Ricardo Kotscho
A cada porta que se abre, mais esqueletos são tirados dos
armários onde estavam bem guardados durante muito tempo os segredos das
maracutaias do metrô paulistano.
Agora que o assunto foi escancarado até na televisão e em
colunas da mídia amiga, os dois jornalões paulistas disputam uma verdadeira
gincana para descobrir novas provas de fraudes e anunciar as providências
tomadas pelo Ministério Público Estadual (por onde andava durante todos estes
anos?), depois do "vazamento de informações", que teria sido
promovido pelo Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), a partir da
delação feita pela Siemens, a líder do cartel.
Por que só agora?
Vejam só as manchetes:
"MP apura se cartel do trem enriqueceu servidores"
(Estadão).
"Força-tarefa investigará 45 inquéritos de trens e
metrô" (Folha)
Ficamos sabendo agora que:
* Dos 45 inquéritos abertos pelo Ministério Público Estadual
que envolvem empresas suspeitas de fraudes em licitações de trens e metrô em
São Paulo, serão reabertos 15, que estavam arquivados nos armários "por
falta de provas". Estão em andamento outros 30 inquéritos, informa a
Folha.
* O MPE agora quer saber quem foi, nos governos dos tucanos
Mario Covas, Geraldo Alckmin e José Serra, em que o cartel atuou, que se
beneficiou do esquema antes e durante a execução dos contratos. Três empresas
de offshore com sede no Uruguai constam de papéis em poder do MPE. Seria por
meio delas que supostas propinas foram pagas a agentes públicos em troca de
contratos com o Metrô e a CPTM, acrescenta o Estadão.
Os caciques do PSDB parecem atônitos diante das últimas
revelações. Com ar de indignado, o governador Geraldo Alckmin disse que "o
Estado é vítima no caso" e, se houver a participação de agentes públicos
beneficiados pelo cartel, "devem ser imediatamente punidos".
Por que só agora, se o esquema atuou em administrações
tucanas em São Paulo entre 1997 e 2008? Ninguém se interessou em perguntar
antes ao procurador-geral do Estado, que é nomeado pelo governador do Estado, a
quantas andavam as investigações sobre o Metrô no Ministério Público Estadual?
De volta de um giro turístico pela Europa, o presidenciável
Aécio Neves, tratou do assunto durante um festival de gastronomia mineira no
Palácio dos Bandeirantes, que reuniu o alto tucanato ontem em São Paulo. Aécio
acredita que "parece ter ocorrido um conluio entre empresas", como se
isso fosse possível sem a participação de gente graúda do governo estadual.
"Parece extremamente estranho que não tenham chegado
estes documentos do Cade ao governo de São Paulo. Obviamente não podemos
aceitar esse vazamento direcionado de informações", queixou-se. O
ex-governador José Serra, também presente ao evento, não quis comentar o caso.
Será que durante estes anos todos, levando-se em conta a
"teoria do domínio do fato", nenhuma autoridade estadual dos diversos
escalões do governo tenha se dado conta de que São Paulo estava pagando mais
caro para receber menos quilômetros de Metrô e que a manutenção deficiente
provoca seguidas interrupções do sistema, como aconteceu ainda nesta
segunda-feira, quando um trem descarrilou na Estação Barra Funda e interrompeu
a circulação da linha por quase nove horas?
Qualquer pessoa que vá comprar um carro, uma casa ou um
avião procura antes fazer uma pesquisa de preços praticados no mercado e, se
lhe pedirem algo muito acima da média, vai certamente desconfiar do negócio.
Imagine-se então quando se trata de comprar equipamentos
para o Metrô, avaliados em quase R$ 2 bilhões só no período investigado, com um
superfaturamento que causou prejuízo de R$ 557 milhões aos cofres públicos,
segundo cálculos feitos pelo Estadão.
O vereador Andrea Matarazzo, bastante ligado a José Serra, é
o único tucano graúdo que até agora foi citado e indiciado nesta história.
"Polícia diz que vereador do PSDB recebeu propina da Alstom em 98",
informa a Folha desta terça-feira. A multinacional francesa Alstom é uma das
empresas envolvidas no cartel comandado pela Siemens e estava sendo investigada
pela Polícia Federal desde 1995.
Segundo o jornal, "o trabalho da polícia se baseou em
informações obtidas pelo Ministério Público da Suíça. O inquérito foi concluído
em agosto de 2012 e está desde então sob análise do Ministério Público Federal.
No relatório final do inquérito, o delegado Milton Fornazari
Júnior cita como evidência para indiciar Matarazzo uma troca de mensagens de
1997 em que executivos da Alstom discutiriam o pagamento de vantagens para o
PSDB, a Secretaria de Energia e o Tribunal de Contas." O atual vereador negou que tenha recebido
propina e disse que não participou das negociações do contrato.
Arrombadas as portas, 15 anos depois do início das investigações, quando Andrea Matarazzo era
secretário estadual de Energia, agora o governo do Estado bate às portas da
Justiça para ter acesso às informações do Cade, mas o pedido foi negado pelo
juiz Gabriel Queiroz Neto, da 2ª Vara da Justiça Federal de Brasília, alegando
quer , mesmo sem acesso aos documentos considerados sigilosos, o Estado de São
Paulo poderia realizar investigações próprias.
Por que só agora?
Quem tiver respostas para esta pergunta pode encaminhar para
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