“Em delírio, a mídia nativa consagra a ex-senadora como voz
da oposição. E Eduardo Campos gosta disso? E Aécio Neves?”
O Conversa Afiada reproduz editorial de Mino Carta, da Carta
Capital:
O efeito Marina
Em delírio, a mídia nativa consagra a ex-senadora como voz
da oposição. E Eduardo Campos gosta disso? E Aécio Neves?
por Mino Carta
A julgar pelas pesquisas, o segundo turno das próximas
eleições presidenciais seria possível se Marina Silva fosse cabeça de chapa. É
a observação que cabe nas circunstâncias. Falta, porém, um ano para o pleito e
é tempo longo, tanto mais porque a agenda não inclui apenas a campanha, decerto
muito acirrada, mas também a disputa de um Mundial de futebol, aqui mesmo, nos
nossos estádios bilionários.
Nunca me sai da cabeça o argumento de Marcos Coimbra
desenvolvido em uma coluna de tempos atrás: a Copa pode influenciar o resultado
eleitoral, independentemente do desempenho da Seleção Canarinho. Não excluo que
Coimbra tenha dons proféticos. Escrevia ele bem antes da Copa das
Confederações, e, quando este torneio aconteceu, sabemos das suas consequências
políticas. Começaram ali as manifestações de rua, aparentemente despidas de
razões nítidas e precisas e, ainda assim, habilitadas a levar para o asfalto
uma insatisfação difusa.
Os motivos que, entre outros, precipitaram as manifestações
valeriam mais ainda em relação à Copa do Mundo, sem contar o efeito daninho
para o Brasil de uma organização desastrada do evento, trombeteada planeta
afora. Nada disso favoreceria a candidatura de Dilma Rousseff. Donde, vale
anotar, 2014 pode durar mais que um ano comum. Além de tudo, um comando
mafioso, capaz de representar uma exceção global, anuncia, diretamente do
presídio (eis a novidade) propósitos sombrios a curto e longo prazo, sem
exclusão de razias federais durante a Copa.
Conclusão: há muito chão pela frente. De todo modo, fôssemos
às urnas hoje, a presidenta Dilma se reelegeria, e o único risco de segundo
turno se daria se Marina Silva também surgisse como candidata à Presidência.
Possibilidade válida? Pois é, eis aí uma das questões a serem resolvidas daqui
em diante. A mídia nativa por ora enxerga na adesão da ex-senadora ao PSB a
cartada sedutora por semear obstáculos no caminho da candidata petista. E vive
o momento com grande intensidade. Não dá palpites quanto à composição da chapa
socialista, mas confere a Marina Silva uma espécie de primazia, destaque
especial.
São os meus inquietos botões que agora me puxam pela manga.
Perguntam: será que Eduardo Campos aprecia esta clangorosa valorização da
aliada? Se às vezes não parece que está sendo escanteado, nestes dias
claramente passou para o segundo plano. Sintomático o editorial do Estadão de
quarta 16, intitulado “A voz da oposição”. Pinta-se ali o retrato empolgante de
Marina Silva, a acentuar nela, inclusive, um profundo conhecimento da economia
que os meus botões desconheciam. Leram, boquiabertos.
A voz da oposição. Reconheça-se ao Estadão a capacidade de
dar nome ao generalizado sentimento midiático. E quem se atribuía até ontem
talento e determinação para desempenhar o papel? Sem esquecer José Serra, está
claro, determinado até a obsessão, não duvidem. Em um relâmpago, Marina ganha a
ribalta. Shakespeare já declamava: estar preparado é tudo. Estava preparado
Eduardo Campos no exato instante em que se concretizou o acordo com Marina
Silva? E estava preparado Aécio Neves com a súbita aparição da ex-senadora,
arrepiante talvez, como nos filmes de terror?
O governador de Pernambuco quem sabe não imaginasse o espaço
que a aliada ganharia em um piscar de olhos, e, no jogo das cadeiras, lhe
tomasse a sua própria, ao menos por longos dias. Quanto a Aécio, já prejudicado
pelo aval de Fernando Henrique, fica rebaixado a murmúrio remoto, em surdina,
de uma oposição derrotada de saída. A seu modo, o efeito Marina é devastador. E
outra conclusão é inevitável: a ex-senadora pouco sabe de economia, mas é,
politicamente, de competência inesperada. No confronto com Eduardo, Aécio, e
quem mais quiser entrar no páreo.
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