Eduardo Guimarães é responsável pelo
Blog da Cidadania
11
de Junho de 2016
Quem atribui a ascensão espantosa da
direita no Brasil aos “erros” de Dilma deveria refletir sobre o que está
acontecendo no continente Americano. Da Argentina aos EUA, as Américas estão
guinando à direita…
Na América do Sul, a esquerda naufragou
por toda parte após muito anos no poder. Argentina, Brasil, Bolívia, Equador,
Paraguai, Peru e Venezuela estão indo ou já foram para a direita. Mas não é só.
Nos EUA, um candidato ultraconservador
visto como piada pelos analistas sérios está subindo sem parar. Apesar de o
histriônico Donald Trump ter aparecido em pesquisa recente com 11 pontos a menos que Hillary Clinton,
ele vem subindo e em algumas pesquisas já aparece encostado nela
Só para lembrar: Trump é autor de
propostas como a de construir um muro separando o México dos Estados Unidos ao
longo da imensa fronteira entre os dois países para conter a imigração ilegal.
Por que isso está acontecendo?
No Brasil, dizem que a direita se
fortaleceu devido aos “erros” de Dilma Rousseff. Acho que eventuais erros que
ela pode ter cometido, todo governante erra. FHC errou, Lula errou. E, no
Brasil, a esquerda deu uma ajuda inestimável à direita com as “jornadas de
junho”, mas mesmo que não tivesse dado dificilmente não estaríamos enfrentando
problemas como em todos os outros países das Américas devido à prolongada crise
econômica que se abateu sobre o mundo a partir de 2008.
A crise derrubou primeiro a esquerda e
a direita europeias que estavam no poder na década passada porque bateu forte
por lá também em primeiro lugar, enquanto que a América Latina demorou mais a
entrar em crise porque foi beneficiada pelos governos de esquerda locais, que
acertadamente se voltaram para a China quando os Estados Unidos começaram a
naufragar na crise do subprime
Mas, então, por que os EUA não foram
para a direita na reeleição de Obama, em 2012? Porque ele pegou a bomba em 2009
e a destruição temporária da economia norte-americana começou em 2008.
Obama assumiu em 2009 com programas
econômicos e sociais que aliviaram a penúria dos estadunidenses, de modo que
contou com maior boa vontade de seu povo.
Contudo, os Estados Unidos praticamente
já saíram da crise e Hillary Clinton não tem o carisma de um Obama nem conta
com a mesma necessidade que o país teve nos anos anteriores de ter um governo
com sensibilidade social.
Com isso, o discurso populista de Trump
deve ecoar forte nesse cenário.
Sempre digo que se o Brasil tivesse
continuado a distribuir renda, a aumentar salários, o nível de emprego e a
reduzir a desigualdade, não haveria Lava Jato que ajudasse a direita. Mas como
a operação foi concebida mais para abalar a economia – a fim de ajudar a
direita – do que para combater a corrupção – já que só prendeu esquerdistas ou
aliados do PT até hoje.
Contudo, as Américas, sobretudo a
América Latina, tiveram seus melhores momentos, do ponto de vista social,
durante os governos petistas. As pessoas têm memória disso. No momento, essas
memórias estão sepultadas pela conjuntura econômica, mas as medidas que a
direita que está chegando pretende adotar irão reaviva-las.
Se a direita brasileira, por exemplo,
produzisse bem-estar social para a maioria, eu mesmo a apoiaria. Afinal, pouco
importa o rótulo de quem governa; o que importa é como se governa.
Contudo, é impossível a direita
governar e produzir bem-estar social, do contrário não seria direita. A direita
não governa para o povo, governa para os ricos, para os empresários e
rentistas. Não tem preocupação social.
Note bem, leitor, o discurso de um
governo que nem assumiu definitivamente. Temer, em seu primeiro mês, sem saber
se vai permanecer ou se terá que sair para a volta de Dilma, já anunciou
projetos “populares” como reduzir o sistema público de saúde e cortar direitos trabalhistas.
Além disso, o ajuste fiscal que Temer
pretende fazer pode atingir a marca espantosa de 360 bilhões de reais contra
cerca de 100 bilhões propostos por Dilma. A restrição de gastos impositiva no
orçamento pretende diluir a conta ao longo do tempo, mas, cedo ou tarde, o
governo golpista, se se confirmar sua permanência, irá promover um arrocho
fiscal de proporções gigantescas. Só está esperando a confirmação do
impeachment de Dilma para começar.
A mesma coisa irá se repetir por toda
parte. Na Argentina, por exemplo, em breve o arrocho promovido pelo governo
Macri começará a pavimentar a volta da esquerda ao poder.
É ilusão achar que será possível evitar
a volta da direita ao poder. Ela vai voltar. E terá que voltar para que as
pessoas caiam em si.
No Brasil, por exemplo, setores da
esquerda chegaram a dizer que o governo Dilma e um governo do PSDB, por
exemplo, seriam “a mesma coisa”. Essa esquerda precisa aprender quão absurda é
uma afirmação como essa.
Só passando por um governo conservador
este país entenderá quanto perdeu com a saída de Dilma. Será um aprendizado
democrático.
Um amigo disse que o preço a pagar por
esse aprendizado é muito alto. Ora, quanto maior o erro cometido maiores são as
consequências que acarreta. A maioria do nosso povo errou muito ao apoiar o
golpe contra Dilma. As consequências serão muitas.
Mas não nos enganemos, por mais que o
governo Dilma e as esquerdas tenham errado, a volta da direita a tantos países
das Américas era inevitável. A política, assim como a economia, é cíclica;
alterna-se entre esquerda e direita.
É “só isso” o que está acontecendo. Mas
como a direita massacra o povo quando governa, sua passagem pelo poder será
efêmera. Escrevam aí o que leram aqui.
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