O tema de combate à
fome incomodou católicos apoiadores de Bolsonaro que acusam a campanha de
solidariedade de ser comunista
por Murilo da Silva
Publicado 24/02/2023 16:58
Foto CNBB
A solidariedade
para o combate à fome parece não ser um valor que os católicos bolsonaristas
queiram celebrar. Após o lançamento Campanha da Fraternidade 2023 pela
Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), católicos de extrema direita
apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro utilizaram as redes sociais para
atacar a ação que marca o período da Quaresma.
Em um vídeo chamado
“Saiba tudo sobre a Campanha da Fraternidade de 2023!”, o Centro Dom Bosco, que
reúne católicos de direita, acusa a Campanha de ser herege pelos princípios
divulgados no material de divulgação, contesta dados sobre a fome no Brasil,
ataca o sentido ecumênico adotado pela CNBB em outras oportunidades e faz
associação da entidade ao que chama de “Estado socialista”. O vídeo é
apresentado pelo vice-presidente do Centro, Alvaro Mendes.
Leia também: Campanha da Fraternidade tem como tema o enfrentamento à
fome
Já o bolsonarista
Bernardo Küster, investigado no Supremo Tribunal Federal (STF) no inquérito das
fake news, tem feito uma série de vídeos contra a Campanha. Os títulos dos
vídeos demonstram o que se encontra no conteúdo: “URGENTE: Ministro Petista na
Campanha da Fraternidade 2023”/ “Politização marxista na Campanha da
Fraternidade 2023”/ A Campanha da Fraternidade mais PERIGOSA de TODAS.
Em suas redes, o
seguidor de Olavo de Carvalho coloca que o sentido da Campanha é “Fortalecer a
propagação da Teologia da Libertação no Brasil”. Para Küster as evidências
disso são menções a Betinho (Hebert Souza), ativista de direitos humanos
classificado por ele como guerrilheiro comunista, assim como a referência ao
trabalho do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), encontradas na
cartilha de divulgação da Campanha. O influencer católico também contesta os
dados sobre a fome no Brasil que diz serem “mentirosos”.
O bolsonarista
chega a divulgar o elogio do presidente Lula à CNBB como prova da relação de
Lula com a Teologia da Libertação no sentido de uma “revolução comunista”.
O apelo dele pelo
boicote à Campanha de solidariedade serviu para reunir hordas bolsonaristas nos
comentários dos vídeos e das postagens. Mas além de polemizar se utilizando da
fé e do combate à fome ao atacar uma instituição respeitada como a CNBB, Küster
quer mesmo é vender livros e artigos religiosos em sua loja online e emplacar
cursos. Para isso promove aulas online gratuitas para reunir seguidores sob o
pretexto, agora, de identificar e combater os perigos da Campanha da
Fraternidade no sentido de “livrar a sua paróquia dos inimigos da
fé”.
Fraternidade e Fome
A Conferência
Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) lançou na quarta-feira (22) a Campanha da Fraternidade 2023. O tema deste
ano é “Fraternidade e Fome” e visa alertar a população brasileira sobre a
situação das mais de 33 milhões de pessoas que vivem em
insegurança alimentar no país, de acordo com dados de 2022
revelados pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança
Alimentar (Rede PENSSAN).
O tema da Campanha,
que desde 1964 marca o início da Quaresma, tem como lema este ano o trecho bíblico
de Mateus 14, 16: “Dai-lhes vós mesmos de comer!”.
Durante o
lançamento realizado na capela Nossa Senhora Aparecida, na sede da CNBB, em
Brasília, foi transmitida uma mensagem do Papa Francisco direcionada
aos brasileiros sobre o tema da fome.
*Com informações
Metrópoles
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