Por Vilson Vieira Jr., no blog Mídia Aberta:
Há tempos, a violência tem ganhado cada vez mais espaço nos
telejornais das TVs comerciais e da imprensa escrita Brasil afora. Isso ocorre,
em especial, nos meios de comunicação locais. Perde-se a conta de quantas são
as "notícias" com foco nesse assunto, além dos programas
especializados, os ditos policialescos.
Na verdade, fatos referentes à violência deixaram, há muito,
de possuir um caráter noticioso, pois tornaram-se puro espetáculo da desgraça
alheia. O que vale mesmo é mostrar corpos estendidos nas ruas, o pranto de
familiares que perderam um ente querido, e com direito a big close do rosto.
Até mesmo o velório, um momento familiar íntimo de prece e despedida, não
escapa das lentes da mídia sensacionalista, que considera notícia as últimas
lágrimas de amigos e parentes de uma vítima de violência.
Não bastasse tanta mesquinhez, há casos em que suspeitos de
crimes são humilhados frente às câmeras de TV, para as quais são julgados e
condenados sem sequer passarem pelos trâmites judiciais a que têm direito. É o
que comumente acontece em programas policialescos, num verdadeiro atentado aos
direitos humanos.
As notícias que trazem assassinatos, sequestros, assaltos,
tráfico de drogas etc, são todas superficiais, sem profundidade e
descontextualizadas. Não há o que aproveitar delas para ficarmos bem informados
e entendermos os porquês de "tanta violência" lá fora. É uma
mercadoria muito mal-acabada, embora esteja em alta na cabeça de jornalistas e
editores.
Informações sobre violência chegam aos cidadãos, geralmente,
tendo como únicas (e oficiais) fontes as polícias Civil e Militar. Em sua
matéria, é comum o jornalista começar e encerrar a sua narrativa sobre um fato
tendo como base a versão da polícia. Se ela disse que fulano é bandido, ou
suspeito de envolvimento com o tráfico de drogas ou de cometer homicídios, quem
há de contrariar?
Aliado a isso, tais fatos são divulgados um atrás do outro,
numa sequência tão veloz que impede qualquer reflexão por parte dos
espectadores, e sem manter qualquer elo entre eles. Ou seja, é como se o fato
de uma diarista, moradora da periferia, ter morrido por bala
"perdida" ao voltar do trabalho não tivesse nenhuma relação com a
quantidade de jovens assassinados na mesma periferia.
Não se discute a realidade da violência no jornalismo, em
nenhum jornalismo, seja ele o da TV, o dos jornais, da internet ou o das
rádios. Para "esclarecer" à sociedade o que provocou a morte da
diarista que voltava para casa e morreu atingida por uma bala perdida ou o
genocídio (não percebido como tal pela mídia) dos jovens pobres de periferia, basta
ouvir as explicações do soldado ou do cabo. O mais importante é jogar a notícia
no ar, e quanto mais, melhor!
O coletivo é descartado no noticiário de violência. O que
vale é explorar casos individualizados, pois, para os meios de comunicação
comerciais e os jornalistas que neles trabalham, eles possuem maior poder de
comoção na sociedade; logo, atraem mais audiência.
Diante de tudo, podemos constatar que a violência virou
rotina não apenas nas ruas, mas também no jornalismo. E isso, tanto quanto a violência,
é muito perigoso, pois significa uma ameaça ao direito à informação da
sociedade, que precisa ter acesso a uma informação ampla, contextualizada, que
possibilite à reflexão e detenha todas as versões possíveis.
Mais do que uma ameaça ao direito à informação, quando o
jornalismo torna a violência algo banal, cria-se na sociedade um estado de medo
e pânico que, por vezes, não se sustenta na realidade. O que é minimamente
explicável, já que o problema da violência, no imaginário dos indivíduos que recebem
tais notícias, acaba se transformando em algo sem solução, numa situação
irreversível.
Ao chegar a esse ponto, a mídia, o jornalismo em especial,
joga por terra sua intenção de ser o retrato fiel da realidade e a expande de
forma espetacular, assim como faz com a violência.
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