Por Eduardo Guimarães:
Com tantos assuntos ocupando o noticiário político –
“rolezinhos”, escândalos envolvendo o PSDB de São Paulo etc. –, um deles, a
despeito da relevância, teve cobertura desproporcionalmente pequena. O
ex-deputado José Genoino, praticamente sem pedir, recebeu doações em dinheiro
de mais de seiscentos mil reais em cerca de uma semana.
Pressionada por amigos e admiradores do ex-deputado – que já
estavam criando sites para arrecadar a pequena fortuna necessária para pagar a
multa que lhe foi imposta por sua condenação –, sua família criou um site
oficial contendo informações a quem quiser colaborar.
O site de fundo vermelho-PT e letras brancas tem algumas
poucas fotos de Genoino durante sua luta contra a ditadura e nos dias atuais. A
página é despojada, objetiva e já anuncia no alto que os advogados do
ex-deputado estão questionando judicialmente a majoração que a multa sofreu por
determinação judicial – de 468 mil reais foi aumentada para 667 mil.
Há, também, as instruções para doação, que pode ser feita
via depósito bancário, cartão de crédito etc. O doador recebe uma senha para
acompanhar a evolução da arrecadação e o número de contribuintes.
Da última vez que vi – e lá se vão dias –, cerca de mil
pessoas registraram suas doações. Todavia, a quantidade de contribuintes é
muito maior porque essas cerca de mil pessoas são as que fizeram repasses de
quantias que arrecadaram em “vaquinhas” que encabeçaram, com as quais, muitas
vezes, 10, 20, 30 pessoas contribuíram.
Essa informação sobre a quantidade de doadores ser bem maior
do que a registrada não me foi passada pela família ou por uma filha do
ex-deputado com quem tenho me comunicado de vez em quando via e-mail, mas por
experiência própria e por relatos de amigos-leitores.
Eu mesmo, fiz minha doação a Genoino na conta de uma pessoa
que estava recebendo doações de todos os valores para repassar a ele. Segundo
me relatou, houve depósitos de 30, 50, 100 reais. Não sei quantas pessoas
foram, mas não foram poucas.
Arrisco dizer, porém, que umas vinte mil pessoas devem ter
feito doações, se não forem mais.
Perguntei-me: quantos políticos podem dizer que, caso
precisassem, receberiam tal solidariedade. Imagino que José Dirceu também
receberia. E acho que todos os outros petistas condenados no julgamento do
mensalão também. Duvido, porém, que os condenados de outros partidos ou
políticos em geral, de qualquer partido, conseguiriam tal feito.
Esse fenômeno que beneficiou o ex-deputado, no entanto,
praticamente não ganhou destaque na mídia.
Enfim, se minha estimativa de 20 mil contribuintes for
razoável – e não vejo como não seria –, trata-se de gente suficiente para lotar
um pequeno estádio de futebol. São políticos, sindicalistas, estudantes, donas
de casa, pedreiros, marceneiros, advogados, engenheiros, filósofos, artistas,
religiosos, jornalistas… E por aí vai.
Serão todos “mensaleiros” ou “apoiadores de bandidos”?
Famílias inteiras contribuíram. Alguns, sei que doaram mesmo passando por
dificuldades financeiras. Conheço gente desempregada que contribuiu.
Não foi um bando de ingênuos, de caipiras ou de ladrões que
apoiou o ex-deputado. Foram cidadãos educados, de várias classes sociais,
politizados, muitos dos quais nunca viram esse homem na vida. Doaram porque, no
fundo de suas consciências, tendo acompanhado cada passo do julgamento do
mensalão, entenderam que a condenação de Genoino foi injusta.
Essa realidade incomoda os carrascos do ex-deputado – a
mídia (adiante de qualquer outro), o STF, o PSDB, o PPS, o DEM, o PSOL e todos
os que, políticos ou não, fazem oposição cerrada ao PT e não tiveram um pingo
de comiseração por uma família que, além de tantos sofrimentos, atravessa dura
crise financeira e, sobretudo, emocional.
A família de Genoino, para arcar com a vida em Brasília –
uma das cidades mais caras do Brasil, onde o ex-deputado, em contrariedade às
leis penais, cumpre prisão domiciliar –, já vem tendo que se desfazer dos
poucos bens que esse homem acumulou ao longo de décadas na política. Mesmo
assim, o jornal O Estado de São Paulo não teve dó.
Matéria repugnante desse jornal, em tom de denúncia, revelou
que a casa que essa família alugou em um condomínio fechado tem aluguel de 4
mil reais. Citou “três suítes” nessa “mansão”. Um “escândalo”…
Aluguel nesse valor em uma cidade como Brasília, contudo, só
dá para uma casa comum de classe média. E o imóvel, obrigatoriamente, tem que
ser num condomínio fechado, pois a família de Genoino já esteve sob ameaça de
antipetistas fanáticos após se instalar naquela cidade para cuidar dele durante
sua prisão domiciliar
Vale lembrar, ainda, que o ex-deputado está em prisão
domiciliar devido a seus problemas de saúde.
Essas milhares de pessoas que apoiam Genoino, a própria
situação financeira dele e dessa família composta por pessoas simples como a
professorinha Miruna – a filha que tem lutado como uma leoa pelo pai,
expondo-se à virulência das redes sociais e da mídia com uma coragem rara –,
são fatos mortais para a teoria de que ele é um “bandido”.
Que bandido é esse que, ao longo de toda uma vida na
política, mergulha em situação financeira tão grave que obriga sua família a
vender um de seus dois automóveis (com anos de uso) para poder pagar o aluguel
da “mansão” que o Estadão, de uma forma inimaginavelmente calhorda, inventou?
Tudo isso não combina com a imagem que a mídia, o STF e os
inimigos do PT em geral criaram para Genoino, pois não? Daí o constrangimento
dos carrascos dele.
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