Editorial do sítio Vermelho:
Está marcada para esta quinta-feira (1º de agosto) a
retomada das atividades do Congresso Nacional. E há uma pauta enorme, e
contraditória, que espera a atividade dos deputados e senadores, que voltam do
“recesso branco” de 17 a 31 de julho.
Uma delas é a votação da Lei de Diretrizes Orçamentárias
para 2014. Ela poderia ter sido aprovada ainda em julho, mas a falta de acordo
entre os parlamentares levou-os a adiar a votação para agosto, e mesmo assim
ela corre o risco de não ocorrer pois há um conjunto de vetos presidenciais a
leis aprovadas pelo Congresso que devem ser analisados; um deles é a Lei do Ato
Médico. Pelo rito aprovado pelo Congresso, vetos presidenciais não aprovados no
prazo de 30 dias depois de seu envio pela Presidência da República travam a
pauta. Os vetos à Lei do Ato Médico foram enviados ao Congresso em 11 de julho
e, por essa regra, passam a travar a pauta em 11 de agosto, se não forem
examinados dentro dos 30 dias regimentais.
Há um braço de ferro entre os congressistas e o poder executivo:
a Lei do Orçamento Impositivo, que obriga o Executivo a cumprir as dotações
orçamentárias de cada parlamentar (dinheiro do Orçamento que os deputados e
senadores destinam para a realização de obras em suas bases eleitorais). A
oposição do governo a esta lei, que limita sua autonomia sobre os gastos
orçamentários, está na raiz da má vontade parlamentar contra a LDO/2014, sendo
o principal fator que impediu sua votação em julho.
Há outros pontos que exigem exame e vão liberar adrenalina
ao debate parlamentar no segundo semestre. A oposição pontual entre
parlamentares e o Poder Executivo, que cresce neste momento em que pesquisas de
opinião apontam uma queda da aprovação do governo (da mesma maneira como
revelam apreço popular decrescente a quase todos os governadores, sobretudo
aqueles do PSDB), expõe uma característica que marca sobretudo o Congresso
Nacional: ele é por definição o campo da disputa política. E o local onde as
diferentes forças políticas se confrontam, e esse choque de opiniões e decisões
define a cara institucional do confronto que ocorre na própria sociedade.
A disputa em torno do Orçamento é um exemplo cabal desse
enfrentamento: ela revela diferenças de opinião em torno do destino dos
recursos públicos que nada mais são do que choques em torno da destinação
destes recursos. Parlamentares de origens e compromissos populares exigem sua
aplicação em benefício da população. Outros, que representam diferentes setores
das classes dominantes, preconizam o atendimento de interesses particularistas,
muitas vezes travestidos sob a forma de alegações de interesse público.
Parlamentares ligados à especulação financeira exigem, por exemplo, que o
governo direcione recursos principalmente para o cumprimento das obrigações
geradas pela dívida pública controlada pelo sistema financeiro privado.
A disputa em relação aos interesses econômicos é apenas
parte da contradição que se exprime no Congresso. A definição de normas
eleitorais e para o exercício da atividade política também faz parte do
conflito entre as classes sociais, cujo palco é o Congresso Nacional. Neste
particular o objeto de disputa é a reforma política, recolocada em pauta pela
presidenta Dilma Rousseff em resposta às manifestações populares do mês de
junho. O caminho apontado poderia ter sido uma rota para mudanças políticas que
pudessem fazer avançar a democracia e consolidar uma nova etapa no país. A
presidenta havia acenado com uma Constituinte exclusiva e um plebiscito para
definir os rumos da reforma política. A reação foi previsível: a pressão dos
setores conservadores do Congresso Nacional e da mídia hegemônica sepultou a
ideia de uma miniconstituinte, e voltou-se raivosamente contra a convocação de
um plebiscito onde o povo possa manifestar com clareza sua opinião.
Este é outro enorme desafio colocado no debate parlamentar
neste segundo semestre. São temas em torno dos quais se acentua a luta dos
parlamentares e partidos avançados e democráticos, que se contrapõem aos
interesses mais conservadores presentes no Congresso e da mídia hegemônica. Uma
das questões é o destino dos recursos da União, figurado na Lei de Diretrizes
Orçamentárias. Outra são as regras do exercício do poder. E, principalmente, de
sua distribuição entre as classes sociais. Os conservadores querem regras que
assegurem e confirmem o predomínio de seus interesses e privilégios. Os
partidos democráticos e avançados, como o PCdoB, querem ampliar a democracia,
assegurar a igualdade entre os cidadãos e aumentar o protagonismo popular. São
teses antagônicas, de difícil conciliação, e que exigem do lado democrático e
popular, empenho e mobilização para conquistar e garantir o avanço da
democracia.
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