O problema de Barbosa não é seu apartamento, mas ele mesmo.
Por Eduardo Guimarães
Em benefício dos fatos e da transparência desta análise,
quero deixar registrado que estou entre os mais veementes críticos que o
presidente do Supremo Tribunal Federal, doutor Joaquim Barbosa, conquistou ao
longo de sua trajetória no ano passado – isso sem falar nos inimigos, entre os
quais não me incluo por absoluta falta de motivos.
Sou um dos muitos inconformados com as condutas midiáticas e
autoritárias de Barbosa, com esse seu desejo incontido de aparecer a qualquer
custo, com aquela sua proverbial dificuldade em conviver com o contraditório,
com a sua dolorosa falta de uma humildade lúcida que se espera de alguém que
ocupe posição tão importante.
Apesar disso tudo, tenho minhas dúvidas de que o presidente
do STF tenha feito alguma transação ilegal para adquirir o tão falado imóvel em
Miami.
Claro que não dá para descartar nada em relação a qualquer
um que se lambuze no tipo de poder em que Barbosa se lambuzou até o fastio. Um
tipo híbrido de poder, uma mescla entre poder de Estado, poder político e poder
financeiro, forjada nas relações às quais tem se entregado por atos e palavras.
Entretanto, não me parece provável que esse cavalheiro tenha
cometido algum tipo de ilegalidade. Seria uma estupidez que não condiz com a
sua inegável inteligência.
O que é legal, porém, não é necessariamente moral. Alguém
que tem se dado a fazer críticas e acusações tão acerbas a tudo e a todos, por
força de também ser um servidor público deve estar sempre disposto a explicar,
paciente e detalhadamente, negócios milionários como a compra que fez de imóvel
tão luxuoso nos Estados Unidos.
Contudo, não deve ser esse o problema do doutor Joaquim
Barbosa. Antes, seu problema é o conceito deturpado sobre democracia e sobre
direitos civis do qual padece e que não aplica para si mesmo por, claramente,
julgar-se acima de suspeitas.
Barbosa é só mais um milionário em um colegiado em que há
outros tão milionários quanto ele ou mais. Assim, espera-se que não seja
julgado com um rigor quanto ao seu patrimônio que nem sempre é usado para os
seus pares que não têm a mesma origem, mas que têm ligações ainda mais fortes
com grupos políticos e que fazem negócios ainda menos transparentes.
Obviamente que o leitor saberá intuir a quem me refiro,
acima de outros.
O presidente do STF, portanto, não é perigoso por ter feito
ou vir a fazer tipos de negócios que são comuns a toda a magistratura, entre
outras vertentes do serviço público. Ele é perigoso, sim, mas por sua
mentalidade despótica, por sua vaidade embriagante, por seu temperamento
imprevisível, por sua falta de capacidade de reflexão.
E, por tudo isso, vejo nele uma legítima ameaça à democracia
que jamais deve ser combatida com o moralismo de quinta a que se dá tão
frequentemente, mas com serenidade e objetividade quanto aos erros que já
cometeu e aos que previsivelmente irá cometer, já que dificilmente virá a se
dar conta deles, embriagado que vive consigo mesmo.
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