Por Fernando Brito, no blog Tijolaço:
O presidente do Supremo Tribunal Federal é eleito pelos
ministros da Corte.
Ele representa a vontade da Corte, muitíssimo mais do que a
sua própria.
E, por isso, é o primeiro a dever respeito para com as
decisões da maioria de seus pares.
O que Joaquim Barbosa fez, entretanto, hoje, ao ter de
proclamar o resultado da votação dos embargos infringentes sobre o crime de
formação de quadrilha foi do mais profundo desrespeito aos demais ministros.
Dizer que foi formada “uma maioria de circunstância”, e “sob
medida”, com a finalidade de “lançar por terra” o trabalho do STF é acusar seus
pares de uma conspiração e de uma indignidade.
Acusação falsíssima, e Barbosa sabe disso, porque não
resiste ao mero exame dos fatos.
Em primeiro lugar, a condenação questionada já tivera quatro
votos pela absolvição. Votos de juízes que, em relação a outros crimes e aos
mesmo réus, já haviam proferido sentenças condenatórias, e de prisão.
Portanto, as condenações, originalmente, se deram por apenas
5 a 4, o que está mil léguas de tornar sólida uma decisão unânime e até mesmo
sólida.
Os dois ministros que recompletaram a Corte foram
regularmente escolhidos, sabatinados e aprovados pelo Senado. Ninguém
questionou o saber jurídico e sua idoneidade moral de Luis Roberto Barroso e de
Teori Zavascki, ambos professores renomados e, este último, ministro do STJ há
mais de uma década.
Cada um votou como pensava: Celso de Mello votou pela
admissibilidade dos embargos infringentes e, agora, pelo seu não provimento.
Rosa Weber, contra a admissão dos embargos e, hoje, pelo seu provimento. O
próprio Marco Aurélio Mello, mesmo não concordando com a absolvição, votou pela
redução das penas até um nível que as tornasse, na prática, prescritas, o que
produziria o mesmo efeito para os réus. E Mello votara contra os infringentes.
O Supremo reformar suas próprias decisões também não é
novidade. No início de 2012, por exemplo, numa votação sobre medidas
provisórias, a decisão foi mudada de um dia para outro e ninguém disse que o
Ministro Luiz Fux, que mudou seu voto contrário por um favorável o fez de
encomenda.
Há dezenas ou centenas de precedentes de decisões reformadas
ao longo do curso processual – e o processo estava no curso que o próprio STF
decidiu seguir – sem que isso tenha sido motivo para os ministros ofenderem-se
uns aos outros.
O plenário do STF é soberano. Não o seu presidente um
soberano.
Não havia coisa julgada e o recurso na forma de embargos
infringentes indica que havia possibilidade de reforma da sentença. obviamente
em em favor dos réus, já que o contrário seria o vedadíssimo “reformatio in
pejus”, que é o agravamento da pena quando só o réu recorre.
Não existe precedente de um presidente da Corte afirmar,
solenemente, em sessão, que o voto de seus pares foi “pífio”.
Não se pede ao presidente do STF “fair-play” por ter sido
vencido. Exige-se é compostura ao cumprir seu papel funcional de proclamar, como
o respeito devido, a decisão da maioria.
Barbosa parece, definitivamente, decidido a fazer-se de
vítima do “voto político”, da “maioria formada sob medida”, para dramatizar sua
saída da Corte, num grave gesto de desequilíbrio institucional.
Não importa que, politicamente, possa ser vantajoso a
governo ou oposição um gesto destes.
É prejudicial ao funcionamento de uma corte que deve ser
serena e independente.
Independente, mas não egoísta, solitária e megalomaníaca.
Tudo o que a figura de seu presidente se tornou.
1 comentários :
Ele estar certo fazer justiça doa a quem doer, se respeitar a corte onde fica a justiça por baixo do tapete da corte maior!!!
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