenas às 20h09 da noite, isto é, 20 minutos antes do jornal ser levado ao ar e 40 minutos antes da matéria ser veiculada. "O prazo dado para a resposta foi de 26 minutos", aponta.
A assessoria do ex-presidente frisou ainda que a produção da reportagem, que contou com material gráfico e passagens externas da repórter Camila Bomfim, indica que não se trata de matéria produzida de última hora, ou seja, o "improviso, apenas o contato para que o ex-presidente pudesse oferecer sua versão dos fatos".
"Apesar do prazo absurdo, a assessoria do Instituto Lula enviou nota ao Jornal Nacional às 20:31. A nota rebate as supostas "provas" apresentadas na denúncia da PGR e explica o caso. Trata-se de material que, analisado sob um jornalismo sério e criterioso, precisaria ter suas afirmações checadas e poderia até mudar os rumos da apuração", denunciou Lula.
E finalizou: "O Jornal Nacional preferiu censurar o texto e dar o caso por encerrado: apenas o primeiro parágrafo foi lido no ar. Ou seja, efetivamente, a TV Globo, pelas mãos da repórter Camila Bomfim, produziu reportagem completamente alheia ao "outro lado", transformando o diálogo com o alvo de acusações inverídicas sendo divulgadas ilegalmente em um gesto apenas protocolar".
Do Portal Vermelho, Dayane Santos
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