Fernando Brito
A área técnica da Sabesp está sendo atropelada pela
politicagem de Geraldo Alckmin com a água do Cantareira.
A página oficial da empresa
registra uma elevação de 8,2% (ontem) para 26,7% do “volume útil” do
sistema Cantareira, pelo fato de agora estar sendo sugada a água abaixo do
nível da tomada d’água do reservatório.
A conta é um atropelo, tanto que hoje não foram divulgados
os níveis de cada reservatório, para que este dado não se confrontasse com os
números divulgados pela empresa e, claro, aceitos pacificamente pela imprensa.
Que, curiosamente, diz que, sem uma gota de chuva, sistema
“subiu” para 26,5%.
Só o biólogo Fernando Reinach, em sua coluna no Estadão,
mostra o ridículo: “Água diminui e represa sobe”
A Sabesp divulga que pretende retirar 100 bilhões de litros
do Jaguari-Jacareí.
E mais 82 bilhões do Atibainha.
Até agora, considerava-se que o sistema tinha um volume
operacional de 974 bilhões de litros.
Como ontem restavam 80 bilhões acima do nível das comportas,
mesmo somando os 100 bilhões de litros anunciados – o que, com as bombas
naquela posição, só seria possível se ainda restasse ali uma lâmina d’água de
perto de sete metros de espessura, o que visualmente parece irreal – teríamos
180 bilhões de litros, menos algo entre um e dois bilhões de litros utilizados
de ontem para hoje.
Se estes 100 bilhões forem somados aos 974 bilhões, temos um
novo volume total utilizável de 1.074 bilhões. 180 bilhões restante em 1.074
bilhões possíveis dá, salvo engano, 16,5%. Ou, se desconsiderarmos o
“acréscimo” , 18,48%.
Bom, pode-se argumentar que a Sabesp já está pondo na
estimativa “por conta”, o volume morto do Atibainha.
Neste caso, o volume utilizável total seria de 1.156 bilhões
de litros (974 + 100 + 82). E a água disponível, 262 bilhões de litros, sem
contar o gasto de ontem para hoje. O que
daria 22,6%.
Para chegar aos 26,5%, portanto, a Sabesp calcula as novas
disponibilidades sobre antigo volume.
Tudo, claro, para evitar o número negativo, que revelaria, a
cada dia, o quanto a água está abaixo do limite mínimo para operar por
gravidade, sem a ajuda de bombas.
Como opina Reinach, “
soma é uma forma de desonestidade intelectual que prejudica a compreensão da
crise que estamos vivendo.”
E, assim, deu “tilt” nos sistemas de medição e controle que
vinha sendo utilizados até agora, fazendo com que as páginas que detalham a
situação dos reservatórios (tanto as da própria Sabesp quanto as da Agência
Nacional de Águas) ficassem inoperantes.
Agora no final da tarde, a área técnica parece ter feito o
comando político da empresa ceder e saiu o número: 7,4% no Sistema Equivalente
Infelizmente, não parece haver, salvo exceções como a de
Reinach, ninguém na imprensa capaz de
questionar a honestidade das informações oficiais do Governo paulista.
Algo bem simples, do tipo medir quanto há de água abaixo das
bombas instaladas pela Sabesp e comparar com a relação entre volume retirado e
rebaixamento da cota da represa.
Talvez se supreendam de perceber que existe mais
desonestidade no que está sendo dito publicamente.
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