Por Jeferson Miola, no sítio Carta Maior:
Depois dos protestos multitudinários de junho, a conjuntura
confluiu para um cenário nítido de polarização política e ideológica: está
sendo disputado o destino do Brasil.
Uma disputa na qual o grande capital, as oligarquias, a
direita e a mídia articulam e unificam suas estratégias e se conectam com o
capital financeiro internacional. Com sua nostalgia colonial, querem sequestrar
o Brasil e fazê-lo regredir à condição de entreposto da especulação e da
agiotagem financeira.
Por outro lado, se vê um PT catatônico e sem iniciativa, que
repete a mesma incapacidade dirigente evidenciada durante a crise do chamado
“mensalão”. A realidade agora, porém, parece ainda mais complicada, porque o
Partido mostra divisões comprometedoras - alguns personagens vão contra as
prioridades políticas do governo.
Em 2005 foi Lula, e não o PT, quem encabeçou a defesa do
governo contra a tentativa de retrocesso neoliberal. Na presente conjuntura, Dilma
[e não o PT, outra vez] assumiu a primazia política, e com importantes
respostas programáticas.
Está claro que o principal objetivo da oposição foi
instrumentalizar os protestos para esgaçar o governo Dilma, Lula e o PT. É
ilusão pensar que tivessem compromisso com a moralização da política ou com o
aperfeiçoamento republicano.
Torpedear a Assembléia Constituinte e o plebiscito da
reforma política foi mais que uma opção tática da direita; era requerimento
estratégico da sua política. As ruas já tinham fornecido o substrato para uma
narrativa desgastante do governo, e por isso suas vozes já não importavam. O
essencial, então, era hierarquizar e enquadrar a agenda das ruas na “república
parlamentar”, domínio seguro das elites onde se pactuam os arreglos e consensos
entre as diversas frações da classe dominante, e onde se bloqueiam as mudanças
democráticas e populares.
O espaço de discussão sobre as urgências do país foi
deslocado da arena pública para o Parlamento e para as editorias dos grupos
midiáticos. E o debate público foi emoldurado em parâmetros neoliberais de
crítica à condução econômica e à gestão do Estado brasileiro frente à crise
mundial.
A atual crise do capitalismo é uma das piores de toda a
história. As crises capitalistas são momentos de acentuada competição para o
reposicionamento competitivo entre diferentes países, setores econômicos e
classes. Provocam o deslocamento intra-capitalista de renda, riquezas e, em
especial, de poder. O Brasil, como sétima economia e polo dinâmico na economia
mundial, é alvo óbvio das tensões internacionais, com o capital estrangeiro se
articulando com seus nexos domésticos nessa sanha especulativa.
Graças à condução heterodoxa da economia, o país tem
resistido razoavelmente a essa feroz crise. Não sacrifica empregos, direitos e
desenvolvimento e, além disso, preserva e amplia as conquistas materiais e
culturais dos últimos 10 anos. O governo não compensa a redução do lucro do
capital causada pela crise especulativa suprimindo direitos sociais para transferir
renda ao rentismo. Por isso, é amaldiçoado. O veto ao fim da multa de 10% do
FGTS para proteger os empregos dos trabalhadores e o financiamento da política
habitacional, bem demonstra essa opção.
Em crises menos graves [1998], o Brasil governado por aqueles
que hoje promovem uma oposição fascista colapsou. Os serviços públicos foram
sucateados, a indústria destruída, os empregos esfumaçados, o patrimônio
público dilapidado e as riquezas do país transferidas à orgia financeira
internacional via juros indecentes.
Os ataques que fazem à política econômica são para criar um
clima artificial de instabilidade e de “fim de linha”. Criam um ambiente
inóspito à reeleição [e consequente continuidade] do PT no governo. Os
neoliberais querem, a todo custo, retomar em 2014 seu projeto conservador de
poder.
A direita tem sido eficiente e unida. Unifica não somente o
conjunto da oposição, mas também magnetiza setores da coalizão de governo.
Explora as contradições do PT: demoniza diariamente o Secretário Nacional do Tesouro,
mas incensa o Ministro das Comunicações nas páginas amarelas da revista Veja
por suas posições “pós-petistas”. Veta Henrique Fontana para coordenar a
comissão da reforma política da Câmara dos Deputados, pois confia nas posições
“pós-petistas” do Cândido Vacarezza.
Na base do governo, a fragmentação baseada em cálculos
eleitorais imediatistas é útil ao ascenso da direita, mas não atenta à
complexidade da conjuntura. Se o próprio PT não se unir na defesa de Dilma e na
sustentação das políticas por ela alinhadas, será muito difícil – senão
impossível – convencer os aliados tradicionais [PDT, PSB, PCdoB e esquerda
social] a se unirem contra o retrocesso neoliberal no Brasil. O PT tem, nessa
circunstância, uma responsabilidade diferenciada.
Para financiar os pactos propostos por Dilma para a saúde,
educação e mobilidade urbana, é necessário abrir um grande debate nacional
sobre a taxação das grandes fortunas, do capital especulativo e avançar na
progressividade tributária e levar o centro do debate no Congresso Nacional.
A democracia continuará aleijada [e manietada] se não
existir pluralidade e diversidade dos meios de comunicação no país. É urgente
um pacto nacional pela diversidade e pluralidade da informação, da produção e
da difusão da riqueza cultural do país que não cabe nas telas das emissoras de
um punhado seleto de famílias e igrejas.
A moralização da política e o enfrentamento da corrupção não
será realidade sem mecanismos de controle social e de democracia participativa
no sistema político e na gestão pública. A reforma política é a maior das
prioridades e a principal das urgências do país. A direita não quer realizá-la
– seja com ou sem plebiscito. A luta pela convocação de uma Assembléia Nacional
Constituinte para realizar a reforma política, na presente circunstância, pode
ser o motor para uma ampla mobilização popular.
O Brasil está numa encruzilhada. Seu destino está sendo
disputado a partir de perspectivas contrapostas, irreconciláveis. Conhecer e
assumir com clareza o lado certo nessa disputa é um requisito fundamental.
Devotar as melhores energias na sua defesa é uma exigência imprescindível.
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