Por Altamiro Borges
Depois do terrorismo criado sobre o fantasma da inflação –
que transformou o tomate no novo “perigo vermelho” e virou até colar da
apresentadora global Ana Maria Braga –, agora a mídia investe no risco iminente
da volta do desemprego. Os editoriais desta quinta-feira (25) dos três
jornalões paulistas – Folha, Estadão e Valor – dão como certo o aumento das
demissões no Brasil. Os dados são conflitantes, mas a mídia oposicionista
parece apostar nesta chaga como forma de desgastar a presidenta Dilma Rousseff.
O editorial da Folha é explícito. Para o jornalão, a
primeira alta do desemprego desde 2009 “constitui mais um sinal de esgotamento
da política econômica do governo Dilma”. Agourento, o diário insinua que a
economia ruma para o caos. “O dado negativo no mercado de trabalho é
particularmente ruim na atual conjuntura, em que os indicadores de confiança
também têm constituído um quadro desalentador... Componente essencial da
dinâmica econômica, a confiança impulsiona a disposição de empresários e
consumidores para investir e comprar. Sem ela, a demanda da economia cai.
Inicia-se, com isso, um ciclo recessivo que a prejudica ainda mais, numa
espiral viciosa”.
A própria Folha afirma que “a taxa de desemprego de junho,
de 6%, ainda é, em si, baixa”, mas aposta que “a primeira elevação do índice
(na comparação anual) desde agosto de 2009 indica mudança de tendência no
mercado de trabalho”. A famiglia Frias faz de conta que não há uma crise
mundial do capitalismo, acelerada exatamente devido ao receituário neoliberal
defendido por ela. Enquanto na Europa o desemprego bate recorde, o Brasil
continua gerando vagas – mas isto não conta para o jornalão oposicionista.
No mesmo rumo, embora mais contido, o Estadão também estampa
no título do seu editorial os “maus sinais no emprego”. O jornal até cita os
dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) divulgados na
terça-feira, que apontam a contratação no mês de junho de 126.836 trabalhadores
– “um pouco melhor que maio, de 120.440”. Mas ressalta que o total do semestre
– geração de 826.168 empregos num mundo em crise – “ficou 21,2 abaixo do
computado nos primeiros seis meses de 2012”. Diante deste quadro contraditório,
o decadente jornalão da famiglia Mesquita não vacila em comemorar um possível
desgaste do governo “lulopetista”:
“Com poucas vitórias econômicas para exibir em seu
currículo, a presidente Dilma e sua trupe têm explorado como pontos positivos a
criação de empregos e a desocupação bem menor que em boa parte do mundo rico. A
maior parte do emprego é de baixa qualidade e baixa produtividade. Apesar
disso, tem sido suficiente para manter a massa de consumidores com um
respeitável poder de compra. Mas o governo está arriscado a perder até esses
argumentos promocionais... O discurso oficial pode continuar exaltando os
feitos, na maior parte imaginários, de dez anos e meio de administração
petista. Mas a retórica dificilmente restabelecerá a confiança em uma política
fracassada”.
Mais voltado à elite empresarial – o que reduz o
sensacionalismo do restante da mídia comercial –, o jornal Valor Econômico
também dá destaque ao tema nesta quinta-feira. O editorial alerta para os
“sinais de reversão no mercado de trabalho” e argumenta que “a perda de fôlego
da economia está perto de colocar um fim aos períodos de taxas muito baixas de
desemprego, enquanto a inflação ajuda a brecar os avanços dos rendimentos e da
massa salarial”. O diário, pertencente às famiglias Marinho e Frias, evita o
costumeiro proselitismo político, mas também não deixa de destilar o seu
veneno:
“Uma reversão no nível de emprego seria uma péssima notícia
para a presidente Dilma Rousseff, cuja popularidade foi arranhada pelos efeitos
de uma inflação alta para os padrões de uma economia estável, pela
desapontadora taxa de crescimento e pelos protestos massivos de junho. É pouco
provável que haja uma retomada vigorosa neste e no próximo ano, um horizonte de
tempo suficiente para que a queda da confiança dos empresários se traduza em
uma taxa de desemprego maior. Mas não há desastres à vista, e o desemprego
dificilmente aumentará muito ou rapidamente. A sensação de que há empregos de
sobra para todos, porém, começa a acabar”.
0 comentários :
Postar um comentário