Postado por Dedé Rodrigues.
“Hondurenhos defenderão vitória nas ruas", afirma Zelaya.

“Exigimos que se respeite a decisão do povo de que Xiomara
Castro seja a sua presidenta. Não importa o que façam, porque esse processo se
iniciou e ninguém vai pará-lo”, afirmou o coordenador do Partido Libre
(Liberdade e Refundação), Manuel Zelaya. Junto a centenas de militantes, o
ex-presidente destacou durante coletiva de imprensa nesta segunda-feira (25) em
Tegucigalpa que, “se necessário, o povo defenderá nas ruas a sua vitória nas
urnas”.
Deposto por um golpe militar patrocinado pelos EUA em 2009, Zelaya enfatizou que “as urnas falaram em defesa de uma mudança profunda” e denunciou que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) age em função dos interesses da oligarquia vende-pátria, representada pelo candidato Juan Orlando Hernández, do Partido (Anti) Nacional.
Por Leonardo Wexell Severo*, de Honduras, especial para o
Vermelho
Policiais cercam manifestantes que denunciavam as fraudes
ocorridas nas eleições deste domingo (24) em Honduras | Foto: Leonardo Wexell
Severo
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“O Tribunal não está contabilizando 1.900 atas, cerca de 400
mil votos, de zonas em que na sua grande maioria o Partido Libre ganhou
amplamente. Estamos prontos para comparar as atas que temos com as que chegaram
do TSE. Que eles demonstrem o contrário, que perdemos. Nunca poderiam fazê-lo”,
acrescentou Zelaya, aplaudido de pé.
Segundo Zelaya, a disposição do Partido Libre não é a de
“conclamar a sublevação, mas de garantir direitos, que não se negociam”. “Por
que o Tribunal aparta 20% das urnas em seu resultado? Basta ter um mínimo de
inteligência para explicar”, condenou o ex-presidente, com a militância
respondendo em coro: “vamos às ruas!”.
A presidenta eleita, Xiomara Castro, dedicou a vitória aos
“homens e mulheres que entregaram sua vida por esta causa, aos jovens que
doaram seu sangue pela liberdade da Pátria e de todo o povo hondurenho”. “Os
dados que recebemos de todo o país com a contagem das atas eleitorais confirmam
que sou a presidenta da Honduras. Não vou decepcionar, cumpriremos da primeira
a última palavra empenhada”, agradeceu.
Rechaço à fraude
O candidato do Partido Anti-Corrupção (PAC), Salvador
Nasralla, também rechaçou a fraude: “Os resultados estão dramaticamente
violentados e não correspondem à realidade”. Nasralla, um apresentador de
televisão, asseverou que o partido governista utilizou dois call centers para
produzir e escanear atas falsas. Elas seriam enviadas ao centro de apuração,
adulterando os resultados. “Tenho todas as provas e já apresentei uma denúncia
à fiscalização. Além disso, o partido do governo comprou muitos dos
representantes de mesa do meu partido, para que se retirassem do centro de
votação e não defendessem nossos votos”, disse.
Reforçando esta denúncia, a TV Globo de Honduras divulgou
entrevistas com inúmeros fiscais que comercializaram suas credenciais
partidárias para o Partido Nacional. A reflexão é elementar: pela legislação
eleitoral as mais de 16 mil urnas necessitariam de, pelo menos 32 mil pessoas
de cada partido, entre fiscais e suplentes. Tais agremiações deveriam ter,
portanto, pelo menos esses dois votos. Abertas as urnas, os partidos que
atuaram como legenda de aluguel, todos juntos, não somaram sequer 1% dos votos.
Formados para isolar o Partido Libre, seus “representantes” atuaram para
controlar as mesas eleitorais e armar a fraude.
“Graves evidências de fraude”
Foi o que viu a delegação de observadores da Confederação
Sindical Internacional (CSI), que apontou a existência de “graves evidências de
uma fraude eleitoral”. “Durante todo o dia recebemos denúncias de diversas
formas de manipulação e compra de votos, ameaças e outros atos de violência
contra os fiscais e os eleitores do Libre”, informou a CSI, ressaltando que
“alguns deles foram testemunhados pelos representantes da missão, assim como
pelas várias organizações internacionais aqui vindas para observar as eleições”.
Denis Roberto Aguilar Gomez, agredido por forças policiais|
Foto: Leonardo Wexell Severo
Também nesta segunda-feira (25) à tarde, no Comitê de
Familiares de Detidos e Desaparecidos de Honduras (Cofadeh), a canadense Laura
Carter, dirigente do Industrial Global Union, apontou a existência de “uma
série de irregularidades, que podem ter impacto determinante nos números
divulgados pelo TSE". Laura informou que na zona de São Miguel, na região
metropolitana de Tegucigalpa, que conta com 50 mil votantes, força expressiva
de Xiomara, nada menos do que 400 eleitores apareceram como "mortos"
– sendo retirados da lista, sem poder votar – e outros mil simplesmente
"desapareceram do registro".
Marcelina Samaniego, representante da Internacional dos
Trabalhadores da Construção e da Madeira (ICM), denunciou “a sonegação de
informações e o não envio das planilhas de votação”. Como na região de San
Pedro Sula, Xiomara liderava, esclareceu Marcelina, o jovem que manejava o
computador e centralizava o processo lhe disse ter "orientações
claras" para atrasar o envio de urnas desfavoráveis. "Nós não
podíamos ter acesso e a Força Pública e a Militar estavam ali para respaldar o
que eles dissessem", acrescentou.
Denis Roberto Aguilar Gomez, fiscal do Partido Livre na
Escola Tomas Alvarez na mesa 9357, no bairro Nova Esperança, na região
metropolitana de Tegucigalpa, foi agredido por 20 fascistas do Partido
Nacional. Quando foi denunciar aos policiais militares acabou sendo detido
ilegalmente e agredido, por ser de oposição. "Me torturaram dentro da
escola", relatou, mostrando as marcas da agressão.
Perseguição e intimidação.
Às vésperas das eleições de domingo (24), o governo
hondurenho utilizou policiais militares e da migração para perseguir e
intimidar observadores internacionais, identificados como simpatizantes de
Xiomara. Personalidades como Rigoberta Menchú, prêmio Nobel da Paz, foram
impedidas até de entrar no país. Ao mesmo tempo, os golpistas convidaram 23
organizações de extrema direita para acompanhar o pleito.
Na cidade de El Progreso, próxima a San Pedro Sula, um dos
principais polos da resistência ao golpe contra Zelaya, cinco soldados da
Migração, fortemente armados, entraram no centro de capacitação da Igreja em
busca de “salvadorenhos”. Terceira principal cidade do país, El Progreso é o
berço de Roberto Micheletti, ditador alçado ao poder em 2009.
Na capital, Tegucigalpa, prefeitos e parlamentares da Frente
Farabundo Martí de Libertação Nacional (FMLN), que governa El Salvador, também
foram abordados e constrangidos por policiais a poucos metros do Honduras Maya,
hotel em que estamos hospedados.
Nesta segunda (25), soldados fortemente armados voltaram a
cercar o hotel, tentando impedir um protesto pacífico contra a fraude
eleitoral, condenada em coro como um novo golpe. “Mídia vendida, conta-nos bem,
não somos um, não somos cem”, alertaram os manifestantes, repudiando a
manipulação dos grandes conglomerados de comunicação em favor dos golpistas.
*é jornalista
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