O Brasil “invisível” começou a ser visto, e é isto que o
conservadorismo brasileiro não vê.
Saiu no Tijolaço, artigo de Fernando Brito:
Força de Lula e Dilma no interior está longe de ser só o
“Bolsa Família”
Brizola contava, volta e meia, seu diálogo com o líder da
independência de Moçambique, Samora Machel, quando perguntou-lhe quantos eram,
afinal, os moçambicanos, já que havia incerteza quanto à população do país.
Machel disse-lhe: bem, os das cidades sabemos. Os outros são
como os elefantes: só os vemos quando saem da selva.
O Brasil das metrópoles – imenso – não conhece mais o Brasil
das pequenas cidades, dos sertões e matas, que é imenso também.
Tornaram-se escondidos e seguiam esquecidos.
A ausência do poder público federal – nas grandes cidades,
município e estado suprem, em parte este vácuo – deixou fora do processo de
modernização da vida do país.
Os governos Lula e Dilma impulsionaram as parcerias diretas
com os mais de 5.500 municípios brasileiros.
90% deles têm menos de 50 mil habitantes e, somados, reúnem
um terço da população brasileira.
Em entrevista publicada hoje no Estadão, o cientista
político Vitor Marchetti diz que é um erro atribuir a popularidade de ambos,
nas pequenas cidades – os famosos “grotões” – ao Bolsa- Família.
Para ele, é “pouco verdadeiro atribuir ao Bolsa Família o avanço
que o PT teve em regiões mais pobres, em municípios pequenos e médios do
interior do País.”
- O que tem impacto eleitoral é um conjunto de políticas
públicas que começaram a ser adotadas no governo do presidente Luiz Inácio Lula
da Silva e que são focadas em regiões onde a presença do Estado sempre foi
muito fraca, como o Norte e o Nordeste do País. Falam do Bolsa Família mas
esquecem do Luz Para Todos, que leva energia elétrica para o sertão nordestino,
para as regiões mais esquecidas da região Norte. Esse programa é um exemplo do
movimento que intensificou a presença do governo federal nas regiões mais
carentes. O fenômeno político importante a ser analisado no momento é esse: o
gigantesco aumento das parcerias do governo federal feitas diretamente com os
municípios. Isso aconteceu porque os municípios tinham assumido várias
prerrogativas que não tinham condições de cumprir. (…) Os municípios assumiram
a responsabilidade, entre outras coisas, pela construção de creches e os
serviços básicos de saúde. Mas eles não têm condições para isso. O que o Lula
fez, então? Intensificou as alianças do governo federal com os municípios. O
repasse direto de recursos federais para eles, nas áreas da saúde e educação,
aumentou muito. Quase todos os municípios estão construindo creches atualmente,
mas quem verificar com atenção a origem dos recursos irá constatar, quase
invariavelmente, que provêm de algum programa específico do governo federal
para o setor. Eles revelam o quanto o governo federal pegou atalhos para se tornar
mais presente na vida do cidadão, no seu cotidiano. Isso aconteceu
principalmente em municípios do Norte e Nordeste.
O Brasil “invisível” começou a ser visto, e é isto que o
conservadorismo brasileiro não vê.
Num país com a nossa extensão e complexidade, o Governo
Federal não pode ser apenas o gestor da macropolítica ou da macroeconomia, como
querem os tecnocratas e mero repassador de recursos para os municípios.
Tem de fazê-lo, mas, ao mesmo tempo, tem de ser o indutor da
aplicação destes recursos, direcionando-os de forma exclusiva, com
contrapartidas administrativas e direcionamento de projetos.
O “Mais Médicos” é um dos muitos exemplos de programas
operacionalizados pelas prefeituras, com recursos federais, e regras definidas.
Do contrário, a simples descentralização de recursos e da
administração será, como sempre foi, um mero processo de cooptação de chefes
políticos locais.
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