Por Ricardo Kotscho, no blog Balaio do Kotscho:
Atacada diariamente pelo pensamento único da grande mídia,
por grupos de financistas e empresários, analistas econômicos e especialistas
em geral, largos setores do PMDB e até do PT, os seus principais partidos
aliados, com problemas sérios na economia e no Congresso, o noticiário negativo
do mensalão e tudo mais jogando contra, como explicar a cada vez mais folgada
liderança da presidente Dilma Rousseff nas pesquisas para 2014 (no último
Ibope, tinha mais intenções de voto do que o dobro dos seus prováveis
adversários somados)?
A cada nova pesquisa, esta é a pergunta que mais me fazem.
Acho que a causa desta aparente contradição é demográfica e geográfica: o lugar
onde moro e o meio social em que convivo é o mais crítico em relação ao governo
do PT desde a primeira eleição de Lula e o mais refratário à revolução social
que se deu no país nos últimos anos. Este Brasil velho e o novo Brasil são dois
países que não se cruzam.
O maior eleitorado, tanto de Dilma como de Lula, vive nas
regiões mais pobres e distantes do país, não costuma ler jornais nem acompanha
blogueiros limpinhos, e ainda tem, sim, maiores dificuldades de acesso à
educação e à saúde, mas sente que a sua vida melhorou na última década. Por
isso, quer a continuidade deste governo, como mostram todas as pesquisas.
Enquanto a parte mais rica da população discute os aspectos
ideológicos da importação de cubanos para o Mais Médicos e critica os programas
sociais do governo, que chamam de assistencialistas, para quem nunca teve
assistência médica, nem acesso à casa própria, vivia sem água e sem luz, sem
renda e sem emprego, os governos petistas representaram uma radical mudança em
suas vidas.
Claro que todo mundo quer muito mais e melhor depois que as
necessidades básicas foram atendidas, tanto que, na mesma pesquisa Ibope, 38%
dos entrevistados responderam esperar que o presidente "mudasse muita
coisa". Creio que está correta a avaliação feita pelo marqueteiro João
Santana, o grande guru de Dilma: "A pesquisa é clara: os brasileiros
querem mudanças no governo, e não mudança de governo. A magia está na
preposição".
A maioria da população, que vive no Brasil real, não está
muito interessada em discutir o PIB, a balança comercial, o câmbio, os
mensalões, os cartéis e as máfias, mas quer saber se tem emprego e renda para
pagar suas contas no fim do mês, se tem escola para mandar seus filhos e posto
de saúde com médicos e remédios para os casos de necessidade. Acho que isto
ajuda a responder à pergunta do título, já que em nenhum momento Dilma se afastou
da sua prioridade de governar para os mais necessitados e combater a miséria.
Para este largo contingente de eleitores, fica difícil
trocar o certo pelo duvidoso, até porque a mídia ainda não encontrou um
candidato de oposição para bancar e os que aí estão não conseguem dar qualquer
esperança, uma ideia ou proposta nova que seja, de que, com a vitória deles, a
vida dos brasileiros vai melhorar.
Muitos podem até não gostar do jeitão da presidente e do
governo dela, mas quando olham em volta, encontram o que? Serra infernizando a
vida de Aécio, e Marina e Eduardo, que disputam a mesma vaga, encantando o
pessoal da grana pesada de São Paulo, que não tem muitos votos, como se sabe.
Enquanto os quatro se limitarem a criticar Dilma, os números das pesquisas não
mudam.
Em 2005, quando estourou o escândalo do mensalão, tucanos
acharam que era só deixar Lula sangrar que logo o velho poder estaria de volta
ao Palácio do Planalto. Faltou combinar com o povo, que continua com Lula e
Dilma, como mostraram todas as últimas eleições.
Por falar nisso, os dois continuam sendo duas entidades numa
só e todos os esforços feitos ao longo de quase três anos para intriga-los ou
separá-los foram em vão. Talvez os nossos bravos analistas políticos não saibam
de um trato que Dilma e Lula fizeram logo no início do governo dela.
A cada 15 dias, chova ou faça sol, os dois têm um encontro
particular, em Brasília ou São Paulo, para juntos fazerem uma análise da
situação e discutir os caminhos a seguir. Isto evita o fogo amigo das corriolas
de um e de outro e mata no nascedouro qualquer tentativa de afastar criador e
criatura. Até agora tem dado certo e pode nos ajudar a entender melhor o
segredo da renitente popularidade de Dilma Rousseff.
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