Por Renato Rabelo, em seu blog:
Dois índices econômicos anunciados recentemente merecem
alguma reflexão, sobretudo sob o ângulo político. De um lado, o IBGE confirma a
taxa de crescimento, para 2013, de 2,3%. De outro, por unanimidade, o Comitê de
Política Monetária (Copom) decide pela manutenção da tendência de alta da taxa
Selic, que após o aumento de 0,25% chegou a 10,75%.
Vamos analisar primeiro o crescimento. O chamado mercado, e
seus analistas, apostavam num índice abaixo de 2%, algo próximo de uma recessão
técnica. O que redundaria numa grande arma política a ser utilizada pela
oposição neste ano de eleições. Sobre este tema travou-se uma imensa guerra de
informações iniciada ainda no final de 2012. Previsões catastróficas amparadas
por teses ultraliberais supostamente explicativas sobre uma relação viciosa
entre “intervencionismo” e baixo crescimento. Independente de estarmos ainda
muito distantes do que seria o ideal, mantivemo-nos longe do quadro pintado
pela oposição que ainda tem contra si os menores índices de desemprego da história.
Neste aspecto uma quebra de braço com o mercado financeiro
foi essencial pela manutenção de algum nível de investimento e incentivos
internos sob a forma de concessões à iniciativa privada de determinadas
infraestruturas e o sucesso que foi o leilão de Libra. Ações que merecem mais
destaque do que imaginamos pelos aspectos estratégicos contidos nelas. O
destaque dos dados apresentados pelo IBGE é o aumento de 6,3% do investimento
em relação a 2012 (Em 2012 houve queda de 4% do investimento). Considerando,
principalmente, um índice maior na produção de máquinas, equipamentos,
caminhões e da construção civil. De certo modo pode ser uma indicação da
retomada dos investimentos, prioridade na etapa atual para o desenvolvimento.
Isso posto, existe o outro aspecto sintetizado em mais uma
alta da taxa de juros. Não é de hoje que tenho opinado que o governo tem sido
vítima de grande chantagem por parte da oligarquia financeira interna e
externa. Isso explica, em grande medida, a continuidade da tendência de alta da
taxa de juros que agora chegou ao mesmo patamar do início do governo Dilma,
alcançando a taxa de 10,75% ao ano. E o mercado financeiro quer ainda mais,
como sempre.
O governo já foi levado a anunciar uma meta de superávit
primário de 1,9% do PIB (o mercado financeiro queria muito mais) e cortes no
orçamento federal de cerca de R$ 50 bilhões, que com o acompanhamento dos
estados e municípios chegarão a exatos R$ 99 bilhões.
Vários níveis de análise podem ser contemplados para
explicar este cenário. Pode-se dizer que a ofensiva conservadora no plano
internacional acrescida da retirada dos estímulos monetários por parte do
Federal Reserve (o Banco Central dos EUA) são um verdadeiro salvo-conduto à
ação do capital especulativo pela periferia do sistema afora. E essa ofensiva
dos grandes círculos financeiros externos e interno atingiu em cheio nossa
política monetária com amplo apoio e torcida de uma mídia que milita 24 horas
por dia contra o governo. Acusam o governo de tentativa de derrubada dos juros “por
decreto”. Não olham para si e seus decretos, e dogmas, pré-estabelecidos de
ultraliberalismo e fabricação de crises numa hipocrisia digna destes tempos que
vivemos.
Outro exemplo da ação coordenada pelos setores
oposicionistas foi o aniversário dos 20 anos do Plano Real — comemorado agora
com pompa e circunstância e ampla cobertura midiática – que na verdade resultou
de um pacto tácito, estabelecido para o fim da hiperinflação e que deixou um
legado perverso de juros altíssimos e câmbio sobrevalorizado.
Criou-se, assim, uma situação estrutural contrária aos
investimentos que precisam de crédito de longo prazo, como o país necessita
agora para o desenvolvimento da infraestrutura logística, energética e urbana.
O Brasil tem hoje em torno de 7 trilhões de reais em ativos financeiros que
poderiam ser um suporte básico para grandes investimentos que necessitamos. Sem
precisar da dita “poupança externa”.
Mas essa imensa riqueza tem seus rendimentos a curtíssimo
prazo pagos na taxa Selic pelos títulos do Tesouro Nacional. Por isto, não
querem sair dessa comodidade para empréstimos a empreendimentos que levam de 15
a 20 anos para sua maturação. Escasseando assim, os meios e instrumentos
necessários aos empréstimos de longo prazo, restando quase que exclusivamente
esse papel ao BNDES.
As chantagens vão continuar. Está evidente que o governo
Dilma tem autonomia em relação a essa gente. O governo resiste enquanto a
oposição corre para ganhar o apoio dessa máfia internacional e de seus agentes
internos. Existem situações que só a relação de força política explica, e a
questão da taxa de juros é uma delas. Um país com baixa taxa de investimentos
está condenado a não gerar poupança, pois esta – em realidade – não precede o
investimento como faz crer o senso comum. É básica esta noção do investimento
como preposto da poupança.
Os dados relativos ao crescimento de 2013 - assim como o
patamar em que as taxas de juros se encontram - indicam muita disputa política
num curso de inúmeros embates. Como temos referido, o momento é de acumular
forças e renovar as esperanças.
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