Compare currículo da Conceição com o do Kamel, amigo
navegante …
Depois do Fernando Brito e do Rodrigo Viana, agora foi a vez
de a Conceição Lemes tratar o Globo Overseas como merece – a tapa, com luva
cirúrgica:
Conceição Lemes, 33 anos de estrada: Resposta em público a O
Globo
Nessa segunda-feira 13, uma repórter de O Globo enviou-nos
um e-mail:
“Estou fazendo uma matéria sobre a entrevista que o
ex-presidente Lula concedeu a blogueiros na semana passada. Gostaria de
conversar contigo por telefone”.
Pedi que enviasse as perguntas por e-mail. Hoje, às 12h27
elas foram encaminhadas:
Nada contra a repórter. Embora não a conheça, respeito-a
profissionalmente como colega.
Já a empresa para a qual trabalha, não merece a nossa
consideração.
Com essas perguntas aos blogueiros, O Globo parece estar com
saudades da ditadura, quando apresentava como verdadeira a versão dos órgãos de
repressão. Exemplo disso foi a da prisão,
tortura e assassinato de Raul Amaro Nin Ferreira, em 1971, no Rio de Janeiro.
Com essas perguntas, O Globo parece querer promover uma caça
aos blogueiros progressistas. Um macartismo à brasileira.
O marcartismo, como todos sabem, consistiu num movimento que
vigorou nos EUA do final da década de 1940 até meados da década de 1950. Caracterizou-se por intensa patrulha
anticomunista, perseguição política e dersrespeito aos direitos civis.
O interrogatório emblemático daqueles tempos nos EUA:
Mr. Willis:
Well, are you now, or have you ever been, a member of the Communist Party? (Bem,
você é agora ou já foi membro do Partido Comunista?)
A sensação com as perguntas de O Globo é que voltamos à
ditadura. Agora, a ditadura midiática das Organizações Globo. É como
estivéssemos sendo colocados numa sala de interrogatório.
Afinal, qual o objetivo de saber se pertencemos a algum
partido político?
Será que O Globo faria essa pergunta aos jornalistas de
direita, travestidos de neutros, que rezam pela sua cartilha?
E se fossemos nós, blogueiros progressistas, que fizessemos
essas perguntas aos jornalistas de O Globo?
Imediatamente, seríamos tachados de antidemocratas,
cerceadores da liberdade de expressão, chavistas e outros mantras do gênero.
Como um grupo empresarial que cresceu graças aos bons
serviços prestados à ditadura civil-militar tem moral de questionar
ideologicamente os blogueiros que participaram da entrevista coletiva?
Liberdade de imprensa e de expressão vale só para direita e
para a esquerda, não?
Como uma empresa que tem no seu histórico o colaboracionismo
com a ditadura, o caso pró-Consult, o debate editado do Collor vs Lula, ter
sido contra a campanha Pelas Diretas,
pode se arvorar em ditar normas de bom Jornalismo e ética?
Como uma empresa que deve R$ 900 milhões ao fisco tem moral
para questionar outros brasileiros?
Como um grupo empresarial que recebe, disparadamente, a
maior fatia da publicidade do governo federal pode criticar os poucos blogs que
recebem alguma propaganda governamental?
O Viomundo, repetimos, não aceita propaganda dos governos
federal, estaduais e municipais. É uma opção nossa. Mas respeitamos quem
recebe. É um direito.
No Viomundo, não temos nada a esconder. Só não admitimos que as Organizações Globo,
incluindo O Globo, com todo o seu histórico, se arvorem no direito de
fiscalizar a blogosfera.
Por isso, eu Conceição Lemes, que representei o Viomundo na
coletiva, não respondi a O Globo. Preferi responder aos nossos milhares de
leitores. Diretamente. E em público.
Seguem as perguntas de O Globo e as minhas respostas.
Qual a sua formação acadêmica?
Formada em Jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da
Universidade de São Paulo (ECA-USP).
Qual a sua atuação profissional antes do blog? Já cobriu
política por outros veículos?
Sou editora do Viomundo, onde faço política, direitos
humanos, movimentos sociais. Toco ainda o nosso Blog da Saúde.
No início da carreira, fiz um pouco de tudo: economia,
política, revistas femininas, rádio…
Há 33 anos atuo principalmente como jornalista especializada
em saúde, tendo ganho mais de 20 prêmios por reportagens nessa área. Entre
eles, o Esso de Informação Científica, o José Reis de Jornalismo Científico,
concedido pelo Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq), e o Sheila Cortopassi de
Direitos Humanos na área de Comunicação, outorgado pela Associação para
Prevenção e Tratamento da Aids e Saúde Preventiva (APTA) com apoio do Unicef.
Conquistei também vários prêmios Abril de Jornalismo, a
maioria por matérias publicadas na revista Saúde!, da qual foi repórter,
editora-assistente, editora e redatora-chefe.
Em 1995, fui premiada
pela reportagem “Aids — A Distância entre Intenção e Gesto”, publicada pela
revista Playboy. O projeto que desenvolvi para essa matéria foi selecionado
para apresentação oral na 10ª Conferência Internacional de Aids, realizada em
1994 no Japão.
Pela primeira vez um jornalista brasileiro teve o seu
trabalho aprovado para esse congresso. Concorri com cerca de 5 mil trabalhos
enviados por pesquisadores de todo o mundo. Aproximadamente 300 foram
escolhidos para apresentação oral, sendo apenas dez de investigadores
brasileiros. Entre eles, o meu. Em consequência, fui ao Japão como consultora
da Organização Mundial da Saúde.
Tenho oito livros publicados na área.
O mais recente, lançado em 2010, é Saúde – A hora é agora,
em parceria com o professor Mílton de Arruda Martins, titular de Clínica Médica
da Faculdade de Medicina da USP, e o médico Mario Ferreira Júnior, coordenador
de Centro de Promoção de Saúde do Hospital das Clínicas de São Paulo.
Em 2003/2004, foi a vez da
coleção Urologia Sem Segredos, da Sociedade Brasileira de Urologia,
destinada ao público em geral.
Os primeiros livros foram em 1995. Um deles, o Olha a
pressão!, em parceira com o médico Artur Beltrame Ribeiro.
O outro foi a adaptação e texto da edição brasileira do
livro Tratamento Clínico da Infecção pelo HIV, do professor John G. Bartlett,
da Universidade Johns Hopkins, nos EUA. A tradução e supervisão científica são
do médico Drauzio Varella.
Você é filiada a algum partido político?
Não sou nem nunca fui filiada a qualquer partido político.
Mas me estranha muito uma empresa que apoiou a ditadura,
cresceu devido a benesses do regime e hoje se alinhe com todos os espectros da
direita brasileira, questione a filiação partidária de um jornalista.
Quer dizer de direita, tudo bem, e de esquerda, não?
Como você definiria os “blogueiros progressistas”? Existe
uma linha política?
Somos de esquerda.
Defendemos:
Melhor distribuição da renda no país.
Reforma agrária.
Os movimentos sociais por melhores condições de moradia,
trabalho, defesa do meio ambiente, saúde e educação.
Regulamentação dos meios de comunicação.
Valorização do salário mínimo.
Política de cotas raciais nas universidades.
Direitos reprodutivos e sexuais das mulheres brasileiras.
Combate à discriminação e promoção dos direitos de lésbicas,
gays, bissexuais, travestis e transexuais
Imposto sobre grandes fortunas.
Financiamento público de campanha.
Reforma política.
Fortalecimento da Petrobras.
Sistema Único de Saúde.
Como você foi chamada para a entrevista? Recebeu alguma
ajuda de custo do instituto?
Por e-mail. Nenhuma ajuda.
O que você achou da seleção de blogueiros para a entrevista?
Incluiria, por exemplo, representantes da mídia ninja ou blogueiros “de
oposição”, como Reinaldo Azevedo?
O Instituto Lula tem o direito de chamar para entrevistar o
ex-presidente quem ele quiser.
Engraçado O Globo perguntar isso. De manhã à madrugada, de
domingo a domingo, todos os veículos das Organizações Globo privilegiam,
ostensivamente, sem o menor pundonor, vozes do conservadorismo brasileiro e
internacional. Pior é que travestido de uma falsa neutralidade.
Por que O Globo pode chamar quem quiser e o ex-presidente
Lula, não?
Por que as Organizações Globo não dão espaços iguais à
esquerda e à direita, garantindo a pluralidade de opiniões?
No dia em que as Organizações Globo garantirem efetivamente
a pluralidade de opiniões, respeitando a verdade factual, aí, sim, seus
profissionais poderão questionar os nomes escolhidos por Lula.
Qual foi o ponto mais relevante da entrevista para você?
Ter falado três horas e meia com os blogueiros. Uma conversa
em que nenhum assunto foi proibido. Tivemos liberdade plena de perguntar o que
queríamos. Uma lição de democracia.
O instituto arcou com os seus custos de deslocamento?
Não. Fui de táxi. Paguei do meu próprio bolso.
Por que você acredita ter sido escolhida para a entrevista?
Quantos jornalistas brasileiros têm o meu currículo
profissional? Quantos repórteres da mídia tradicional e da blogosfera
produziram tantos furos jornalísticos quanto nós no Viomundo nos últimos cinco
anos?
Por isso, deixo essa pergunta para você e os leitores do
Viomundo responder.
O que você acha do movimento “Volta Lula”?
Quem tem de achar é a população e os militantes dos partidos
da base de apoio do governo.
Sou apenas repórter. Cabe a mim, portanto, retratar o que
presencio.
Qual nota você daria ao governo Dilma? Por quê?
O Globo tem fetiche por nota. Quem tem de dar a nota é o
eleitorado. Sou repórter e minha opinião neste caso é irrelevante. A não ser
que O Globo pretenda usá-la para fazer o que costuma fazer: manipular
informação com objetivos políticos, em defesa de interesses da direita
brasileira.
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