Por Paulo Nogueira, no blog Diário do Centro do Mundo:
Um STF partidarizado é uma tragédia nacional.
Esta é a principal conclusão que você pode tirar da decisão
da ministra Rosa Weber por uma CPI exclusiva da Petrobras.
Não vou nem discutir aqui se o melhor seria mesmo uma CPI
exclusiva ou uma abrangente, na qual coubessem as propinas do metrô de São
Paulo.
Meu ponto é o STF como partido. O PSTF, Partido do Supremo
Tribunal Federal.
O drama é que, tomado de interesses políticos, o STF perde
completamente o caráter técnico que deveria ter. E isso é um golpe avassalador
na ideia da justiça como um conceito acima de interesses.
Machado de Assis escreveu que o maior pecado depois do
pecado é a publicação do pecado. Já se imaginava, há algum tempo, que a justiça
não fosse exatamente neutra. Agora, isto é amplamente conhecido.
As consequências da partidarização do STF são calamitosas.
Se uma decisão cabe a um juiz, você sabe antecipadamente
como ele vai votar. Se houvesse uma casa de apostas jurídicas, não haveria jeito
de você errar em seu palpite.
Caiu nas mãos da ministra Rosa Weber o veredito sobre a CPI.
Dado o seu retrospecto – ela entrou para a história ao dizer que mesmo sem
provas se achava no direito de condenar Dirceu – já se sabia desde sempre qual
seria a escolha.
Deu a lógica.
Imagine que o caso parasse nas mãos de Lewandowski. Teríamos
uma CPI abrangente.
Repito: não estou julgando aqui qual caminho é o melhor, se
é que algum deles é bom. A discussão é sobre a negação da justiça representada
pelo PSTF.
Pessoas pagam o preço disso. Dirceu, por exemplo. Joaquim
Barbosa faz tudo que pode para atrapalhar a vida de Dirceu. O mesmo vale para
Genoino, tratado como se fosse saudável como, para usar uma imagem cara a
Nelson Rodrigues, uma vaca premiada, mesmo com o coração comprometido
seriamente.
Dirceu e Genoino terão que esperar Joaquim Barbosa deixar a
presidência do Supremo para se livrarem de uma perseguição inclemente.
Com o PSTF, o real perdedor é a sociedade.
A mim chamou a atenção, na votação dos embargos
infringentes, como uma questão simples – uma segunda jurisdição está ou não na
Constituição – foi tratada com caudalosos, eruditos, intermináveis
pronunciamentos que simplesmente se anulavam.
Sim, estava. Ponto. Mas ministros como Gilmar Mendes e Luiz
Fucs defenderam, em minúcias, a tese absurda de que a segunda jurisdição não
estava na Constituição.
É, como se vê, um PSTF dividido.
Se há alguma coisa boa no julgamento do Mensalão, é que os
brasileiros puderam ver quanto é precário o Supremo, a principal corte
nacional.
Se ela é assim, imagine as cortes inferiores.
Não se trata apenas de reformar a justiça. Trata-se de
reinventá-la no Brasil.
Quanto mais se conhece o STF, mais fica clara sua
extraordinária falta de qualidade e de grandeza.
Agora mesmo, no calor da decisão de Rosa Weber, vazou a
informação de que um filho dela trabalha na Globo, como jornalista.
É o segundo caso do gênero. Também um filho de Barbosa foi
acolhido pela Globo.
Nada contra os filhos dos juízes do STF, mas como esperar
imparcialidade dos pais se chegar a eles alguma decisão que diga respeito à
Globo?
Alguém vai votar contra o empregador do filho? Quem acredita
nisso, como disse Wellington, acredita em tudo. Há, portanto, conflito de
interesses, dado o peso e considerada a folha corrida da Globo.
A tarefa urgente, essencial na reinvenção da justiça nacional
é tirar o P do PSTF. Não pode ser um partido, ou a sociedade é alvo de intensa,
cruel, insuportável injustiça.
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