Em 1922, Lênin começou a se sentir tão doente que os médicos sugeriram que ele poderia ter sido envenenado por balas de chumbo que permaneceram em seu corpo após a tentativa de assassinato em 30 de agosto de 1918
por Gueórgui Manáev
Publicado 27/01/2024 10:30 | Editado 27/01/2024 10:33
Em julho de 1921,
três anos antes da morte, Lênin escreveu ao escritor soviético Maksim Górki:
“Estou tão cansado que não consigo fazer nada”. Ainda assim, Lênin participava
de até 40 reuniões e comitês por dia e recebia dezenas de pessoas.
“Das reuniões do
Conselho dos Comissários do Povo”, lembrou sua irmã Maria Uliánova, “Vladimir
Ilitch chegava por volta das 2 horas da noite, completamente exausto, pálido,
às vezes nem conseguia falar ou comer, costumava se servir de um copo de leite
quente e o bebia andando pela cozinha onde costumávamos jantar.”
O professor Livéri
Darkchevitch, que examinou Lênin em março de 1922, notou “uma enorme quantidade
de manifestações neurastênicas extremamente graves que o privaram completamente
da possibilidade de trabalhar como [o fazia] antes” e “uma série de obsessões
que assustam muito o paciente”. “Isso não levará a loucura, né?”, perguntou
Lênin ao professor.
Em abril de 1922,
Lênin começou a se sentir tão doente que os médicos sugeriram que ele poderia
ter sido envenenado por balas de chumbo que permaneceram em seu corpo após a
tentativa de assassinato em 30 de agosto de 1918. Segundo o acadêmico e
cirurgião Iúri Lopukhin, “a decisão [de retirar balas do corpo] é muito
polêmica e duvidosa, tendo em conta que durante esses quatro anos desde a
tentativa de assassinato, as balas já estavam alojadas e, como acreditava o
professor Vladímir Rozanov, a sua remoção “fará mais mal do que bem”.
Em 23 de abril de
1922, o cirurgião alemão Borchardt retirou uma bala do corpo de Lênin, e em 27
de abril, o líder soviético já tinha voltado para as reuniões. Ele continuou a
trabalhar ativamente por mais um mês, até que em 25 de maio sofreu seu primeiro
acidente vascular cerebral em sua casa em Górki, perto de Moscou. O derrame
levou à perda da fala, às vezes não conseguia ler ou escrever, e tinha pouco
controle da mão direita.
Em 29 de maio, o
conselho de médicos, que contou com a participação do grande neurologista
Grigóri Rossolimo e do comissário do povo (ministro) para a Saúde, Semachko,
admitiu que a doença não era clara. Presumiu-se ser aterosclerose, mas os médicos
estavam surpresos ao ver que o intelecto de Lênin permanecia completamente
intacto.
No verão de 1922, a
saúde de Lênin começou a dar sinais de melhora. Em 16 de junho, ele começou a
sair da cama e, como contou a enfermeira Petrácheva, o líder soviético “até
dançou comigo”. No entanto, as manifestações patológicas continuaram durante
todo o verão; Lênin, às vezes, perdia o equilíbrio e, em 4 de agosto, teve um
espasmo com perda da fala após a injeção de arsênico com a qual era tratado.
Cinco meses após o
derrame, Lênin retornou a Moscou. Os professores acreditavam que ele estava
totalmente recuperado, mas ele admitiu: “Fisicamente me sinto bem, mas não
tenho mais o mesmo frescor de pensamento. Para colocar na linguagem de um
profissional, eu perdi a capacidade de trabalhar por longos períodos.”
Em outubro e
novembro de 1922, Lênin participou de diversas reuniões do Conselho dos
Comissários do Povo e discursou em congressos e convenções. Suas forças
chegaram a fim em 7 de dezembro, quando partiu para Górki. Em 12 de dezembro,
Lênin retornou a Moscou, onde sofreu convulsões e o segundo derrame, após o
qual o lado direito de seu corpo ficou paralisado.
Em 24 de dezembro
de 1922, Stálin convocou uma reunião com a participação dos líderes da URSS:
Lev Kámenev, Nikolai Bukhárin e os médicos de Lênin. Decidiram protegê-lo de
notícias sobre a vida política, “para não fornecer material para reflexão e
preocupação”. Também foi proibido de receber visitas.
Apesar disso, Lênin
continuou a ditar notas e cartas até 9 de março de 1923, quando foi acometido
pelo terceiro derrame. Ele novamente perdeu a fala e jamais mais voltou ao
trabalho. No verão de 1923, sob a supervisão da sua esposa, viu-se obrigado a
reaprender a andar, pegar objetos e falar.
Krúpskaia escreveu:
“Ele já anda com ajuda e de forma independente, apoiando-se no corrimão, sobe e
desce escadas. […] Ele está com muito bom humor e agora já percebe que está se
recuperando”. De 18 a 19 de outubro, Lênin esteve em Moscou pela última vez;
dali, voltou para a sua datcha em Górki.
Vladimir Lênin
morreu em Górki na noite de 21 de janeiro de 1924, às 18h50. Ele tinha 53 anos.
A autópsia do corpo foi realizada no dia seguinte pela manhã. Os historiadores
ainda não sabem por que o corpo não foi levado para autópsia em Moscou, onde
ficavam os melhores institutos médicos.
Existem duas
versões da principal causa da morte de Lênin: aterosclerose cerebral e
(complicações) de sífilis. Hoje, 100 anos após a sua morte, ainda não há
consenso sobre esta questão. O acadêmico Iúri Lopukhin sugere que a verdadeira
causa da doença e morte de Lênin foi o bombeamento insuficiente de sangue ao
cérebro causado pelo ferimento em 1918.
Uma parte
significativa dos documentos sobre a morte e doença de Lênin permanecem
secretos até hoje a pedido de sua sobrinha Olga Uliánova (1922-2011). Porém o
sigilo expira agora em 2024.
Publicado
originalmente no Russia Beyond Brasil
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