Por Luiz Carlos Azenha, no blog Viomundo:
Há alguns anos os blogueiros de esquerda abriram espaço na
internet para três movimentos sociais que consideram politicamente importantes
e que militavam por:
1. Universalização da banda larga, com acesso gratuito em
espaços públicos;
2. Democratização da mídia, que inclui regulamentação das
concessões eletrônicas, apoio às rádios comunitárias, financiamento para os sem
voz e combate à propriedade cruzada, dado que nossa mídia corporativa é
controlada majoritariamente por homens brancos ricos e conservadores;
3. Neutralidade na rede, para evitar que o conteúdo do site
de O Globo ande mais rápido que o do Escrevinhador.
Dos três pontos acima os governos do PT só avançaram no
terceiro, não completa mas significativamente. Ainda assim, com riscos. Isso
porque as empresas de telefonia, que controlam a infraestrutura da internet,
devem repetir no Brasil o que fizeram nos Estados Unidos: uma tentativa de
“flexibilizar” o conceito de neutralidade na rede. Como dispõem de milhões de
reais para aplicar em lobbies no Congresso, eventualmente comprarão o que
pretendem comprar.
Nos dois primeiros pontos não houve avanços significativos,
por causa dos compromissos políticos dos governos petistas:
1. Com as empresas de telefonia;
2. Com a mesma coalizão conservadora que controla concessões
de rádio e TV nos estados e municípios (José Sarney, retransmissor da Globo no
Maranhão, é um dos exemplos).
Agora, chegou a hora de a onça beber água. Estamos, outra
vez, em período eleitoral.
O PT lança sua agência de notícias digital.
Numa entrevista a ela, o presidente do partido disse:
*****
*****
A pergunta é: foi tarde demais?
Do ponto-de-vista da realpolitik, só saberemos quando e se
Dilma Rousseff se reeleger presidente da República.
Já sabemos o que virá durante a atual campanha eleitoral.
O resumo está na capa de O Globo reproduzida no topo:
1. Mensaleiro na prisão: Genoino volta para a Papuda
2. Caso Labogen: Padilha assinou compromisso
3. Pacote de Dilma custará R$ 9 bi até o fim de 2015
4. Manutenção da política do salário mínimo terá impacto de
R$ 50 bi em 4 anos
5. Miriam Leitão: Dilma confunde crítica ao governo com
desamor ao país
6. Um Primeiro de Maio de oposição
7. [Abaixo da dobra] Público vaia petistas e atira latas
durante festa da CUT
É mais ou menos o que se viu já nas campanhas eleitorais de
2006 e 2010, porém com maior cuidado, já que as redes sociais estão aí para
desmentir as manipulações mais evidentes.
A manipulação agora se dará, acima de tudo, na escolha da
pauta, nos espaços dedicados a este ou aquele assunto, na mobilização de
recursos para esta ou aquela cobertura.
Quantos furos O Globo deu, por exemplo, no caso do escândalo
dos trens envolvendo as maiores lideranças tucanas? Quantos repórteres do
jornal estão mobilizados para apurar o esquema?
Quantos minutos o Jornal Nacional dedicou ao escândalo da
Petrobras? E ao trensalão tucano?
Para além disso, cabe também refletir sobre a dinâmica das
redes sociais: uma vez O Globo tendo noticiado que Público vaia petistas e
atira latas durante festa da CUT, por conta dos compartilhamentos a notícia
ganha ares de verdade e, a não ser que seja refutada imediatamente por quem de
direito, fica difícil contrapor depois a informação de que foram três latas ou
de que as vaias vieram de apenas parte do público ou de que o público protestou
foi contra a interrupção dos shows.
Nosso ponto: há uma nova dinâmica da informação de massa,
por conta da junção do trabalho de repórteres + editores com o dos internautas,
seja nas críticas, seja nos compartilhamentos.
Conhecemos razoavelmente as ideias que dominam a liderança
do PT no campo da comunicação.
É mais ou menos o seguinte:
1. Os jornais tem impacto eleitoral limitado, por conta de
sua pequena base de assinantes;
2. Mesmo o Jornal Nacional, por conta de sua decadência,
importa menos do que parece e está perdendo espaço para as redes sociais;
3. A melhor solução ainda é o controle remoto;
4. O ex-presidente Lula é a bomba atômica que garante
vitórias eleitorais.
O problema é que as circunstâncias de 2014 não são as mesmas
que as de 2010:
1. A crise internacional limitou o crescimento da economia
brasileira;
2. Houve a explosão de descontentamento popular em 2013 que
juntou a classe média tradicional das metrópoles com a “nova classe média” das
periferias, que quer mais e aderiu ao discurso antipetista;
3. Dilma Rousseff não tem a mesma perícia do ex-presidente
Lula para lidar com uma coalizão tão abrangente e heterogênea de interesses.
Além disso, os petistas deixaram de levar em conta dois
aspectos importantes da comunicação no mundo das redes sociais:
1. Os mesmos donos de jornais e emissoras de rádio e
televisão que promovem abertamente o antipetismo, desde muito antes do
julgamento do mensalão, também investiram muito na internet e em redes sociais;
hoje produzem material massivo, seja através de colunistas, seja através de
repórteres, para disseminação instantânea;
2. O efeito cumulativo do discurso antipetista foi acelerado
pelo fato de que as notícias e opiniões agora perseguem os eleitores 24 horas
por dia, do You Tube às manchetes que se lê no celular; em resumo, a sociedade
está de tal forma midiatizada que, apesar da queda relativa de audiência do
Jornal da Nacional e da tiragem dos jornalões, o poder de formulação da pauta
da mídia tradicional lhe dá hoje maior influência política que em 2010.
Grifamos o formulação da pauta: é por isso que o Viomundo,
desde o primeiro encontro de blogueiros, ainda em 2010, já insistia que a
produção de conteúdo próprio, independente das redações da grande mídia - algo
que requer financiamento, que o PT concentra na Globo - é o caminho.
Trocado em miúdos, com sua agência de notícias o PT dá uma
resposta depois que a imagem do partido já está profundamente desgastada pelo
trabalho demolidor da grande mídia nos últimos meses.
Além disso, do ponto-de-vista de conteúdo, o partido parece
focar em comparações estatísticas com outros tempos, por acreditar que são de
fácil assimilação, quando a resposta deveria ser política.
Espertamente, os tucanos - com a ajuda da mídia - focaram na
Petrobras, justamente um tema que poderia ser o diferenciador entre propostas
de governo, embora as diferenças tenham sido diluídas pela própria decisão de
um governo petista de promover o leilão de Libra.
Por isso, a pergunta do título: a reação esboçada pelo PT
será eficaz?
Na hora agá, nos parece que a eleição de 2014 será definida
pela grande massa de eleitores que ascendeu socialmente nos últimos 11 anos,
sem no entanto ter aderido ideologicamente ao PT ou à esquerda.
O projeto petista focou em melhorias sociais descoladas de
um projeto de politização, que passaria necessariamente por inclusão digital
universal e por democratização das comunicações como forma de escapar do
discurso único.
Agora, a “grande massa” está em jogo. De um lado
o poder da Globo + Abril + Folha + Estadão. De outro, a Agência
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