Ao fim do capítulo do julgamento dos embargos infringentes
na AP-470 que ontem (27) absolveu José Dirceu, José Genoino, Delúbio Soares e
outros réus do crime de formação de quadrilha, o presidente do Supremo Tribunal
Federal, Joaquim Barbosa, o último a votar - quando já não era mais possível
reverter o veredito - fez um discurso com frases de efeito tais como
"alertar à nação", "sanha reformadora" etc. Aos olhos de
quem trabalha com a divulgação de informação, ficou claro que se tratava de uma
fala que poderia perfeitamente ser editada pelos telejornais, reforçando o viés
moralizador de uma potencial campanha política dele, Joaquim Barbosa.
Mas não foi o que se viu na edição do Jornal Nacional. As
frases que poderiam ter composto um mosaico de maior impacto político foram
suprimidas. Foi ao ar apenas a lamentação do magistrado pela inversão da
sentença, de condenação para absolvição: “Esta é uma tarde triste para este
Supremo Tribunal Federal, porque, com argumentos pífios, foi reformada, jogada
por terra, extirpada do mundo jurídico, uma decisão plenária sólida,
extremamente bem fundamentada, que foi aquela tomada por este plenário no segundo
semestre de 2012”, disse.
A leitura política desta edição é clara: o telejornal
esvaziou o balão da candidatura de Barbosa. De fato, lembra o insucesso da
candidatura da juíza Denise Frossard, no fim dos anos 1990 havia mandado para a
prisão 14 dos maiores chefões do jogo do bicho no Rio do Janeiro, aposentou-se
da magistratura e ingressou na carreira política.
Foi a candidata à Câmara dos Deputados mais votado do estado
em 2002 e, com tal cacife, disputou o governo fluminense, em 2006, pelo PPS,
com apoio de Cesar Maia (DEM). Sua derrota no segundo turno para Sérgio Cabral
(PMDB) foi associada a seu discurso elitista e distante dos problemas e
aflições da maioria da população. E olha que o temperamento dela era bem mais
equilibrado e sociável do que o de Joaquim Barbosa.
Sobre isso, aliás, o telejornal da Globo também suprimiu os
trechos em Barbosa atacou fortemente os demais ministros, o que foi mais uma
afronta do presidente às instituições democráticas. Desqualificou o voto de
seis colegas de corte, chamando os argumentos para justificar suas decisões de
"pífios". Na prática desacatou o próprio plenário do STF.
Fez ilações indecorosas sobre a honra de alguns de seus
colegas, insinuando que estes teriam sido alçado à Suprema Corte para votar
pela absolvição dos réus do chamado mensalão. Esta ilação, obviamente atinge
também a Presidência da República, que é quem indica os novos ministros – que
passam por uma sabatina no Senado, que pode aprovar ou não a indicação.
Foi desrespeitoso até com Celso de Mello, que o acompanhou
em quase todos os votos, por ter votado pela admissão de embargos infringentes,
dizendo "inventou-se inicialmente um recurso regimental totalmente à
margem da lei com o objetivo específico de anular, de reduzir a nada, um trabalho
que fora feito".
Entre o jeito truculento de Barbosa e a nova composição do
STF, com maior equilíbrio racional e independência de pressões midiáticas, a
Globo parece não querer bater de frente com o futuro.
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