A pesquisa do Ibope publicada hoje, mostra queda nas
intenções de voto de Dilma em relação à última pesquisa de março. Apesar do
histórico de pouca confiabilidade de pesquisas divulgadas longe do pleito, não
convém simplesmente desconsiderá-la, pois todas as pesquisas trouxeram
tendência de queda.
É cedo para a oposição comemorar e cedo para governistas
chorarem. Da mesma forma que sempre dissemos que o salto alto era o inimigo nas
pesquisas que apontavam alta popularidade, o pé no chão de agora não é motivo
para alarmismo e muito menos para derrotismo. É motivo para o governo
trabalhar, teimar, persistir, ousar, correr riscos necessários e enfrentar os
desafios.
Há sim desejo de mudanças mais profundas no Brasil, o que
não é ruim, pois está se pedindo educação e saúde pública de qualidade,
depuração nas práticas políticas e mais democracia direta. São reivindicações
boas, que qualquer governo popular tem prazer em se dedicar para atendê-las.
No fundo, o governo Dilma continua sendo o principal ator
capaz de definir o destino das eleições. Se atender um pouco a contento as
demandas populares (e atenderá em parte até no piloto automático, devido aos
investimentos que estão em curso), o mesmo emotivismo que levou a queda
bruscas, poderá fazer a popularidade voltar a subir. Nunca é possível agradar a
todos, mas é possível atender demandas da maioria. O volume de investimentos em
mobilidade urbana, por exemplo, que aparecerá nas ruas em 2014 falará mais alto
do que críticas de oposição. Os médicos que estão sendo contratados para
atender no SUS é transformador da realidade de milhões de brasileiros.
Nenhuma liderança emergiu com força suficiente deste
movimento político recente. Marina Silva subiu sem fazer nada, mas ela tem o
"recall" das eleições de 2010 onde capturou o voto de quem não tinha
candidato e parece ser o plano "B" de quem "está contra tudo
isso que está aí". Digamos que as pedras e coquetéis molotov não atingiram
seu telhado. Mas é questionável se consiga manter um patamar de votos
suficiente para vencer o pleito na hora de uma campanha eleitoral acirrada em
que ela tenha que se expor, com suas contradições, e conquistar a confiança do
eleitor de que é capaz de governar melhor.
Para os tucanos o quadro é bastante desolador. O resultado
das manifestações praticamente enterrou as pretensões do tucanato. Se podem
comemorar o desgaste de Dilma, não há o que comemorar com Aécio patinando
enquanto viu Marina subir. O recado do eleitor é claro: se não for Dilma, não
será Aécio, nem Serra. Outro complicador é que o tucanato não tem como
capitalizar desgastes do exercício do poder tendo oito governadores exercendo o
poder. Não é de se estranhar se até 2014 Aécio desista de ser candidato a
presidente e concorra a governador.
Uma coisa estranha na pesquisa do Ibope foi Joaquim Barbosa
aparecer com números bem menores do que apareceu no Datafolha, quando apareceu
empatado com Aécio. Ou é uma confirmação de que está havendo variações bruscas,
de caráter emotivo e não racional, ou as pesquisas estão menos confiáveis do
que já eram, ou Barbosa também está sofrendo desgastes como autoridade de poder
constituído que é.
Do ponto de vista do governo, há a oportunidade de fazer do
limão, limonada. Quando o governo estava com popularidade alta, havia a
tendência à acomodação, a evitar correr riscos. Agora, por incrível que pareça,
o governo fica até mais livre para ousar.
As propostas de plebiscito e constituinte vieram neste
sentido. O PT não pode titubear, se contentando com reformas eleitorais
conservadoras que o PMDB quer empurrar goela abaixo para 2014. Tem que demarcar
território e ficar claramente ao lado de Dilma. Se forem derrotados no
Congresso, declarem-se em alto e bom som como derrotados. Pelo menos entram em
2014 com uma boa bandeira de campanha na área legislativa, e melhora as chances
de conseguir força para reformas mais robustas na próxima legislatura.
O enfrentamento das resistências do corporativismo dos
médicos é outra boa medida. Assim como foi alocar os recursos do petróleo para
educação, antes que se percam em outras áreas menos prioritárias.
É provável que outras áreas exijam maior ousadia para fazer
as coisas acontecerem. Os pactos propostos com prefeitos e governadores foram
neste sentido. Afinal a rede do SUS não é federal. O ensino básico não é
federal. As creches são convênios com prefeituras. A segurança pública é
estadual.
Outra coisa que pode ser melhor explorada é o controle
social da corrupção através da lei do acesso à informação e dos portais de
transparência. Se tem cidadãos que não estão indo até a lei, a lei tem que ir
até os cidadãos. Que tal a CGU (Controladoria Geral da União) promover
convênios com o Ministério da Educação para alunos de faculdade fazerem
trabalho escolar de controle social através da análise da aplicação de verbas,
convênios, repasses? E talvez até, assim como existe olimpíadas de matemática,
fazer uma olimpíada de combate à corrupção através do controle social, com
estudantes aprendendo a fiscalizar e tomar conta de como é gasto o dinheiro
público. Isso elevaria bastante a participação popular no controle do orçamento
e inibiria desvios e mau uso do dinheiro público.
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