Se depender da TV Globo, os tucanos nunca serão incomodados
com denúncias de corrupção e poderão roubar a vontade. Nesta semana, a revista
IstoÉ publicou longa e documentada reportagem sobre o desvio de milhões de
reais das obras do Metrô de São Paulo. Ela comprova que o “propinoduto” foi
montado nos governos do PSDB e que muita grana foi desviada dos cofres públicos
e foi parar nos paraísos fiscais do exterior. Até agora, porém, o Jornal
Nacional da TV Globo nem sequer mencionou o explosivo assunto. O restante da
mídia, sempre tão seletiva na sua escandalização da política, também não deu
destaque ao tema.
Segundo a reportagem de Alan Rodrigues, Pedro Marcondes de
Moura e Sérgio Pardellas, a confirmação do esquema de corrupção se deu com a
assinatura de um acordo da multinacional alemã Siemens com o Conselho
Administrativo de Defesa Econômica (Cade). O documento “lançou luz sobre um
milionário propinoduto mantido há quase 20 anos por sucessivos governos do PSDB
em São Paulo para desviar dinheiro das obras do Metrô e dos trens
metropolitanos. Em troca de imunidade civil e criminal para si e seus
executivos, a empresa revelou como ela e outras companhias se articularam na
formação de cartéis para avançar sobre licitações públicas na área de
transporte sobre trilhos”.
“Para vencerem concorrências, com preços superfaturados,
para manutenção, aquisição de trens, construção de linhas férreas e metrôs
durante os governos tucanos em São Paulo – confessaram os executivos da
multinacional alemã –, os empresários manipularam licitações e corromperam
políticos e autoridades ligadas ao PSDB e servidores públicos de alto escalão.
O problema é que a prática criminosa, que trafegou sem restrições pelas
administrações de Mario Covas, José Serra e Geraldo Alckmin, já era alvo de
investigações, no Brasil e no Exterior, desde 2008 e nenhuma providência foi
tomada por nenhum governo tucano para que ela parasse”.
As provas oferecidas pela Siemens ao Cade são incisivas.
Eles confirmam a existência de uma rede criminosa com conexões em paraísos
fiscais que teria drenado, pelo menos, US$ 50 milhões do erário paulista para
abastecer o propinoduto tucano. “Entre elas, consta um depoimento bombástico
prestado no Brasil em junho de 2008 por um funcionário da Siemens da Alemanha.
IstoÉ teve acesso às sete páginas da denúncia. Nelas, o ex-funcionário, que
prestou depoimento voluntário ao Ministério Público, revela como funciona o
esquema de desvio de dinheiro dos cofres públicos e fornece os nomes de
autoridades e empresários que participavam da tramoia”.
Segundo o ex-funcionário, cujo nome é mantido em sigilo,
após ganhar uma licitação, a Siemens subcontratava uma empresa para simular os
serviços e, por meio dela, realizar o pagamento de propina. Entre as empresas
de fachada, ele cita a MGE Transportes. “De acordo com uma planilha de
pagamentos da Siemens obtida por IstoÉ, a empresa alemã pagou à MGE R$ 2,8
milhões até junho de 2006. Desse total, pelo menos R$ 2,1 milhões foram sacados
na boca do caixa por representantes da MGE para serem distribuídos a políticos
e diretores da CPTM, segundo a denúncia. Para não deixar rastro da transação,
os saques na boca do caixa eram sempre inferiores a R$ 10 mil. Com isso, o
Banco Central não era notificado. ‘Durante muitos anos, a Siemens vem subornando
políticos, na sua maioria do PSDB, e diretores da CPTM’”.
“Além de subcontratar empresas para simular serviços e
servir de ponte para o desvio de dinheiro público, o esquema que distribuiu
propina durante os governos do PSDB em São Paulo fluía a partir de operações
internacionais. Nessa outra vertente do esquema, para chegar às mãos dos
políticos e servidores públicos, a propina circulava em contas de pessoas
físicas e jurídicas em paraísos fiscais. Uma dessas transações contou, de
acordo com o depoimento do ex-funcionário da Siemens, com a participação dos
lobistas Arthur Teixeira e Sérgio Teixeira, através de suas respectivas
empresas Procint E Constech e de suas offshores no Uruguai, Leraway Consulting
S/A e Gantown Consulting S/A”.
“O acordo incluía uma comissão de 5% para os lobistas,
segundo contrato ao qual IstoÉ teve acesso com exclusividade, e de 7,5% a
políticos do PSDB e a diretores da área de transportes sobre trilho. ‘A Siemens
AG (Alemanha) e a Siemens Limitada (Brasil) assinaram um contrato com (as
offshores) a Leraway e com a Gantown para o pagamento da comissão’, afirma o
delator. As reuniões, acrescentou ele, para discutir a distribuição da propina
eram feitas em badaladas casas noturnas da capital paulista. Teriam participado
da formação do cartel as empresas Alstom, Bombardier, CAF, Siemens, TTrans e
Mitsui”.
“Só em contratos com os governos comandados pelo PSDB em São
Paulo, duas importantes integrantes do cartel apurado pelo Cade, Siemens e
Alstom, faturaram juntas até 2008 R$ 12,6 bilhões... Raras vezes um esquema de
corrupção atravessou incólume por tantos governos seguidos de um mesmo partido
numa das principais capitais do país, mesmo com réus confessos – no caso,
funcionários de uma das empresas participantes da tramoia, a Siemens –, e com a
existência de depoimentos contundentes no Brasil e no exterior que resultaram
em pelo menos 15 processos no Ministério Público. Agora, espera-se uma apuração
profunda sobre a teia de corrupção montada pelos governos do PSDB em São
Paulo”.
Se depender da famiglia Marinho, que explora uma concessão
pública com interesses “privados” – políticos e econômicos –, a denúncia logo
será esquecida. A “apuração profunda sobre a teia de corrupção montada pelos
governos do PSDB em São Paulo” não será exigida pelo seletivo Jornal Nacional
da TV Globo!
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